À medida que os recursos do ChatGPT vieram à tona, alguns especularam que o chatbot de inteligência artificial (IA) especializado em diálogo poderia potencialmente interromper gigantes da tecnologia já estabelecidos, como o mecanismo de pesquisa do Google.

Com sua capacidade de interagir com os usuários e fornecer respostas rápidas, o ChatGPT visa oferecer uma alternativa viável ao dispositivo de busca tradicional. Isso iria revolucionar a maneira como as pessoas acessam informações, dando-lhes uma experiência mais personalizada que seria adaptada às suas necessidades individuais.

Uso do ChatGPT

Os usuários têm confiado no ChatGPT para mais do que apenas obter as respostas para a lição de casa ou encontrar receitas perfeitas de hambúrguer. Os indivíduos adotaram essa ferramenta para fazer os mesmos tipos de perguntas que geralmente recorreriam ao Google.

Embora o dispositivo ainda esteja longe de ser perfeito — sem acesso a mecanismos de busca, respostas algumas vezes incorretas e soluções matemáticas que simplesmente não consegue resolver —, a capacidade de compreender as perguntas e respondê-las adequadamente seria como ter um Ask Jeeves — também conhecido como Ask.com — que está em constante evolução.

O medo da perda da hegemonia do Google, no mundo da pesquisa da internet, pode ser justificado pelo surgimento dos novos modelos de pesquisa de linguagem natural, como o ChatGPT. Os dispositivos inovadores tendem potencialmente atrair usuários que de outra forma teriam usado a funcionalidade do Google.

Domínio do Google

De acordo com a Morgan Stanley, empresa global de serviços financeiros sediada em Nova York, o Google continua sendo o gateway mais popular para usuários da internet e, portanto, seu domínio provavelmente permanecerá.

Para competir com o número impressionante de usuários diários que o Google atrai, o ChatGPT precisa ainda resolver muitos desafios operacionais. Focada em pesquisas sobre inteligência artificial, a OpenAI informou que a plataforma atraiu um milhão de usuários em sua primeira semana. No entanto, conforme explicou a Morgan Stanley, qualquer ferramenta que espere interromper o mercado deve fornecer algo 10 vezes melhor do que o concorrente mais próximo a fim de convencer as pessoas a mudar do gigante estabelecido.

Parece que, por enquanto, o ChatGPT ainda não atingiu esse nível de superioridade. No entanto, a ferramenta tende a potencialmente ameaçar a supremacia do Google em alguns campos; ao fornecer, por exemplo, sugestões de viagem com um pouco mais de imaginação e soluções.

Investimentos

Entretanto, o Google é um grande investidor em inteligência artificial e em machine learning (aprendizado de máquina, em tradução livre). Segundo a Morgan Stanley, a corporação continuará a ser considerada como o principal gigante de TI em pesquisa e investimento, podendo até colocar muitas capacidades do ChatGPT à prova.

O Google já investiu em torno de US$ 100 bilhões em pesquisa e desenvolvimento de IA e machine learning nos últimos três anos. O valor atingiu a bagatela de R$ 518 bilhões. Até 2025, espera-se que os gastos da empresa com as áreas aumentem 13% anualmente.

Construir modelos de linguagem natural no estilo Modelo de Linguagem para Aplicativos de Diálogo, conhecido pela sigla LaMDA, e financiar a iniciativa de aprendizado de máquina BERT (modelo de pré-treinamento de processamento de linguagem natural) permitirá aos robôs compreenderem melhor o contexto conversacional.

Um projeto que treina o código do computador para desenvolver, corrigir e atualizar a si mesmo também foi iniciado. Consequentemente, reduzirá o número de engenheiros que o Google contrata.

Até mesmo iniciativas que se assemelham muito ao ChatGPT passaram a ser desenvolvidas por eles. Por exemplo, a empresa DeepMind, uma instalação de pesquisa de IA de propriedade do Google, revelou recentemente a criação do Dramatron, um novo software que pode produzir roteiros de filmes.

De qualquer forma, está se tornando evidente que o entusiasmo em torno do ChatGPT atrairá um financiamento mais significativo para a IA. À medida que a inteligência artificial avança, é bem provável que as empresas com maiores recursos financeiros, como o Google, continuem investindo massivamente na tecnologia a fim de estarem sempre na vanguarda da revolução.

(*) Caroline Kalil é consultora de direito digital, investidora de criptomoedas, colecionadora de NFTs com certificação em KYC Blockchain Professional pela Blockchain Council, e blockchain development pela Consensys, além de autora do e-book O Metaverso Simplificado. Ela tem MBA em criptoativos e blockchain