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Chefs premiadas se reinventam e bombam delivery para evitar crise

Renata La Porta e Danielle Dahoui contam como estão lidando com os dias de bufê e restaurante fechados

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Jacqueline Lisboa/Especial para Metrópoles e @chefdahoui/Instagram
Chef Renata La Porta e Chef Danie Danielle Dahoui
1 de 1 Chef Renata La Porta e Chef Danie Danielle Dahoui - Foto: Jacqueline Lisboa/Especial para Metrópoles e @chefdahoui/Instagram

A pandemia do novo coronavírus tem preocupado as micro e pequenas empresas que foram forçadas a parar de funcionar em março. O setor de hotéis, bares e restaurantes da capital prevê demissões em massa depois do fechamento dos estabelecimentos comerciais.

O cenário é desolador e força os donos de restaurantes e bufês de todo o país a se reinventarem diariamente para continuar operando e não deixar a peteca cair.

A chef Renata La Porta turbinou as entregas do La Porta Em Casa, em Brasília; e a chef Danielle Dahoui teve que adiantar a entrada no serviço de delivery para dar vazão aos pedidos do Ruella. Ela também está engajada em uma campanha ostensiva para que o governo atue a fim de evitar que os trabalhadores do setor fiquem desassistidos.

Renata La Porta

A chef está no ramo gastronômico há 28 anos, 21 deles à frente do Renata La Porta Buffet, um dos mais prestigiados nas festas da capital federal. No início do mês, quando os casos do coronavírus confirmados no DF ainda eram raros, Renata sentiu o golpe inicial da doença: o primeiro cancelamento de um evento.

“Era metade da manhã. Nós estávamos descarregando o caminhão para uma festa de 480 convidados quando mandaram voltar, porque tinham recebido a notícia de que uma das pessoas estaria infectada”, lembrou.

Desde então, começaram a surgir mais pedidos de cancelamento. “Para nós, é uma tragédia. A nossa equipe está aqui, todo mundo tem que comer e sobreviver”, relembra, com pesar.

Mesmo com as festas canceladas, ainda é possível sentir o gostinho do bufê com o La Porta Em Casa, disponível em três frentes: o delivery de aperitivos e pratos quentes no iFood; a linha de congelados nos supermercados; e mais de 100 opções de pratos congelados disponíveis no site da chef Renata La Porta.

“O La Porta Em Casa já vinha crescendo. O [serviço no] iFood foi lançado em novembro. Nós estamos com a linha completa e, agora, reforçamos o marketing para aumentar as vendas”, completa.

“O site está enorme e tem tudo o que você imaginar. As pessoas tinham a ideia de que o La Porta Em Casa era uma coisa muito sofisticada. Eu vendo lagosta e caviar mas também vendo picadinho com farofa e estrogonofe. Tem prato de R$ 30 que serve duas pessoas”, garante.

Para incentivar o consumidor, a empresária decidiu não cobrar taxa de entrega em pedidos no Plano Piloto até o fim do decreto do Governo do Distrito Federal (GDF). “Tivemos um pedido para Planaltina. Negociamos uma taxa mais acessível e vamos embora!”, garante.

A atenção na cozinha foi redobrada. As lavagens de mãos foram triplicadas, os entregadores passaram a usar máscaras. Além disso, qualquer funcionário com sintomas de gripe ou resfriado, mesmo que não compatíveis com os da Covid-19, foram liberados.

Mas Renata se preocupa com o futuro do bufê. Enquanto não acontecem eventos, ela antecipou as férias de 60% da equipe. Continua a trabalhar quem tem meio de transporte próprio e os que moram perto, quem posso buscar. Tudo para evitar que os funcionários precisem enfrentar aglomerações no transporte público.

“Estou tentando tomar a decisão com calma. O meu objetivo é não mandar ninguém embora. A minha equipe é a parte mais importante do meu negócio. Não é uma decisão leve nem monetária, eu penso na minha responsabilidade com essas famílias. Qual é a possibilidade de eles arrumarem um emprego logo?”, avaliou.

Renata também pensa nos amigos que trabalham no setor da alimentação, principalmente nos que não trabalham com entregas. “Isso é devastador para as pessoas que estão envolvidas. Depois de muitos anos de crise econômica, a situação estava começando a mostrar recuperação. Foi um desalento”, finalizou.

Danielle Dahoui

A chef trabalha em restaurantes há 30 anos e foi a primeira mulher a apresentar o programa Hell’s Kitchen – Cozinha sob Pressão (SBT) no mundo. Ela conversou com a coluna Claudia Meireles em meio às mudanças na operação e se emocionou ao definir o bistrô como “minha casa, meu lar, minha família”.

Foi com a mesma preocupação de Renata que a pernambucana criou um movimento nacional para pedir que o governo adote medidas emergenciais.

Entre elas, o pagamento de funcionários durante a paralisação pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) ou Seguro Desemprego, suspensão de todas as obrigações de pagamento de impostos pelos próximos 90 dias – incluindo as três esferas – e a criação de linha de crédito pelo Estado.

“As equipes são descontadas de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), impostos que servem para licenças, demissão ou situação de calamidade pública. Pelo amor de Deus, devolvam o que foi descontado para pagar esse período”, apela, temendo pelo futuro dos 40 funcionários.

Muitos estão com ela desde a abertura do bistrô, há 24 anos. “Eles são a minha família. Passamos mais de 10 horas por dia juntos. Sou madrinha dos filhos deles. A gente vai se falando, se cuidando, assim como estou fazendo com os meus parentes”, relata.

“Fazemos por amor, por tesão. É viciante. Os restaurantes não lucram mais do que 10%, 15%. A gente nunca tem dinheiro nem férias, mas eu amo, quero morrer fazendo isso. Até abril, consigo pagar os salários, os planos de saúde e as contas essenciais, mas já pedi que eles [os funcionários] economizem ao máximo”, conta.

Alerta à pandemia

Foi durante uma temporada na Europa, no início do ano, que ela percebeu que o coronavírus poderia ser mais grave que o previsto. “Tirei 23 dias para estudar. Passei por Londres e Paris. Dois dias depois de chegar em Portugal, o país fechou. Vi que o bicho ia pegar e comecei a organizar o meu restaurante”, relembrou.

A primeira medida foi passar as mesas do salão para a viela ao lado do bistrô, com 1 metro e meio de distância entre as mesas. “Os clientes acharam estranho, mas eu explicava o motivo”, rememora.

Acionou os assessores do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o prefeito da capital, Bruno Covas (PSDB), e criou dois grupos de WhatsApp: um com chefs do Rio de Janeiro e de São Paulo, outro com profissionais dos demais estados.

A campanha ganhou força nas redes sociais depois que Danielle gravou um vídeo emocionante com as hashtags #sosbarestaurante e #nãodeixefecharaconta, chamando mais pessoas para se unirem a ela. Hoje, já são nove grupos, com aproximadamente 2.250 donos de bares, restaurantes, deliverry, docerias, casas noturnas e outros empresários do ramo.

 

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Danielle fechou o bistrô em 15 de março para evitar a disseminação do vírus no Ruella, temendo pela saúde dos clientes e dos funcionários. A ação serviu de exemplo para outros empresários que a seguiram.

Para não parar completamente, ela antecipou um desejo antigo: fazer entrega dos pratos do bistrô. Desde a última segunda-feira (23/03), os moradores de São Paulo podem degustar os pratos do Ruella em casa.

Todos os colaboradores que têm carro ou moto seguem trabalhando. Os da cozinha cuidam do preparo dos pratos e os que atuavam no salão agora ajudam a empacotar as encomendas. “Eles chegam, tomam banho, colocam a roupa do Ruella, passam álcool em gel e vão para a cozinha”, garante.

Apesar de ser empresária do próprio negócio, Daniella se diz dividida quando o assunto é sair do isolamento. Seu maior medo é o aumento de pessoas em busca de um leito de hospital.

“O sistema de saúde não vai conseguir atender a todos. Nesse ponto, não estou pensando na economia, mas em vidas. Também acho que o mundo tem que seguir em frente, mas precisamos poupar as pessoas”, reflete.

Para saber mais, siga o perfil da coluna no Instagram.

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