Ator Matthew McConaughey alerta em livro: “Ninguém escapa das dificuldades”
Lançada em outubro, a biografia Greenlights traz as histórias vivenciadas pelo vencedor do Oscar, em um retrato honesto de si mesmo
atualizado
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Independentemente de serem em filmes de drama, ação ou ficção científica, as atuações majestosas de Matthew McConaughey arrancam aplausos até dos mais renomados críticos. Em 2014, ele ganhou o Oscar de Melhor Ator, na primeira indicação ao prêmio. Em uma vida de altos e baixos, o artista extraiu forças de momentos dolorosos e, por vezes, regados a polêmicas. Seguindo o lema de que tudo é aprendizado, o galã das telonas deu a volta por cima nos dias difíceis. Ele fez um retrato honesto de si no livro de memórias Greenlights.
Lançada em outubro, a publicação traz como título a expressão Luzes Verdes, em tradução do inglês. Ao longo das páginas, o astro hollywoodiano escreve diversas histórias vivenciadas, e caracteriza cada episódio com a luz verde, amarela ou vermelha. Como em um sinal de trânsito, o ator revela quais experiências o fizeram avançar, pausar ou parar. Uma das situações que o mudou intimamente foi a morte de seu pai, James McConaughey, em 1992. Quando recebeu a notícia, ele gravava o filme Jovens, Loucos e Rebeldes.
“Nós não gostamos dos sinais vermelhos e amarelos porque eles desperdiçam o nosso tempo, não é? Mas, quando percebemos que todos eles viram sinais verdes eventualmente, eles revelam as suas rimas. Assim, a vida se torna um poema, e passamos a conseguir o que queremos e o que precisamos ao mesmo tempo”, citou o astro nascido no Texas, nos Estados Unidos, na autobiografia.
Passado, presente e futuro
Em 1989, Matthew escreveu um poema, o qual aparece no início da autobiografia. Nos versos, jurou tornar-se um autor. Mais de 30 anos depois, a profecia virou realidade nas 304 páginas de Greenlights. Desde a infância, o norte-americano acreditava desfrutar de uma vida digna de ser narrada, por isso, costumava registrar acontecimentos em diários pessoais. Devido ao comportamento de fazer anotações em pedacinhos de papel, Mary Kathleen McConaughey, mãe do ator, pensou que o filho seguiria carreira de advogado.
Acho que vou escrever um livro
Matthew McConaughey
uma palavra sobre minha vida.
Eu me pergunto, quem daria a mínima
para os prazeres e as lidas?
Aos 51 anos, Matthew é casado com a modelo brasileira Camila Alves. Juntos desde 2012, os dois são pais de três filhos: Levi, 12 anos; Vida, de 10; e Livingston, de 7. Por meio de pérolas ou frases de efeito, o vencedor do Oscar reproduz seus pensamentos e consegue adentrar na mente dos leitores. Para a criação dos filhos, ele ensina: “Eduque antes de apontar o erro”. Em relação ao lado profissional, o ator defende a máxima “sou bom naquilo que amo, mas não amo tudo em que sou bom”.
Pílulas de sabedoria
“Deixe de pegar leve com você mesmo, McConaughey. Se isso é verdade, então, atravesse todos os sinais vermelhos. Você está com as mãos no volante. Você faz as escolhas, e elas importam”, escreveu o artista na publicação. Quem julga o livro pela capa pode imaginar que Greenlights está inserido na categoria de autoajuda e pode, ainda, supor que Matthew almeja adicionar mais uma função ao currículo, no caso, de guru espiritual, por conta das pílulas de sabedoria espalhadas pelos capítulos da publicação. Ele refuta a ideia.
O produtor decidiu contar algumas histórias de seu passado, não porque ecoam como legais. Matthew acredita que as vivências reveladas disseminam verdades universais, conforme definiu em entrevista ao The New York Times. Ao olhar para trás, o ator percebe o quanto amadureceu, entretanto, sabe também da importância de cada momento para transformá-lo no pai, filho, marido e profissional de hoje. “Nunca me senti uma vítima. Tenho muitas provas de que o mundo está conspirando para me fazer feliz”, citou no livro.
Confira o discurso reflexivo de Matthew a alunos de uma universidade norte-americana:
Encarar e esforçar
Já no quesito pessoal, Matthew lança a afirmação: “Se você atingir altitude suficiente, o sol brilha o tempo todo”. Será que a sentença valeu para os seus trabalhos diante das câmeras? Ao que tudo indica, a resposta é sim. No início da carreira, o astro era considerado apenas mais um galã másculo, com perfil de conquistador e costumava aparecer sem camisa nos filmes. O jogo virou e o artista ganhou espaço no elenco de grandes produções de Hollywood. É o caso de Interestelar e O Lobo de Wall Street, ambos de 2014.
Até assumir papéis em produções premiadas, Matthew, cansado de protagonizar comédias românticas, pensou em aposentar-se das telonas. Por sorte, isso não ocorreu. Em 2014, ele foi premiado com a estatueta do Oscar na categoria de Melhor Ator. Ele venceu o prêmio pelo trabalho no longa baseado em fatos reais, Clube de Compras Dallas. O artista perdeu 21 quilos para interpretar o personagem Ron Woodrof, um eletricista diagnosticado com HIV. De 82 kg, ele chegou a pesar 61 quilos. “Não hesitei, apenas encarei”, confessou.
Resiliência
Categorizado pelo NYT como “repleto de uma sabedoria caseira”, Greenlights conta, com detalhes, sobre a relação de Matthew com o pai, James McConaughey, considerado “rude” na criação dos três filhos. Durante os capítulos, o ator valoriza os ensinamentos da figura paterna – não ficar deprimido nem deixar pela metade o que estava fazendo. O artista seguiu à risca a instrução quando o patriarca morreu. Ele soube do ocorrido enquanto filmava Jovens, Loucos e Rebeldes, lançado em 1993.
Em vez de render-se ao luto, o caçula da família McConaughey seguiu o conselho de James. “Meu pai nos ensinou resiliência”, garantiu. Após o enterro, ele decidiu voltar aos sets e continuar o trabalho. Não passava pela mente de Matthew ter perdido o laço paterno, mas honrá-lo e colocar em prática os aprendizados deixados.
“Um interruptor mudou, com certeza. Depois que seu pai faleceu, acho que algum tipo de ambição se encaixou em Matthew. Tipo, a vida é curta e vou fazer as coisas em que sou bom. E eu não dou a mínima para o que os outros pensam”, declarou Monnie Wills, amiga do ator. O trecho foi extraído pela revista Vanity Fair de um artigo que conta os bastidores de Jovens, Loucos e Rebeldes.
Não consigo x Estou com problemas
Na casa da família McConaughey havia algumas regras simples. Uma delas era jamais abrir a boca para falar “não consigo”. Em vez disso, deveria dizer: “Estou tendo problemas”. Em Greenlights, Matthew recordou de uma situação que passou com o patriarca James McConaughey e, ao fim, ficou como lição de vida. “Me lembro muito claramente. Era uma manhã de sábado, eu deveria cortar a grama, mas estava com problemas para ligar o cortador. Entrei em casa e disse ao meu pai: ‘Não consigo ligar o cortador de grama’”.
Nas páginas de Greenlights, Matthew descreveu como o pai ficava ao ouvir a expressão: “A mandíbula começava a ranger os dentes molares”. No episódio do cortador de grama, James levantou-se devagar, saiu de casa e tentou ligá-lo, mas não deu certo. Ele desmontou o equipamento, colocou um pouco de gás novo e, 45 minutos depois, o aparelho funcionou. Durante todo esse tempo, o patriarca não pronunciou sequer uma palavra, somente quando terminou a atividade: “Viu?! Você estava apenas tendo problemas”.
“A vida é difícil”
Aos 18 anos, o norte-americano fez intercâmbio na Austrália e, durante o período, trabalhou em seis empregos diferentes. “A minha identidade estava em formação, eu precisava de referências e desafios, disciplina e senso de propósito”, escreveu. À época, decidiu tornar-se vegetariano e emagreceu muito, ao ponto de se imaginar um monge. “Foram plantadas as sementes da noção que continuam a me guiar até hoje: a vida é difícil”, afirmou, sobre essa etapa da vida.
No papel de galã, o ganhador do Oscar atuou nas comédias românticas Como Perder um Homem em 10 Dias, de 2003; e Minhas Adoráveis Ex-Namoradas, de 2009. Um dos desejos do autor é que os leitores se concentrem na mensagem principal da publicação: ninguém consegue escapar das dificuldades. Em segundo lugar, está o ensinamento de não deixar que a vida aconteça de qualquer forma. Na avaliação dele, depender da sorte não leva as pessoas ao sucesso, mas, sim, suar a camisa e preparar-se para as oportunidades.
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