Como construir a resiliência? Experts avaliam caso do príncipe William
A palavra resiliência pode muito bem ser usada para definir o comportamento do príncipe William durante o momento de tensão, segundo experts
atualizado
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“Amo Catherine, a princesa de Gales, mas o príncipe William tem se comportado como um verdadeiro marido e pai presente nos momentos mais difíceis de sua esposa”, comentou uma admiradora no casal na postagem da primeira fotografia de Kate Middleton desde o anúncio do fim da quimioterapia. Nas primeiras semanas deste ano, o futuro rei da Inglaterra recebeu uma “avalanche” de notícias não muito positivas sobre dois familiares, no caso, o pai, o rei Charles, e a esposa. Os dois foram diagnosticados com câncer.
O elogio acima não é o único que recheia as publicações feitas nos perfis dos integrantes da realeza britânica nas redes sociais. Além de apoiar o pai e a esposa durante os seus respectivos tratamentos, o príncipe William precisou assumir compromissos oficiais da agenda do rei Charles e de Kate, ou seja, trabalho em dose tripla. E, também, esteve como principal pilar para os três filhos, George, Charlotte e Louis, com 11, 9 e 6 anos, respectivamente.
A pergunta que não quer calar é: “Como o príncipe William conseguiu equilibrar tantos ‘pratinhos’ em meio à pressão?”. De acordo com a psicóloga Letícia Isabela e a psicanalista Ana Lisboa, ambas de Brasília, a palavra resiliência pode muito bem ser usada para definir o comportamento do herdeiro do trono do Reino Unido ao longo do período turbulento.
Doença e resiliência
“A doença de um ente querido pode ser um grande catalisador para o desenvolvimento da resiliência”, explica Ana. Na avaliação dela, quando uma pessoa próxima é diagnosticada com uma enfermidade grave, como o câncer, há um confronto “com o medo da perda, a fragilidade da vida e a sensação de impotência”. A psicanalista acrescenta: “Esses sentimentos tendem a gerar um estresse significativo, mas também oferecem uma oportunidade de desenvolver recursos internos para lidar com a adversidade.”
Segundo Letícia, o câncer traz “toda uma crença” de estar relacionado à dor e à morte. “É a doença que mais provoca medo nas pessoas. Assim como ocorre com o paciente diagnosticado, a família também sofre em função das dúvidas sobre a notícia”, sustenta a psicóloga. A especialista descreve a resiliência como “uma experiência associada ao amadurecimento”: “Todo indivíduo pode desenvolvê-la por meio de suas vivências durante toda a vida.”
Histórico rei Charles e Kate Middleton
Alguns pacientes, quando recebem o diagnóstico de câncer, costumam dizer “meu mundo caiu”, enquanto os familiares e amigos íntimos buscam se manter de pé e fortes a fim de servir de suporte para o familiar doente.
Quanto ao príncipe William, ele teve de lidar com as notícias da saúde tanto do pai quanto da esposa em questão de semanas. O primeiro a revelar o tumor foi o rei Charles por meio de anúncio do Palácio de Buckingham, em 5 de fevereiro deste ano.
Passadas algumas semanas, Kate Middleton comunicou o diagnóstico da doença em um vídeo publicado nas redes sociais, em 22 de março. A princesa de Gales estava “sumida” desde o início do ano. Em 16 de janeiro, ela se submeteu a uma “cirurgia abdominal programada”, conforme informou o Palácio de Kensington. No dia seguinte, houve a divulgação de uma nota oficial de que o rei Charles faria uma operação para tratar o aumento benigno da próstata.
Pressão e saúde mental
Por praticamente nove meses — e contando —, William precisou tomar algumas rédeas, decisões e estipular prioridades. Segundo Letícia Isabela, a resiliência não surge “da noite para o dia”. No ponto de vista da psicóloga, problemas e situações que envolvem pressão exagerada podem desencadear doenças psicológicas e afetar a saúde mental.
“Nesses momentos, é necessário contar com uma rede de apoio para conversar”, aconselha. Ela destaca quanto ao desespero também “fazer parte do processo” em se tornar resiliente.
De acordo com a psicanalista, a resiliência surge quando se consegue equilibrar a dor emocional com a capacidade de adaptação e superação. “É fundamental reconhecer que, embora algumas pessoas consigam fortalecer sua resiliência em momentos como esse, outras podem se sentir emocionalmente sobrecarregadas, o que pode exigir apoio terapêutico.”
“Excesso de carga de trabalho, jornadas longas, pressão por resultados e indefinição sobre o papel ocupado no trabalho são causas frequentemente citadas no que diz respeito ao desenvolvimento de doenças psicológicas. Bem como exposição a situações estressantes, também podem ser consideradas como elementos prejudiciais à saúde mental, que é um componente essencial da saúde e do bem-estar como um todo”, analisa a psicóloga.
Assumir o trono e “focar no presente”
Letícia mencionou a questão da “indefinição sobre o papel ocupado no trabalho”. Caso o rei Charles tivesse morrido ou venha a morrer em decorrência do câncer, já que ele continua o tratamento, o príncipe William, por ser o primeiro na linha sucessória do trono britânico, assumirá automaticamente o comando da monarquia.
Mestranda em ciências jurídicas e sociais pela Universidade de Lisboa, em Portugal, Ana salienta que a pressão iminente, como a de assumir o posto de rei, tende a gerar uma “série de reações psicoemocionais”.
“Sentimentos de ansiedade, medo e insegurança são comuns, pois há uma antecipação constante de como esse momento poderá se desenrolar. Além disso, a responsabilidade de manter um legado familiar e atender às expectativas públicas tendem a aumentar ainda mais esse peso”, verifica.
“Psicológica e emocionalmente, isso pode resultar em insônia, esgotamento e dificuldade de concentração, além de uma tendência a antecipar problemas que nem aconteceram, o que intensifica o sofrimento. A chave, nesse caso, é aprender a focar no presente e a lidar com os desafios conforme eles se apresentam, sem se deixar paralisar pelo futuro incerto”, recomenda Ana Lisboa. Essa pressão excessiva a curto, médio e longo prazos acabam ocasionando condições de saúde, desde distúrbios gastrointestinais até hipertensão.
Como “construir” a resiliência?
Ana Lisboa defende que a resiliência é “construída a partir de várias práticas, sendo uma das principais o autocuidado”. “Em vez de ceder ao desespero, é importante dar atenção ao próprio bem-estar físico e emocional. Práticas de relaxamento, como a meditação e a respiração profunda, ajudam a manter a mente equilibrada”, indica. Ela cita ser primordial “ter uma rede de apoio, compartilhar sentimentos com amigos ou familiares e, se necessário, buscar ajuda profissional”.
Como a psicóloga Letícia Isabela bem reiterou, a resiliência envolve o amadurecimento. A esse raciocínio, Ana Lisboa complementa sobre a capacidade de se adaptar às mudanças e se superar: “Também depende de uma perspectiva de crescimento diante da adversidade, enxergando as dificuldades como oportunidades de aprendizado e fortalecimento. Cada situação de pressão pode ser encarada como um desafio que, embora doloroso, oferece potencial de evolução.”
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