Conheça Babu Cunha, poeta por trás dos textos do perfil J de Jabuticaba
Os poemas, publicados no Instagram, ganham os leitores pela eloquência. Babu revelou suas inspirações para criar os textos intimistas
atualizado
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Abrir o Instagram, “rolar” o feed e se deparar com uma poesia que traduz os sentimentos do momento com uma exatidão de palavras, por ora, impressionante. É raro encontrar algum usuário da rede social que não se identifique com a situação. Em meio à variedade de versos e estrofes disponíveis em formato de posts, um perfil chama a atenção pelos “poemas (e textos) baseados em fatos reais… Ou não”, como se define. Por trás das frases encaixadas como em um quebra-cabeças, há a inspiração da escritora Babu Cunha.
A poeta criou o perfil J de Jabuticaba. Os textos passeiam pelas ferramentas do Instagram, como o Story, e ganham os leitores pela eloquência. A coluna Claudia Meireles também encontrou-se nas palavras escritas por Babu. Ela concedeu uma entrevista sobre suas inspirações para criar os poemas, definidos pelos leitores como encantadores, e surpreender quem se reconhece nos trechos.
“Tudo e todos me inspiram a escrever. Minha maior motivação são meus próprios sentimentos. Pensamentos abstratos, acontecimentos marcantes, pessoas marcantes, amores, angústias, paixões e decepções. Até a Lua me inspira. Muito, inclusive”, entrega. Em alguns poemas, as vivências pessoais abrem espaço a histórias, sensações ou experiências alheias.
À procura de desafios, Babu gosta de exercitar o lado de escrever sobre instantes vividos pelas pessoas ao seu redor, apesar de ser um pouco mais complexo o processo de criação: “É muito mais difícil tentar entender e pôr no papel um sentimento que não é seu”. Antes de dar o start no perfil J de Jabuticaba, a poeta já trazia na bagagem de vida uma intimidade com poemas. O contato com a arte começou ainda na infância.
“Desde criança, sempre usei a escrita como uma forma de me expressar. Escrevia cartas, textos, histórias… Todavia, o meu forte sempre foram os poemas. Aos 7 anos, comecei a escrever músicas, que não deixam de ser poemas melódicos. Não consigo lembrar bem as temáticas. No que se passaram os anos, quando tinha por volta de uns 11, percebi que eu não tinha talento musical algum e decidi ‘migrar’ para a poesia”, confessa.
Recentemente, Babu lembrou-se de um diário da infância. Nele, ela não resenhava sobre as experiências do dia no modelo tradicional mas, sim, em formato de poesia. “Naquela idade, eu nem tinha noção disso, sempre foi algo automático para mim”, rememora. No livro de confidências, a artista escreveu o primeiro poema marcante, na ocasião, relatou angústias pessoais: “Eu era uma criança um pouco profunda (risos), e como não me sentia compreendida no ‘meu mundo’. Aquele grito interno que ninguém consegue ouvir, sabe?”.
Como todo bom escritor, a fundadora do J de Jabuticaba mergulha em livros e nas obras de autores aclamados. Carioca de nascimento, ela diz ter uma “queda 100% literária” por Vinicius de Moraes. Apelidado de Poetinha por Tom Jobim, ele foi o responsável por brotar a semente da poesia em Babu. “Não vou a lugar algum sem meu livro de Sonetos”, revela.
Na lista de referências da poeta constam os nomes de Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Manoel de Barros, Hilda Hilst, Manuel Bandeira, Alice Ruiz, Ana Cristina César, Paulo Leminski, Fernanda Young e Mario Quintana. Escritores internacionais também integram o “elenco”, como: E. E. Cummings, Charles Baudelaire, Sylvia Plath, Pablo Neruda, Franz Kafka, Fyodor Dostoevsky, Charles Dickens, F. Scott Fitzgerald, Rui Caeiro, Jane Austen, Edgar Allan Poe e Maya Angelou.
Babu afirma que poderia “ficar na lista de autores para sempre”, mas optou por citar os principais. “Sou muito eclética nas minhas leituras. Ao mesmo tempo que meu coração sempre baterá um pouco mais forte por livros de poesia, adoro ler contos, romances, crônicas, e tudo isso me inspira na hora de escrever”, destaca.
J de Jabuticaba
Ao ser questionada sobre a última leitura, Babu menciona título O que eu faço com a saudade?, de Bruno Fontes. Segundo a poeta, o autor tornou-se um de seus favoritos atualmente pela forma leve e cativante de se expressar. “Bruno é um poeta que já me inspirava bastante. Conheci seu trabalho pelo Instagram e me identifiquei imediatamente”, garante.
Ter um livro com Babu Cunha na capa está entre as aspirações da poeta. “Sempre foi uma meta minha, mas mantive esse sonho guardado ‘na gaveta’ pois não sentia, ainda, que era o momento ideal para fazê-lo. O livro vem! Não sei dizer quando, mas é uma certeza que tenho em mim. E se tudo der certo, não será somente um”, almeja.
O objetivo voltou a inquietá-la há alguns meses, porém, concluir uma publicação literária requer tempo e, por ser imediatista, a escritora apostou em uma ideia descomplicada: o perfil J de Jabuticaba. O insight de criar a conta focada em poesia no Instagram ocorreu após uma amiga e escritora elogiar um dos textos de Babu: “Nunca havia dividido o meu trabalho com ninguém e decidi começar a postar alguns poemas no meu perfil pessoal do Instagram”.
Ao receber o feedback, ela se viu motivada a compartilhar o seu trabalho com outras pessoas, mas no J de Jabuticaba. Devido ao termo escolhido, amigos e apreciadores dos poemas costumam achar que Babu ama a fruta, por incrível que pareça, ela não aprecia a iguaria tipicamente brasileira. O título deriva de uma homenagem feita a uma pessoa importante da vida da poeta.
“Na realidade, ‘jabuticaba’ é apenas um pseudônimo. Aliás, o nome partiu do primeiro poema que postei no meu perfil, J de Jabuticaba, que diz: “[…] Ah, meus olhos de jabuticaba… Eu não gosto de jabuticaba. Eu gosto de você. […]”, explica Babu. A composição em verso chama-se Melancolia.
A escritora faz questão de ler e responder carinhosamente cada mensagem enviada na conta. No perfil, Babu recebe comentários de quem se sentiu tocado com seus textos, satisfação descrita por ela com entusiasmo: “É muito gratificante! Hoje em dia, nada me deixa mais feliz do que ouvir alguém dizer que se identificou com algo que escrevi. Me realizo ao ver as pessoas compartilharem poemas meus, muitas vezes sem me conhecer”.
Na maioria das vezes, os leitores revelam que Babu os ajudou a pôr em palavras os próprios sentimentos. Geralmente, escrevem que os poemas parecem terem sido feitos para eles e, de alguma forma, encontraram um conforto. “Muito bom ver o seu trabalho afetar os outros de forma positiva”, enfatiza. A arte a atraiu por peculiaridades, como ritmo, ênfase, repetições e de poder criar com as próprias regras. “Na poesia não existe julgamento. Nem a gramática pode controlar um poeta”, descreve o ofício.
Definida por si própria como uma pessoa 100% noturna, Babu não faz preparação para escrever as composições literárias. Dentro da bolsa, sempre existem um caderninho e uma caneta. Quando os itens não a acompanham, é hora de ativar o bloco de notas do celular. “Sou uma pessoa intensa e sensível e vivo agudamente todos os meus sentimentos. Os poemas simplesmente “chegam” até mim. Paro tudo e escrevo em uma questão de minutos. Não tem hora e nem momento certo e essa é a melhor parte”, finaliza.
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