Confira as últimas novidades sobre medicamentos para tratar obesidade
A endocrinologista Daniela de Paiva revela tudo o que você precisa saber a respeito da chegada desses medicamentos ao Brasil e os custos
atualizado
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Os nomes Mounjaro, Wegovy e Ozempic nunca estiveram tão em voga. Mesmo com sua “recente chegada às prateleiras das farmácias”, esses medicamentos — utilizados por muitas pessoas como ferramentas de combate à obesidade — repercutiram de uma forma grandiosa Brasil afora.
Afinal, quais são permitidos no país? Quais estão chegando por aqui? Há uma possibilidade de queda de preço? E como fica a questão dos planos de saúde e do SUS? Eles podem cobrir o tratamento?
Em conversa com a médica especialista em Endocrinologia e Metabologia Daniela de Paiva, a Coluna Claudia Meireles descobriu as últimas atualizações a respeito desses e de outros medicamentos muito buscados pelos que estão em busca de perda de peso.
Confira:
O Mounjaro é um dos nomes fantasias da tirzepatida (princípio ativo do medicamento), enquanto Wegovy e Ozempic são os nomes fantasias (marcas comerciais) da semaglutida, outro princípio ativo, com diferentes indicações em bula e em diferentes doses. “O Ozempic é para tratamento do diabetes tipo 2 e com doses menores (até 1 mg). Já o Wegovy é para tratamento da obesidade e com doses maiores (até 2,4 mg)”, informa.
Esses medicamentos atuam de forma semelhante no organismo, simulando ações de hormônios que produzimos no intestino, denominados “incretinas”. “Eles têm como principais efeitos o controle da glicemia — através do aumento da secreção de insulina e diminuição do glucagon no pâncreas — e perda de peso — através da redução do apetite por ação no hipotálamo (centro de controle do apetite no cérebro) e atraso no esvaziamento dos alimentos no estômago —”, explica a médica.
“Enquanto a semaglutida (Wegovy e Ozempic) atua como análogo de apenas um desses hormônios, o GLP-1 (Glucagon-like Peptide-1), a tirzepatida (Mounjaro) atua como análogo de dois hormônios, o GLP-1 e o GIP (Gastric Inhibitory Peptide), sendo, por isso, chamada de ‘análogo dual”, diz Daniela.
Conforme a endocrinologista pontua, todos esses produtos são de uso subcutâneo (injetável) e com posologia semanal, ou seja, cada aplicação tem duração de 1 semana. “São medicamentos muito potentes e com ótimos perfis de segurança, porém a tirzepatida se mostrou superior à semaglutida nos estudos, tanto no controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2, quanto na perda de peso em pacientes com obesidade e sobrepeso”, faz um adendo.
“Enquanto a perda média de peso com a semaglutida, nos estudos de fase 3 para obesidade, foi em torno de 17%, com a tirzepatida, a perda média foi em torno de 25% do peso inicial”
Daniela de Paiva, endocrinologista
Aprovação no Brasil
Segundo a médica, o Ozempic foi aprovado para o tratamento de diabetes tipo 2 em dezembro de 2017 pelo Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos. Em janeiro de 2019, o mesmo ocorreu pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) no Brasil.
Já o Wegovy teve sua aprovação para tratamento da obesidade em junho de 2021 nos Estados Unidos, e, em janeiro de 2023, no Brasil.
“A tirzepatida, com o nome comercial Mounjaro, foi aprovada pelo FDA para o tratamento de diabetes em maio de 2022, e para obesidade, em outubro de 2023, com o nome comercial Zepbound”, conta a especialista. “No Brasil, a ANVISA só aprovou até o momento o Mounjaro, em setembro de 2023. O Zepbound ainda está em processo de aprovação”, acrescenta.
Curiosamente, as indústrias farmacêuticas que detêm as patentes dessas medicações deram nomeações diferentes para os mesmos princípios ativos, mas com indicações distintas em bula. “No caso da semaglutida, também com diferentes doses, como citado acima”, ressalta a médica. Isso ocorreu, conforme ela justifica, porque a realização e a conclusão dos estudos de fase 3, que levaram a aprovação para diabetes tipo 2, antecederam os estudos para obesidade, sendo, por isso, aprovados e lançados em momentos diferentes.
“E dar uma nomeação comercial diferente para um mesmo princípio ativo, com diferentes indicações em bula, usualmente é um processo mais rápido e menos complexo para a sua aprovação pelas entidades regulatórias do que a inclusão de uma nova indicação terapêutica na bula de um medicamento já existente”, continua.
Preços
Até o momento, apenas o Ozempic é comercializado no Brasil. Mas Daniela antecipa que o lançamento e a comercialização do Wegovy ocorrerá em agosto deste ano, segundo informações da empresa fabricante Novo Nordisk. “Já quanto ao Mounjaro, ainda não temos uma previsão certa dada pela empresa fabricante Eli Lilly, e as projeções são de que só chegará às farmácias do Brasil em 2025”, afirma.
Um dos maiores desafios no tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2 com essas novas classes de medicamentos, para a profissional, sem dúvida, é o elevado custo financeiro. “O preço do Ozempic praticado atualmente nas farmácias nacionais gira em torno de R$ 900 a R$ 1.367, que é o Preço Máximo ao Consumidor (PMC) atualmente estipulado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED)”, confirma.
“Sendo que a caneta com doses menores de 0,25 mg e 0,5 mg tem um custo, em geral, R$ 200 menor do que a caneta de 1 mg. E cada caneta tem duração média de 4 a 6 semanas, de acordo com a dose individualizada prescrita pelo médico assistente”, complementa.
De acordo com a endocrinologista, ainda não se tem uma precificação exata fornecida pelas empresas fabricantes dos que irão chegar ao Brasil. “Pela PMC da CMED atual, o Wegovy poderá custar até R$1.284 nas doses menores (de 0,25 mg a 1 mg), R$ 2.047 na dose 1,7 mg e R$ 2.634 na dose máxima de 2,4 mg, com duração média de 4 semanas”, esclarece.
“E o Mounjaro, pela PMC atual, poderá custar até R$ 4.009, sendo esse valor aplicável a todas as doses (desde a dose mínima de 2,5 mg, à dose máxima de 15 mg), e com duração de 4 semanas por apresentação”, aponta.
Genéricos, planos de saúde e SUS
Questionada sobre a possibilidade de os preços desses fármacos caírem com o passar do tempo, Daniela de Paiva responde que sim, os profissionais de saúde têm algumas “perspectivas futuras de redução de custo e de facilitação do acesso a esses medicamentos”. Uma delas é o surgimento de produtos similares e genéricos, que deverá ocorrer somente após a perda ou venda das patentes pelas empresas que as detêm atualmente.
Uma outra possibilidade, para a médica, é o subsídio de parte do tratamento por planos de saúde, o que já ocorre em alguns lugares, como nos EUA e alguns países da Europa — além de algumas poucas seguradoras no Brasil. “E outra, que vejo ainda como um grande desafio, é a incorporação desses medicamentos pelo programa do SUS que disponibiliza medicamentos de alto custo, o CEAF (Componente Especializado da Assistência Farmacêutica)”, comenta.
“Por enquanto, só temos a previsão da chegada do medicamento similar da liraglutida mesmo. Dos demais, a previsão é de surgirem só após a perda ou venda das patentes, sendo que a Novo Nordisk perderá a da semaglutida em 2026”
Daniela de Paiva, endocrinologista
Para a especialista, a questão dos subsídios para os tratamentos de diabetes e obesidade com esses medicamentos por parte dos planos de saúde no Brasil é desafiadora, embora ela enxergue uma “luz no fim do túnel”. “É possível de ocorrer à medida que as seguradoras de saúde tenham claros os impactos econômicos positivos que esses medicamentos mais modernos podem gerar, através da redução e da prevenção das várias complicações que o diabetes tipo 2 e a obesidade podem causar quando não são adequadamente tratados, como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência renal crônica dialítica, dentre muitas outras, e que, atualmente, geram um custo elevadíssimo tanto para as seguradoras privadas quanto para o SUS”, opina.
A médica acrescenta, ainda, que já houve tentativa por parte da empresa Novo Nordisk de incorporação da liraglutida ao SUS, porém não houve aprovação pelo Ministério da Saúde até o momento, em âmbito nacional. “Infelizmente, a realidade é que ainda não há nenhum medicamento especificamente para tratamento de obesidade fornecido pelo SUS”, reitera.
“Uma boa notícia é que, recentemente, a liraglutida [outro princípio ativo cujos nomes comercias são Victoza e Saxenda] foi incorporada pela Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES/DF) para tratamento da obesidade em graus mais elevados, em pacientes referenciados por Unidades Básicas de Saúde (UBS) do DF, e com rigorosos critérios de inclusão no programa. Porém, a dispensação do medicamento ainda não entrou em vigor”, comemora.
Outras opções
O Victoza e o Saxenda, aprovados para tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade, respectivamente, foram precursores do Mounjaro, do Wegovy e do Ozempic. “A liraglutida foi o primeiro medicamento da classe dos análogos do GLP-1 aprovado para tratamento da obesidade, além do diabetes tipo 2”, menciona.
A principal diferença entre o princípio ativo e os outros três produtos é a posologia, que é diária, ao invés de semanal. “Ele mostrou-se inferior a todos eles tanto no controle glicêmico quanto na perda de peso, embora tenha uma eficácia e um perfil de segurança muito bons também”, diz Daniela.
Segundo a médica, o fármaco vem sendo comercializado no Brasil desde 2011, e há uma previsão de que, ainda neste ano, seja lançado um medicamento similar, pois teve a perda da patente em 2023.
Outro medicamento relevante e da mesma classe é o Rybelsus, cujo princípio ativo também é a semaglutida (a mesma do Ozempic e do Wegovy), só que na forma de comprimidos. Daniela conta que o produto é o pioneiro da classe dos análogos de GLP-1 de uso por via oral e, diferentemente das apresentações subcutâneas, é de uso diário.
“Ainda só há aprovação do seu uso, mundialmente, para tratamento do diabetes tipo 2, embora já tenham estudos de fase 3 em andamento para tratamento da obesidade, inclusive com uso de doses maiores do que para o tratamento do diabetes tipo 2”, observa.
Tempo de tratamento versus investimento
Afinal, quanto tempo dura o tratamento com algum dessas medicações? Preciso preparar meu bolso para isso? De acordo com a especialista, para muitos casos de pacientes com obesidade — especialmente os que têm IMC (índice de massa corporal) mais elevados — e para os pacientes com diabetes tipo 2, há uma necessidade e indicação do uso a longo prazo, de forma contínua.
“Isso envolve uma decisão que deve ser individualizada e tomada conjuntamente entre o médico e o paciente, ao longo do tratamento, já que existem alguns fatores que podem influenciar em manter ou não o medicamento, substituir ou não por outro, sendo a condição financeira do paciente, sem dúvida, um fator relevante para essa tomada de decisão, além da importante modificação no estilo de vida que sempre deve ocorrer concomitantemente ao uso do medicamento”, explica.
Daniela lembra que, embora se saiba que os produtos em questão tenham excelentes resultados e um ótimo perfil de segurança, seu uso ainda é limitado para poucas pessoas, especialmente na realidade do Brasil, em que uma parcela muito significativa da população é de média ou baixa renda. “Para o paciente que vai iniciar o tratamento, acho que é importante o médico dar uma previsão de que poderá haver necessidade de uso a longo prazo e, assim, o paciente já pode se programar para inserir esse custo no orçamento”, fala.
Para a médica, o cenário ainda é muito desafiador, pois ela observa que, ao ter uma perda de peso significativa e as taxas metabólicas controladas, muitos pacientes costumam achar que não precisam mais do medicamento e que conseguirão manter essas conquistas sem ele, mesmo quando o médico esclarece a importância do medicamento na manutenção do peso perdido e no controle da doença. “Muitos acabam suspendendo o uso por conta própria e descontinuando o tratamento”, considera.
“Sem dúvida, acredito que o elevado custo financeiro do medicamento é um motivo relevante para essa alta taxa de descontinuidade, sendo importante mencionar aqui também o preconceito e a desinformação que ainda existe com relação aos medicamentos anti-obesidade”, finaliza.
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