DAO: conheça a organização governada por códigos ao invés de líderes
A ideia da entidade autônoma é se livrar de intermediários em operações financeiras
atualizado
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Uma entidade autônoma descentralizada, ou DAO, é uma organização governada por um código ao invés de líderes. É o caso de projetos como Axie Infinity, The Sandbox, Descentraland. Isso significa que quem decide o rumo do desenvolvimento da plataforma é a comunidade por meio de votos e referendos, se livrando de intermediários nas operações financeiras.
Ela é uma forma de entidade ou empresa baseada em blockchain que, muitas vezes, é governada por um token de criptografia nativo. Qualquer pessoa que compre e mantenha esses tokens ganha a capacidade de votar em assuntos importantes diretamente relacionados ao DAO. Eles normalmente usam os contratos inteligentes (Smart Contracts ) no lugar de estruturas corporativas tradicionais para coordenar os esforços e recursos de muitos em direção a objetivos comuns. Estes são programas de computador auto-executáveis que operam uma função específica quando certas condições são atendidas.
A ideia é que, se o bitcoin pode acabar com os intermediários em pagamentos on-line, será que a mesma tecnologia poderia fazer o mesmo para os intermediários nas empresas? E se organizações inteiras pudessem existir sem um líder central ou CEO administrando?
Os defensores argumentam que uma vantagem inerente dessas instituições descentralizadas é que elas permitem a construção de organizações mais justas do que as de propriedade humana. Atualmente, a maioria das empresas tem líderes que às vezes tomam decisões unilaterais que afetam toda a corporação. Uma DAO tornaria esse tipo de tomada de decisão impossível; as partes interessadas (ou seja, investidores na empresa) têm controle mais direto sobre como a empresa deve operar.
Muitos veem as DAOs como uma maneira de garantir a democracia de forma mais rigorosa. As partes interessadas podem votar em alterar ou adicionar novas regras e até expulsar um membro, por exemplo. E a organização, simplesmente, não poderá mudar a menos que o limite necessário de pessoas votem na mudança.
Algumas características propostas de uma DAO incluem:
- Sem hierarquia: muitas vezes não há gerenciamento hierárquico. As partes interessadas geralmente tomam decisões em vez de líderes ou gerentes.
- Transparente: ela é de código aberto, o que significa que qualquer um pode olhar para ela. No blockchain, qualquer pessoa pode percorrer o histórico para ver como as decisões foram tomadas.
- Acesso aberto: qualquer indivíduo que tenha internet pode manter tokens DAO ou comprá-los, dando-lhes assim poder de tomada de decisão.
- Mudanças democráticas: os investidores podem alterar as regras da organização descentralizada votando em novas propostas.
- Recrutamento: uma DAO poderia, teoricamente, contratar talentos externos, já que ainda há tarefas que apenas humanos podem executar. Por exemplo: um carro sem motorista estilo um Uber autônomo.
Ao contrário do que acontece nas empresas centralizadas, as quais temos modelos chamados de “jardim murado”(caso do Facebook), que possuem um sistema de governança próprio com linhas de fronteiras específicas. Acontece que essas instituições nos geram um questionamento: “Quanta liberdade os usuários terão dentro dessas plataformas?” Alguns casos do passado, como descreve o episódio do Cambridge Analítica nos geram um alerta a respeito do compromisso real dessas empresas em relação à segurança de seus usuários.
Desvantagens e críticas
Um código imparável pode representar um problema de segurança. É difícil mudar as regras da DAO uma vez que ela é implementada no blockchain Ethereum. A mesma estrutura que impede uma pessoa ou entidade de alterar a organização sem o consenso da comunidade também pode causar problemas se algumas lacunas na estrutura não forem facilmente fechadas. Isso pode levar a um potencial roubo, perda de dinheiro ou outras consequências desastrosas.
A MIT technology review considera a ideia de confiar a um grande grupo as decisões financeiras mais importantes é ruim e não tem a probalidade de dar um bom resultado. Em seu artigo, eles dizem que algumas coisas precisam mudar no mundo para que projetos relacionados com DAO’s tenham algum sucesso. O que não deixa de ser um sentimento conservador de que as massas não podem ser encarregadas de investimentos.
Conclusão
Não se pode negar que o conceito é bem empolgante, disruptivo e busca resolver tudo o que há de errado com a forma como as organizações modernas são gerenciadas. Nela, não há uma estrutura hierárquica, o que significa que todas as ideias inovadoras podem ser apresentadas por qualquer pessoa e consideradas por toda a organização.
Além disso, como o investidor irá gastar uma certa quantia de dinheiro, isso o faz avaliar suas decisões e não desperdiçar seu tempo com soluções ineficazes. Quem possuir tokens sempre vai querer o melhor da empresa. Com a operação em alta, os tokens automaticamente se valorizam. Isso faz com que as pessoas que estejam envolvidas nas escolhas que traçarão o caminho da startup optem sempre por decisões que sejam as mais assertivas possíveis.
(*) Caroline Kalil é consultora de direito digital, investidora de criptomoedas, colecionadora de NFTs com certificação em KYC Blockchain Professional pela Blockchain Council, e blockchain development pela Consensys, além de autora do e-book O Metaverso Simplificado
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