Eleita “musa da quarentena”, Rita Lobo salva famílias ao ensinar a cozinhar
Idealizadora do site Panelinha e apresentadora do Cozinha Prática, do GNT, Rita levou uma multidão a se arriscar nos preparos gastronômicos
atualizado
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“Defensora da comida de verdade”. Assim define-se Rita Lobo, chef de cozinha que é um estrondo no Instagram, na tevê e nas receitas em que coloca a mão na massa. A expressão “ela não para” cabe muito bem para a empresária à frente do site Panelinha. A página, posteriormente, tornou-se também editora de livros, produtora de conteúdo multiplataformas e marca de itens de culinária. “Musa da quarentena” e “fada desgourmetizadora” são alguns dos termos associados à apresentadora do programa Cozinha Prática, do GNT.
Os números comprovam o sucesso da paulista nas redes sociais. Somando todo os perfis (Rita Lobo, Panelinha, Cozinha Panelinha e Acervo Panelinha), são mais de 6 milhões de seguidores. No site, são em média 7 milhões de visitantes por mês. A coluna Claudia Meireles faz parte do grupo de admiradores da chef e, claro, reproduz as criações gastronômicas. A apresentadora nos concedeu entrevista sobre ter levado, literalmente, uma multidão a se arriscar nos preparos durante o isolamento social.
Nos primeiros quatro meses de confinamento domiciliar, Rita não colocou os pés na rua. “Foi difícil tomar a decisão de gravar em casa, mas era o que precisava ser feito naquele momento. Muita gente aprendeu a cozinhar ali”, rememora. Nesse período, a chef produziu no próprio lar 50 lives para as redes sociais, 30 vídeos para o YouTube e 10 episódios de 30 minutos para seu programa de televisão. Tendo como lema “dá para fazer mais e melhor”, ela continua o trabalho por acreditar ser uma transformação na vida das pessoas.
“Costumo dizer que fazemos uma revolução silenciosa, por acontecer dentro da casa! Minha equipe e eu pensamos o tempo todo como estimular as pessoas. Não é pouca coisa ver tanta gente cozinhando, mesmo diante do atual sistema alimentar. Há o privilégio do consumo de ultraprocessados. A comida industrializada, cheia de aditivos químicos, tira da mesa a comida de verdade, repleta de nutrientes, história e cultura”, pondera. A cada live, Rita via milhares de espectadores assistindo ao vivo o passo a passo de seus quitutes.
Ao longo do isolamento social, Rita contou com algumas mãos para conseguir conversar e ensinar o público. A ajudaram nas filmagens o seu marido, Ilan Kow, e o primogênito, Gabriel. Como havia finalizado o Ensino Médio, o filho atuou como câmera nos projetos caseiros. A missão de incentivar a cozinhar não serve somente ao lar dos seguidores. Gabriel e a irmã caçula, Dora, colocaram a mão na massa para a felicidade da mãezona. “Os meus filhos têm cozinhado muito mais em função dessa pandemia”.
Ao bombar no recurso das redes sociais, a apresentadora percebeu um aumento na quantidade de indivíduos que decidiu aventurar-se nos preparos na quarentena por necessidade. Inclusive, o medo da Covid-19 está entre os fatores determinantes, segundo Rita. Em 20 anos de atuação, desde o surgimento do Panelinha, a empresária e equipe se especializaram em alimentação domiciliar, quais obstáculos afastam as pessoas da cozinha e as soluções de como ter refeições balanceadas, saborosas, variadas e acessíveis.
Com o empurrãozinho das produções, a chef notou que, do outro lado da tela, as famílias ganharam autonomia para fazer melhores escolhas e têm dado conta de manter uma alimentação saudável. O fenômeno funciona como uma força motriz para Rita. Ela conhece bem os desafios de quem não sabe comandar o fogão nem a quantidade de cada ingrediente em uma receita: “Com menos de 20 anos, resolvi fazer um curso de culinária em Nova York, justamente por não saber cozinhar. Achei que essa habilidade iria fazer falta na vida adulta”.
Rita não queria ser chef, muito menos trabalhar com comida. Porém, quando começou a conhecer a alquimia da gastronomia, mudou de ideia. “Fiquei obsessiva! Queria que todos os meus amigos descobrissem o mesmo”, recorda. A atividade virou profissão, ou melhor, uma responsabilidade. “Incentivo as pessoas a entrarem na cozinha”. Se o tabu de que para colocar a mão na massa, precisa ter dom, a apresentadora traz na ponta da língua: “isso é papo para não aprender”, pondera.
Todos os membros de uma casa devem atentar-se à alimentação, de acordo com Rita. Um pê-efe básico é de lei saber fazer. “Arroz, feijão, duas hortaliças e, para quem come, alguma carne”, sustenta. Aos aprendizes, ela está aberta a ensinar, responder questionamentos e ajudar a variar o cardápio. “Para a turma que está chegando agora, as dúvidas costumam ter a ver com o próprio erro: ‘Por que meu bolo não deu certo?’. Perguntam muito sobre temperar a comida. Já respondi a praticamente todas as dúvidas possíveis em 20 anos”, confessa.
Uma parte dos milhões de admiradores da “musa da quarentena” criaram o primeiro contato com a culinária a partir do encorajamento da apresentadora. Atualmente, eles são verdadeiros mestres-cucas. “Sem a referência de comida de casa, fica um pouco perdido na hora de começar”, analisa. Além das receitas de fato funcionarem, Rita mantém uma proximidade com os seguidores e os cativa com boas pitadas de bom-humor, seja nas postagens, seja nos vídeos e lives.
Segundo Rita, quem está habituado com seu conteúdo, e já sabe preparar as refeições no dia a dia, entra automaticamente no Panelinha, digita o ingrediente ou o nome do prato na busca do site e escolhe entre as opções. Independente de ser um novo aprendiz ou mestre-cuca, cada curtida, comentário ou mensagem é avaliado pelas mentes pensantes do site. O público conta, direta ou indiretamente, quais são suas dificuldades pelos recursos das plataformas.
A equipe Panelinha firmou parceria com o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP. Como o conteúdo protagonizado por Rita é consumido por milhares de indivíduos, a colaboração tem como propósito auxiliar a identificar problemas de alimentação no âmbito nacional. O órgão de estudos atua como assistência científica: “Percebemos que, entre os nossos usuários adeptos do arroz e feijão diariamente, o consumo de hortaliças ainda era baixo. Batemos essa informação com os dados do Nupens. Vimos que o hábito ia além do nosso público”.
Ao descobrirem a lacuna, chef e equipe decidiram pensar em iniciativas a fim de estimular a inclusão dos alimentos nas refeições. O resultado foi o projeto O que tem na geladeira?. “Selecionamos as 30 hortaliças mais comuns no país e, para cada uma delas, ensinamos os diferentes cortes, métodos de cozimento possíveis e combinações de sabor clássicas”. A empreitada rendeu quase 200 receitas no site, série com 30 episódios no YouTube e um livro. A publicação atingiu a primeira posição entre os mais vendidos de não ficção do ranking da revista Veja.
Como uma verdadeira mentora da “comida de verdade”, Rita afirma que produtos ultraprocessados não entram em sua cozinha por estarem relacionados ao aumento de doenças associadas à má-nutrição. Obesidade, hipertensão e câncer são apenas algumas das comorbidades exemplificadas. “Os nomes mais parecem vindos do laboratório do que da cozinha de casa? É um ultraprocessado. As formulações industriais são desbalanceadas nutricionalmente, porque contêm sal, açúcar e gordura em excesso”, caracteriza a chef.
Projetos
A dedicação, esforço e foco da paulista durante a pandemia rendeu novos frutos, como o livro Rita, Help! Me ensina a cozinhar. “Durante os primeiros meses da quarentena, escrevi newsletters diárias com dicas e receitas e também fotografei com o meu celular todo o conteúdo dos projetos de audiovisual. Ao fim de quatro meses, tinha um material bruto para um baita livro. Mas estava evidente que ele não poderia ser tão luxuoso como os meus outros títulos”, destaca.
Lançado em julho, o título ainda na pré-venda conquistou o primeiro lugar entre os mais vendidos da Amazon. No ponto de vista da autora, o segredo do sucesso da obra é entregar o que promete: “Um manual para quem quer aprender a cozinhar”. Com o Rita, Help!, a apresentadora coleciona 11 livros publicados, sem contar as 18 temporadas diferentes do Cozinha Prática, do GNT, e as séries do site. No ritmo “não para”, ela também tem aplicado sua expertise e criatividade em novidades prestes a saírem do forno.
A apresentadora trabalha atualmente no novo Panelinha, livrão com mais de 400 páginas; uma coleção de pratos do Acervo Panelinha; a temporada do Cozinha Prática de 2021; e um outro formato de série também para o GNT. “É bastante coisa! Ah, ainda tem o lançamento de uma nova coleção de têxteis, com toalhas, guardanapos, panos de pratos, todos portugueses”, revela. “Cozinhar era meu assunto antes de virar moda, e vai continuar sendo, quando a onda passar”, finaliza a “fada desgourmetizadora”.
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