Dá para ser vegano, como Wanessa, e ganhar massa magra? Tire a dúvida
O estilo de vida de Wanessa Camargo gerou discussão dentro e fora no BBB24. Afinal, qual é a filosofia por trás do veganismo?
atualizado
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O veganismo de Wanessa Camargo gerou discussão dentro e fora no BBB24, na última terça-feira (9/1), uma vez que durante a preparação do almoço na casa, Davi sugeriu colocar linguiça calabresa no feijão, sendo advertido, logo depois, por Leidy Elin, de que a ideia não seria legal, visto que a cantora não come carne e derivados.
A cena, contudo, levou o namorado de Wanessa, Dado Dolabella, às redes sociais para desabafar sobre a forma como os participantes do reality estão tratando a parceira. “Já estão sacaneando a bichinha”, declarou em um vídeo nos Stories do Instagram.
Afinal, qual é a filosofia por trás do veganismo? Será que a famosa conseguirá ir até o fim do programa sem desistir das restrições alimentares impostas por esse estilo de vida? No fim das contas, é de praxe que o Big Brother Brasil tenha comida limitada, principalmente quando se está na xepa.
Para esclarecer essas dúvidas, a Coluna Claudia Meireles recorreu ao nutricionista ortomolecular Alessandro Palatucci Bello. Segundo ele, o veganismo é uma filosofia de vida “muito interessante”, desde que se suplemente os nutrientes muitas vezes encontrados em origem animal.
De acordo com a Associação Brasileira de Veganismo, o conceito, basicamente, significa “humanos não explorarem outros animais, promovendo o estilo de vida vegano para benefício das pessoas, animais e meio ambiente”.
Na prática, o estilo de vida vegano dispensa todos os produtos derivados de animais:
- Não comer carnes de todas as cores e tipos, ou alimentos de origem animal ou que contenham qualquer resíduo: leites, queijos, manteiga, salsichas, ovos, albumina, mel, banha, corante cochonilha, gelatina, etc;
- Não vestir roupas ou sapatos feitos de partes dos corpos de animais: couro, seda, lã, etc;
- Evitar o consumo de cosméticos e medicamentos testados em animais ou que contenham componentes animais na formulação: sabonetes feitos de glicerina animal, maquiagem contendo cera de abelha, xampu com tutano de boi, etc;
- Não apoiar diversões contendo exploração animal, como rodeio, circo com animais, rinhas, etc;
- Profissionalmente, não trabalhar com exploração animal (vivo ou morto), como venda de animais em pet shop, lojas de aquário ou gaiolas para passarinhos, venda de qualquer produto que contenha derivado animal (ex. bolsas e sapatos de couro), restaurante que utilize animais ou seus resíduos corporais como comida, dentre outras atividades.
Ponto de vista nutricional
Conforme Alessandro elucida, o veganismo, sob uma visão nutricional, se trata de uma dieta na qual não há consumo de alimentos de origem animal, sendo, então, baseada em legumes, frutas, feijões, aveias, cereais, castanhas e folhas, por exemplo.
“Essa alimentação precisa ser balanceada, com uma boa orientação profissional, pois o nosso corpo necessita de várias substâncias para que tenha funcionamento bioquímico e metabólico de forma eficiente. E muitas delas são adquiridas por meio de alimentos com base animal. Então, há maneiras de você fazer essa substituição, para evitar deficiências”, afirma.
Na opinião do especialista, visto que a maior parte das proteínas são adquiridas por meio da alimentação de origem animal, a pessoa vegana poderá ter deficiência, por exemplo, de vitamina B12, ferro, cálcio e zinco. Entretanto, há ingredientes substitutos que podem fazer essa reposição. “Existem, também, suplementos que podem ajudar”, fala Alessandro.
O nutricionista explica que a vitamina B12 está relacionada à saúde cognitiva e do coração, como também auxilia no metabolismo dos carboidratos e proteínas, ajuda o corpo a produzir mais hemoglobinas, o que torna o transporte de oxigênio melhor. “A ausência dessa vitamina no organismo leva a várias condições, como apatia, problemas intestinais, falta de memória e doenças cardiovasculares e cardiorrespiratórias”, frisa.
O indivíduo também precisa se certificar da obtenção suficiente de ferro, segundo o profissional. A boa notícia é que diferentes alimentos vegetais são fontes desse mineral essencial, a exemplo de feijão, lentilha, tofu, quinoa e folhas verdes escuras.
“Lembrando que é importante refogar ou fazer branqueamento dessas folhas, como o espinafre, e nunca comê-las cruas, pois elas têm fitato, um antinutriente que diminui a absorção da proteína e do iodo pelo organismo, o que deixa, também, a tireoide mais lenta”, alerta.
O cálcio é outro mineral que precisa ser acompanhado. Ele pode ser reposto com folhas verdes escuras, como couve, além de brócolis e amêndoas.
“Outros ingredientes que têm proteínas são as leguminosas, nozes, sementes, grãos integrais, arroz, feijão, ervilha, grão-de-bico e ora-pro-nóbis”
Alessandro Palatucci Bello
Uma vantagem da dieta vegana, na concepção do profissional, é a desinflamação do intestino, em razão da alta ingestão de fibras oriundas de frutas, verduras, legumes e oleaginosas. “Essa dieta ainda pode ajudar na prevenção de doenças crônicas, como a diabetes tipo 2, que está relacionada à resistência à insulina e ao alto consumo de carboidratos simples, ricos em açúcares”, acrescenta.
Por outro lado, regimes veganos mal planejados podem levar a várias deficiências, de acordo com o especialista, sem contar com a baixa ingestão de aminoácidos essenciais, que são necessários para a construção de tecidos, o reparo tecidual, a produção de colágeno, cicatrização, entre outras funções.
“Mais uma vez eu enfatizo que a pessoa tem que ter acompanhamento com um profissional que entenda do assunto, para trazer os benefícios de uma alimentação que não seja de origem animal”, lembra.
Desafios desse estilo de vida
Questionado sobre os desafios que a cantora Wanessa Camargo poderá enfrentar no BBB24 no que diz respeito ao veganismo, Alessandro acredita que ainda existem dificuldades ao se seguir esse estilo de vida, apesar de que, atualmente, isso tem sido mais fácil em comparação a anos atrás.
“Uma pessoa vegana continua tendo dificuldade em encontrar produtos veganos e manter esse estilo de vida, principalmente em relação à convivência social com outras pessoas não-veganas. Pois nem todo mundo entende isso”, analisa.
Para o nutricionista, o caso ocorrido no reality show não deveria ser um problema, na verdade. “É só fazer a comida dela separada. Mas há muito preconceito e falta de informações, ainda, sobre o assunto”, defende.
Um dos mitos envolvendo o tema, segundo Alessandro, é que a pessoa vegana não consegue ganhar massa magra. “Isso já foi descartado. Tem, sim, como você ser vegano e hipertrofiar. Uma coisa não impede a outra”, manifesta.
O especialista ainda comenta que é possível, sim, que a cantora mantenha a linha do veganismo, sem abrir mão desse estilo de vida. “Uma pessoa vegana consegue se alimentar sem incomodar os outros. Ela vai comer arroz, feijão, normalmente. Se ela já tem essa vivência há muito tempo e um acompanhamento nutricional, ela já sabe calcular quais necessidades de macro e micronutrientes que o corpo dela necessita”, observa.
“Já que ela não come carne, é só não colocar a linguiça no feijão. Coloque apenas no seu prato. Isso é compreensão, é parceria, respeito. Temos que pensar no próximo”, constata o profissional.
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