Cantora lírica brasiliense é aceita na melhor escola de canto do mundo
Manuela Korossy ingressou na Juilliard School. A cantora lírica agora faz vaquinha virtual para conseguir realizar o sonho
atualizado
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Quando começou a estudar música em um projeto aos 7 anos, a brasiliense Manuela Korossy nem imaginava o que estaria por vir: a aprovação na Juilliard School, considerada uma das melhores escolas de canto do mundo. Além de conseguir a façanha de ingressar na tradicional instituição, fixada em Nova York, a cantora lírica de 19 anos conquistou outro feito: recebeu uma bolsa de estudos de 90%. Para custear as despesas nos EUA, ela criou a vaquinha virtual Jornada rumo à Juilliard, na página Campanha do Bem (clique no link).
Até alcançar as primeiras metas de muitas que ainda pretende atingir, Manuela persistiu no que acredita, enfrentou obstáculos e contou com os ensinamentos de grandes mestres da música, conforme revela em entrevista à coluna Claudia Meireles no Teatro Nacional. Dona de uma história de vida marcada por dedicação, a cantora lírica tinha os planos de concluir o bacharelado em música na Universidade de Brasília (UnB) e fazer a Opera (e)Studio, em Londres.
Trilhando
No meio do caminho, eis que a Juilliard School abriu a audição on-line pela primeira vez em razão da pandemia. Manuela viu a movimentação de professores e cantores do circuito lírico internacional, inclusive da soprano norte-americana Rachel Willis-Sørensen. A profissional estava com a agenda de aulas particulares aberta. A brasiliense perguntou o preço da hora-aula, porém, por ser muito caro, não conseguiria pagar. A expert indicou então a master class virtual pelo Facebook com um valor consideravelmente menor.
A jovem entrou no grupo on-line. Na primeira apresentação, deu detalhes da própria trajetória e das controvérsias técnicas pelas quais passava. “Dizem que tenho tal problema, mas eu não me sinto confortável fazendo determinado repertório. Queria saber a sua opinião, apesar de que confio na técnica que desenvolvi”, disse Manuela à Willis-Sørensen. A soprano ficou com o pé atrás com a brasiliense, mas se rendeu ao talento dela ao término da atuação: “Você canta muito bem. E está indo por um excelente caminho”.
Ao fim da master class, uma aluna enviou uma mensagem para Manuela pelo Facebook. No recado, passou o e-mail do professor de Rachel Willis-Sørensen e sugeriu que entrasse em contato com ele. “Expliquei toda a situação para o Darell [Babidge]. Disse que não tinha dinheiro para me mudar para os Estados Unidos. Na verdade, não conseguiria nem pagar aula. Ele falou: ‘sinto muito, pois tenho cinco filhos para criar’”, escreveu a brasiliense.
Seguindo o lema persista e não desista, a jovem cantora lírica juntou um valor e conseguiu fazer uma aula com Darell Babidge. Ao dar o feedback para a brasiliense, o mestre falou: “Você canta muito bem, mas tem de corrigir alguns pontos”. Ele acrescentou ao discurso: “Recomendo que faça a prova da Juilliard. Não te garanto que vá passar, porque você não é uma voz tão comum de ver nem de se trabalhar. Mas, tem um nível excelente para competir”. Coincidentemente, o professor também ensina na Juilliard School.
Preparação
Era o empurrãozinho que faltava para Manuela Korossy. Durante o processo de preparação para o processo seletivo, a cantora lírica passou por algumas emoções desde o início. Ela soube da prova um mês antes de abrirem as inscrições. “Me demandou muito, muito mesmo, porque soube de tudo de modo rápido. A prova durou seis meses”, recorda. Até ser admitida no “melhor conservatório do mundo”, a brasiliense passou por três etapas: uma audição por vídeo; uma pré-audição de mais quatro vídeos; e uma chamada por Zoom.
Manuela define o período como estressante por conta da falta de tempo. Ela estudou acima de sua média diária. Cantando era em torno de quatro horas, sem contar a aprendizagem teórica. “O corpo não aguenta cantar muito mais que isso diariamente. Eu tive bastante ensaio com correpetidor e aulas com meus professores. Foi um processo mesmo de maratona”, descreve. Entretanto, as emoções até ingressar de fato na Juilliard não pararam por aí.
Mais ou menos 10 dias antes da última etapa, o pai de Manuela Korossy, o jornalista Laycer Tomaz, testou positivo para a Covid-19. Ela foi diagnosticada com a doença dois dias depois. “Só que nisso, o pior não foi nem aí”, rememora. A Juilliard School havia previsto uma data limite para entregar os resultados, contudo não respeitaram o prazo. “Não sabia se tinha passado e se faria a prova. Caso aprovada, iria fazer a callback com Covid-19”, lembra a jovem, que enviou um e-mail à instituição sobre o cenário.
Confira uma parte da apresentação de Manuela Korossy no CCBB Brasília no sábado (10/7) no pré-lançamento da Ópera Brasilis.
“Olha! Se eu tiver passado, me coloquem para o último dia de audição, porque graças a Deus, não tive sintomas fortes, mas afetou a minha respiração e isso é um terror para cantar”, lembra Manuela Korossy. Três dias antes do teste, chegou a vez da brasiliense na fila de fonoaudiologia do Hospital Regional da Asa Norte (Hran): “Esse atendimento foi fundamental para eu ter garantida a aprovação, pois meus sistemas respiratório e fonador ficaram inchados por conta da doença”.
Ao longo da entrevista, Manuela se emocionou ao recordar a descoberta da aprovação: “Fiz a prova e, 10 dias depois, chegou o e-mail de que eu tinha passado. Foram momentos de extrema ansiedade, porque não fiz um callback como gostaria devido a Covid-19. Eu estava saindo da academia, por volta das 19h, quando chegou a notificação no meu e-mail. O único ponto que vi era sobre ser uma notificação da escola. Li até o final e não era o e-mail da admissão, mas sim da bolsa. Precisei reler umas quatro vezes para entender”.
Em Nova York
A brasiliense alega: “Estou indo para a maior cidade do mundo, culturalmente falando, e maior escola de música do mundo. Enfim, acho meio difícil não sonhar alto”. Com um leque de oportunidades fantásticas pela frente, Manuela almeja conquistar o máximo de conhecimento e de riqueza artística. Dentre os objetivos da aluna da Juilliard, está apresentar-se no palco do The Metropolitan Museum of Art — mais conhecido como MET —, nos Estados Unidos; e Teatro alla Scala, em Milão.
“Cantar no MET é o desejo de qualquer cantor, pode-se dizer o sonho máximo”, garante. Manuela se define como a “menina dos Puccinis”, por querer interpretar óperas do compositor italiano. Amigos da jovem até fizeram um bolão a fim de adivinhar qual será o papel de estreia dela. A cantora lírica elenca Madama Butterfly, La Bohème e Tosca. “Tenho alguns papéis em mente, claro sempre pensando no MET e em outras famosas casas de ópera”, destaca a aluna da Juilliard School, onde estudou a atriz Viola Davis.
Mestres
A brasiliense pretende se formar e fazer contatos com teatros para audicionar. “Não está nos meus planos ser cantora de corpos fixos de teatro, porque atuar por temporada me dá uma flexibilidade muito maior”, explica. Ao término da formação, Manuela afirma que sairá da Juilliard School preparada para enfrentar uma grande montagem profissional. Em Brasília, ela contou com o auxílio dos professores Vilma Bittencourt e Franklin Sagredo Martins. Os mestres acompanham a pupila até os dias atuais.
Manuela também declara gratidão à Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, regida pelo maestro Claudio Cohen, com quem audicionou pela primeira vez, em 2018. Ela considera o trabalho com o grupo como um dos momentos mais importantes da carreira, após o ingresso na Juilliard School: “Um choque de realidade. Está com eles mudou um pouco a forma de eu ver a atuação, porque era muito disneylândia para mim. A partir do momento que trabalhei com eles, passei a perceber como funciona e, isso, me tornou uma pessoa focada”.
Existem pessoas maravilhosas que passaram pelo meu caminho e abriram portas, acreditaram no meu talento. Elas vão ver como estarei daqui a 4, 5 ou 10 anos. Essas pessoas que me fizeram chegar até aqui. Não teria de forma alguma conseguido sozinha
Manuela Korossy
Vaquinha
A cantora lírica está com uma vaquinha virtual aberta na página Campanha do Bem a fim de angariar fundos para custear os gastos com a sobrevivência em Nova York, no caso, pagar as despesas do dia a dia. Embora tenha ganhado a bolsa de 90%, ainda faltam 10%. Para colaborar com o sonho de Manuela Korossy, digite na barra de pesquisa do site Jornada rumo à Juilliard. Outra forma fácil de contribuir é pelo Pix (61) 9 9187 7777. Ela tem compartilhado a trajetória rumo à escola pelo perfil homônimo no Instagram: “Estou documentando tudo por lá de modo bem legal”.
Para saber mais, siga o perfil da coluna no Instagram.