David Spiegel explica como a auto-hipnose te ajudará a viver melhor
O psiquiatra David Spiegel pretende acabar com o ceticismo direcionado à hipnose. A técnica colabora com o controle da ansiedade
atualizado
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Soltar a palavra hipnose em uma roda de conversa tende a gerar burburinho. Afinal, o assunto está envolto de tabus, mas o psiquiatra David Spiegel pretende acabar com o ceticismo direcionado ao tema. O profissional é o diretor do Centro de Medicina Integrativa da Universidade de Stanford, nos EUA. Expert de renome mundial, ele tem mais de 40 anos de experiência clínica e de pesquisa com hipnose, psicoterapia e fisiologia do estresse.
Na avaliação do especialista, o método ocorre frequentemente e de modo comum: “O estado hipnótico é parecido com o que acontece quando você fica distraído, lendo um livro ou vendo um filme”. Spiegel considera a situação anterior como um tipo de hipnose mais fraca. Ao subir de nível, o procedimento se enquadra como uma forma de colaborar com o tratamento de traumas, dores crônicas e outras doenças.
Benefícios
Caso tenha pensando em recorrer aos benefícios da técnica com um profissional, o psiquiatra traz a auto-hipnose guiada para o debate. Ao participar do podcast Huberman Lab, o médico ressaltou que fazer o método em si “pode reduzir o estresse e melhorar o sono”. Em palestra no Fórum Econômico Mundial (FEM) em 2018, Spiegel foi categórico ao dizer que o procedimento influencia a saúde e o modo como “nos sentimos”.
Em 2020, o The American Journal of Medicine publicou o estudo Hipnose: o tratamento mais eficaz que você ainda não prescreveu. A pesquisa leva a assinatura dos médicos Jessie Kittle e David Spiegel. Na investigação, os médicos notaram que a técnica foi primordial no controle do estresse, insônia e ansiedade de desempenho, além de evitar que os pacientes se submetessem ao uso de medicamentos “fortes”.
“Quando a técnica da hipnose estiver devidamente iluminada, seu papel será bem recebido e respeitado por nossos pacientes. Eles se beneficiarão com menos dor, ansiedade, insônia, hábitos como fumar e os efeitos colaterais que acompanham muitos tratamentos farmacológicos”, esclareceram Spiegel e Kittle. De acordo com o especialista, essa modalidade de tratamento “está sob alçada da medicina”.
Ao longo do estudo, os psiquiatras enfatizaram que “a hipnose médica é bastante aceitável pelos pacientes”, contudo, em relação ao indivíduo fazer a técnica em si requer atenção. “Vídeos de hipnose on-line possuem de 15 a 19 milhões de visualizações. Mas não se pode esperar que os pacientes diferenciem entre fontes legítimas e manipuladoras. Nosso dever é proporcionar um acesso seguro. Para isso, devemos melhorar a oferta”, ponderaram.
Testado e aprovado
À frente do podcast O guia do desempenho ideal, Rory Cordial convidou Spiegel para uma conversa sobre o método. O apresentador defendeu a prática da auto-hipnose por ser um recurso acessível “a qualquer hora”. No ponto de vista do fisioterapeuta, adotar a técnica “cria mudanças profundas no próprio estado de ser”: “Você pode direcionar especificamente e conscientemente os hábitos que deseja mudar e modular a dor no corpo”.
Como fazer?
Segundo a Sociedade Brasileira de Hipnose (SBH), a auto-hipnose é uma maneira de conseguir estar altamente focado e com alta disposição em receber sugestões positivas para atender seus objetivos. “Não tem nada a ver com perda do controle da mente; lavagem cerebral; dormir; ficar inconsciente; e um estado místico”, frisou a instituição em um guia completo de autotranse do básico ao avançado.
A capacidade de entrar em transe é denominada de hipnotizabilidade, conforme destacou David Spiegel. O psiquiatra reforça ser uma característica estável pertencente pela maioria das pessoas, podendo ser iniciada ou encerrada pelo paciente. Indivíduos diagnosticados com esquizofrenia ou que sofreram acidente vascular cerebral não podem ser submetidos ao procedimento.
A seguir, confira um passo a passo de como fazer o autotranse. O roteiro foi feito pela Sociedade Brasileira de Hipnose (SBH).
1 – Sente-se em uma cadeira confortável com pernas e pés descruzados. Antes de recorrer à técnica, evite comer muito a fim de não se sentir inchado. Também recomendam não deitar, porque provavelmente você irá dormir. Opte por roupas leves e fique sem sapatos. Não esqueça de retirar as lentes de contato.
2 – Olhe para o teto e respire fundo. Sem esticar o pescoço para trás, escolha um ponto no teto e foque o olhar nele. Enquanto mantém os olhos fixos no “sinal”, respire profundamente e segure o ar por um momento. Em seguida, expire. Conforme sugere a SBH, repita a seguinte expressão silenciosamente: “Meus olhos estão cansados e pesados. Eu quero entrar em auto-hipnose agora”.
O ideal é repetir a frase algumas vezes. Se os olhos demorarem a ficar pesados, deixe-os fechados e relaxe em uma posição normal. Ao reiterar a máxima, lembre-se de falar com vontade, mas sem pressão. “Diga de forma suave e calma, mas de forma convincente”, orienta a Sociedade Brasileira de Hipnose.
3 – Deixe o corpo relaxar. Permita-se ficar como uma boneca de pano, mole e solta, na cadeira. Depois, lentamente, conte em silêncio de cinco até zero. A cada contagem, você ficará mais em repouso. Mantenha-se nesse estado durante alguns minutos enquanto se concentra na respiração. Um lembrete: quanto menos tentar, mais tranquilo ficará.
4 – Quando estiver pronto, volte para a sala contando de 1 a 5. Faça a sequência de maneira animada e enérgica. Ao chegar no número 5, abra os olhos, além de esticar os braços e os pés. “Repita esta técnica três ou quatro vezes e observe como, a cada vez, você irá atingir um nível mais profundo de relaxamento”, explicou a SBH.
Há meios de criar o ambiente ideal para a autotranse, como acender uma vela, deixar a temperatura em 23ºC e procurar um espaço sem barulhos. De acordo com Spiegel, a auto-hipnose não tem algo de extraordinário, na verdade, funciona como um mecanismo que integra o funcionamento do cérebro. “A hipnose é para a consciência o que uma lente teleobjetiva [com grande distância focal] é para uma câmera”, comparou o psiquiatra em uma palestra em 2015.
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