Clarice Lagares explica reação da hidroxicloroquina para os olhos
“O uso da substância não deve ser feito sem indicação nem acompanhamento médico por causar lesões oculares”, diz a oftalmologista
atualizado
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Cientistas de todo o mundo têm se esforçado para descobrir um tratamento ou a cura para o novo coronavírus. Dentre tantas pesquisas, veio à tona a hidroxicloroquina. O medicamento atua na terapêutica de pacientes com malária, artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, entre outras doenças.
A medicação está presente no mercado há mais de 60 anos. O Brasil detém o título de um dos maiores produtores da substância. Apesar de surgir como possível luz no fim do túnel para tratar a Covid-19, não existem estudos conclusivos sobre sua eficácia da substância. Pelo contrário, alguns pesquisadores mostram seu efeito negativo em partes do corpo humano, como os olhos.
Para falar sobre como o medicamento age na visão e como pode ser prejudicial, a coluna Claudia Meireles conversou com a oftalmologista Clarice Lagares. Ela é uma das mais requisitadas pelos brasilienses quando o assunto é saúde dos olhos.
Confira a entrevista!
Em que patamar estamos em relação ao uso da hidroxicloroquina para o tratamento do novo coronavírus?
Alguns estudos recentes revelam o efeito dessa medicação em outros vírus membros da família coronavírus, que também causam a síndrome respiratória aguda grave. Nesses casos específicos, a hidroxicloroquina mostrou-se capaz de reduzir os títulos virais, restaurando o sistema imune inato que estava desregulado por causa da infecção viral.
Como a hidroxicloroquina age no organismo?
Por bloquear a infecção celular pelo vírus, limitando a ação nociva, a hidroxicloroquina diminui a gravidade dos sintomas e o tempo de hospitalização. Além do efeito antiviral direto, a medicação tem propriedades imunomoduladoras, ou seja, atua no sistema imunológico conferindo o aumento da resposta orgânica contra determinados micro-organismos, como vírus, bactérias e fungos.
Você, como médica, defende o uso do medicamento?
Sim. Desde que seja administrado com acompanhamento em pacientes infectados pela Covid-19 com sintomas clínicos. Acredito que o uso da hidroxicloroquina possa ajudar a diminuir a mortalidade da população mais vulnerável e permitir o controle da doença pelo sistema de saúde. No Brasil, o uso da substância está reservado para casos graves.
Quais são os perigos de usar a hidroxicloroquina?
O uso da substância não deve ser feito sem indicação nem acompanhamento médico por causar lesões oculares, hepáticas, cardíacas e auditivas.
Você afirmou que o medicamento pode vir a prejudicar a visão. Quais os efeitos da substância nos olhos?
A hidroxicloroquina traz danos oftalmológicos irreversíveis à retina por sua toxicidade. O resultado da ação pode ser visto por meio do exame de fundo do olho, conhecido como mapeamento de retina. Pacientes com visão boa podem apresentar danos em estágios tardios, visto que os sintomas aparentes não surgem no início do uso do medicamento.
A visão central pode ser preservada se o dano for reconhecido antes das alterações no epitélio pigmentar da retina (EPR), camada interna fotorreceptora do olho.
Como descobriram que a hidroxicloroquina faz mal aos olhos?
Na prática clínica, o dano primário atinge os fotorreceptores. Alguns oftalmologistas notaram o aparecimento de escotomas paracentrais, isto é, o surgimento de manchas ao redor da imagem da retina. Se o uso da medicação for contínuo, poderá ocasionar a diminuição da visão periférica, noturna e, consequentemente, a perda total.
As lesões na retina podem progredir mesmo após a interrupção do uso da substância. Por ficar na corrente sanguínea, a ação do medicamento pode persistir por meses.
Quais parâmetros foram levados em consideração sobre a ação do medicamento?
As disfunções oftalmológicas da hidroxicloroquina estão relacionadas à quantidade utilizada e o tempo de uso da substância, segundo estudo publicado pela Academia Americana de Oftalmologia (AAO).
Nas pesquisas, verificaram que doses altas feitas de forma experimental geraram efeitos agudos no metabolismo de células da retina. Ainda não está claro quais os efeitos metabólicos a curto prazo e se contribuem para as disfunções de forma lenta e crônica, características do estado clínico da toxicidade.
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