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Antonio Veronese: conheça a história do pintor que conquistou o mundo

À coluna, o artista Antonio Veronese conta um pouco de sua história e trajetória profissional. Ele conquistou prestígio em todo o mundo

atualizado

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Pedro Iff/ Metrópoles
Antonio Veronese
1 de 1 Antonio Veronese - Foto: Pedro Iff/ Metrópoles

“Ou você faz o que você quer, ou você morre”. A frase dita por um cardiologista a Antonio Veronese foi o estopim para que o artista, à época com 36 anos, deixasse tudo para trás e começasse a viver da sua verdadeira paixão: a pintura. O que ele não imaginava é que, a partir daquele momento, os seus trabalhos impactariam o mundo. Radicado na França desde 2004, o pintor ítalo-brasileiro é considerado pela crítica francesa como “um dos 10 pintores vivos que já deixaram sua marca na história da arte”.

Reconhecido por suas obras que retratam rostos, a relação de Veronese com a pintura começou na infância. Nascido na cidade de Brotas, interior de São Paulo, ele desenvolveu cedo a paixão pelo ramo.

“Com 8 ou 9 anos, eu era vizinho de um depósito de café e pegava as sacas do produto que rasgavam, prendia com pregos em um chassi com caixas de cerveja e com tinta de parede pintava rostos. Todo mundo dizia: ‘O filho do Veronese (meu pai) é maluco'”, relembra.

Antonio Veronese abriu as portas da sua residência para receber a Coluna Claudia Meireles
Desenhos expostos na parede
Desenhos expostos na parede da sua residência em Brasília

Certo dia, ao descer em uma estação de trem em Bauru (SP), acompanhado do pai, viu uma banca de revistas e livros baratos que ninguém queria e achou um exemplar de Lasar Segall. O pintor  lituano teve forte influência no expressionismo. 

À Coluna Claudia Meireles, Antonio conta que ficou paralisado quando viu essa imagem e pediu ao pai para comprar, mas eles só tinham dinheiro para pagar o almoço. O dono da banca escutou a conversa e o presentou com o livro. “Voltei para a cidade com a obra na mão dizendo: ‘Não sou o único louco’, mostrando Segall. Então, comecei muito cedo, de forma espontânea, porque não havia televisão naquela época”, revela, explicando que esse foi o seu primeiro contato com a arte. 

Veronese viveu em Brotas até os 13 anos e depois se mudou para São Paulo. Dos 16 aos 23 anos, viveu no Rio Janeiro. Foi quando decidiu voltar para capital paulista, casou-se e começou a estudar direito. Posteriormente, percebeu que o curso não era para ele. “Eu já tinha quatro filhos, precisava trabalhar e ir atrás de dinheiro”, conta.

Antonio conta que sua paixão pela pintura surgiu na infância

Ao longo da juventude, Antonio frequentou vários museus. Ele se diz fã da Biblioteca Municipal de São Paulo, local onde expôs ter visto muitas coisas que serviram como uma pulsão. “Você vê algumas crianças que desenham obsessivamente, isso já vem como uma pulsão natural. Depois, quando se tem o contato com os grandes artistas, aí a provocação e o desafio são muito maiores”, pontua.

Além de Lasar Segall, o pintor sofreu grande influência de grandes mestres, como Francis Bacon e Edvard Munch, e acabou ficando um tempo afastado da arte por acreditar que seria impossível fazer algo melhor que os grandes artistas do ramo. “Depois, descobri que isso era uma arrogância, porque eu presumia que teria que fazer melhor, mas o meu trabalho é um grãozinho de areia nessa história toda”, expressa.

Antonio Veronese com sua arte
As obras de Antonio conquistaram o Brasil e o mundo

Viver da arte era o maior sonho de Antonio. Por muitos anos, porém, trabalhou com produção para televisão. Foi um problema cardíaco aos 36 anos que mudou completamente o rumo da história. Ao relatar para o cardiologista sua vida e o desejo de fazer pinturas, ele recebeu o “empurrão” que precisava. “Aí eu larguei tudo”, recorda.

Antonio Veronese
Antonio Veronese conquistou o mundo ao pintar os rostos de menores infratores mortos no RJ
Obra de arte representando rosto na parede da sua casa em Brasília
Obra de arte representando rosto na parede da sua casa em Brasília

A primeira exposição individual ocorreu na galeria Idea, de Anita Schwartz, no Rio de Janeiro, em 1990. “Ela tinha ido em Ipanema para ver um quadro de Di Cavalcante que eu estava vendendo e tinha algumas pinturas minhas no chão. Questionou de quem era, desconversei, mas conversa vai e vem falei que eram minhas. Anita disse que minha primeira exposição individual seria no aniversário de um ano da galeria dela”, exclama, pontuando que a galerista deu o pontapé da sua carreira.  

Sem acreditar no que estava acontecendo, contou a proposta para o amigo, o cantor e compositor Tom Jobim, que imediatamente se dispôs a escrever o catálogo da exposição, nomeada de Tensão no Rio de Janeiro, na qual mostrava rostos expressionistas que buscavam denunciar o estado caótico da capital.

“Não por minha causa, mas por causa dele, a mostra bombou nos jornais, no Jô Soares, Marília Gabriela, e o Jornal do Brasil deu uma página inteira pelo que ele tinha escrito”, recorda.

“Tom escreveu: ‘Rio de Janeiro, a parte que Deus fez continua linda, mas a parte dos homens vai mal. A pintura de Veronese é uma apaixonada reação civil em defesa da cidade que ele ama, que nós amamos. Nela, existem os rostos, personagens que Veronese chama de guerra civil carioca, mas também existem moças bonitas que eu, fosse um rapaz solteiro, gostaria de namorar'”.

A partir dali, fez 78 exposições individuais e 27 coletivas. Expôs quatro vezes no Museu Nacional de Belas Artes, Museu da República, galeria Contorno, Teatro dos Quatro, galeria Bonino, Museu da Cidade de São Paulo e Shopping da Gávea.

Veja algumas obras:

7 imagens
Pintura L'évêque
Pintura La vendeuse de pommes
Pintura La Brésilienne
Pintura La Fille en Rouge
Pintura La bourgeoise
1 de 7

Pintura La petite fille

Antonio Veronese
2 de 7

Pintura L'évêque

Antonio Veronese
3 de 7

Pintura La vendeuse de pommes

Antonio Veronese
4 de 7

Pintura La Brésilienne

Antonio Veronese
5 de 7

Pintura La Fille en Rouge

Antonio Veronese
6 de 7

Pintura La bourgeoise

Antonio Veronese
7 de 7

Pintura La Moine du Tibet

Antonio Veronese

Além dos rostos Veronese pinta nus que retratam a complexidade do corpo feminino. Esses corpos receberam da crítica francesa a classificação de expressionismo orgânico.

Fora do Brasil, suas obras foram expostas na ONU em Nova York, no Museu Italo-Americano e no Instituto Italiano de Cultura, em São Francisco, nos Estados Unidos. No Carrousel du Louvre, Unesco e Museu Histórico de Saint-Cloud em  Paris, além de exposições em Dubai, Japão, Alemanha, Suécia, Canadá, Chile e Portugal.

Pouco antes de se mudar para a França, Antonio Veronese fez sua primeira mostra na Chapelle de l’Humanité (Capela da Humanidade, em português), em Paris. O acontecimento foi definido pelo pintor como um “acidente extraordinário”.

“O Le Figaro, importante jornal francês, me deu meia página no caderno de cultura. Não conhecia ninguém lá e não tinha assessoria de imprensa”, conta.

Pintura Antonio Veronese
Pintura feita por Antonio Veronese

Luta a favor das crianças brasileiras

O Le Figaro definiu a arte do ítalo-brasileiro como expressionismo orgânico. Em seus trabalhos ele busca reagir a tudo que o desconforta. “Sempre digo que a fome faz adormecer os privilegiados e despertar os desprovidos de tudo”, exprime. 

Pintura Antonio Veronese
Pintura de Antonio Veronese sendo usada como fundo de uma entrevista de Chico Buarque
Pintura Antonio Veronese
Antonio Veronese trabalha com o expressionismo

Antes de deixar o Brasil, ele deu aulas de pintura e música clássica para menores infratores nos Institutos João Luiz Alves, Padre Severino e Santos Dumont no RJ, e no Caje, de Brasília.

Ver a realidade daqueles jovens deixou marcas profundas na vida do pintor de reconhecimento mundial. Em 1999, Heloísa Lustosa, presidente do Museu Nacional de Belas Artes do Rio, o convidou para uma exposição no espaço.

Antonio com alguns desenhos
Antonio sentado na escada da sua residência. Vários desenhos enfeitam a parede.

“Ela me levou na sala, que era enorme, e eu falei: ‘Como vou encher essa sala?’. Ali eu tive a ideia de fazer a denúncia dos 600 meninos que são assassinados por ano na cidade. Ainda que eu não os conhecesse pessoalmente, quis dar a cada um deles uma imagem, um retrato para que pudéssemos refletir sobre esse genocídio de menores. Ali, abri a caixa de pandora”, contou à Coluna Claudia Meireles. 

Sucessivas exposições com rostos rodaram o mundo. A reação do público e da imprensa foi muito boa, segundo Antonio.

“Eles percebem as denúncias que quero fazer, não é algo decorativo. Para mim, a pintura é uma maneira de espernear”. 

Antonio Veronese com sua obra
Antonio Veronese ao lado de sua pintura

Em 2003, o artista mudou-se definitivamente para a França. Sem qualquer vontade de retornar ao país, ele se desconectou por completo. No exterior, recebeu todo o prestígio que merece.

Mesmo diante das injustiças encontradas nas terras tupiniquins, ele retornou à Brasília e exalta a beleza que só nós temos. “ Eu venho para cá, acordo pela manhã, saio na varanda do quarto e tem araras cantando, tucanos, o céu azul. Vem a sinfonia de Tom Jobim na cabeça”, relata sorrindo. 

Sucesso mundial

Graças à sua pintura que nas décadas de 1980 e 1990 denunciava a violência contra crianças encarceradas no Brasil, Antonio recebeu do Supremo Tribunal de Justiça a menção honoris causa, sob indicação do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas (ILANUD).

Ele é o autor de Save the Children, símbolo do 50º aniversário das Nações Unidas; e Just Kids, símbolo da UNICEF. Assim como La Marche, exibida no Parlamento do Brasil desde 1995; e Famine, exibida desde 1994 na Food Agriculture Organization for United Nations (FAO), em Roma.

Obra Just Kids
Antonio pintando o painel Just Kids, símbolo da UNICEF

“O Famine eu doei para o Betinho da Ação da Cidadania, em 1994. Ele fazia campanha de combate à fome e eu quis fazer um painel para denunciar a situação. Falei para vender e juntar dinheiro para a campanha, mas ele se recusou e disse que seria o símbolo da luta”, revela.

Antonio Veronese
Obra Famine

Em 1995, foi escolhido para representar o Brasil nas comemorações dos 50 anos da Organização das Nações Unidas. Em 1998, foi convidado para a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra e, no mesmo ano, representou o Brasil no Encontro de Esposas de Chefes de Estado em Santiago, no Chile, onde foi recebido pela esposa do presidente americano Hillary Clinton.

Futuro

Como a maioria das pessoas, Veronese sentiu o impacto da pandemia da Covid-19. Aos poucos, a rotina voltou ao normal. “Pela primeira vez na vida passei dois anos declarando zero em imposto de renda”.

Questionado se pretende se aposentar da pintura em algum momento, ele responde sem hesitar: “A gente não se aposenta. É uma pulsão”.

Antônio com alguns desenhos
Aos 36 anos ele decidiu se dedicar por completo a pintura

Antes de retornar para a França, o profissional revelou que fará uma exposição na capital federal em parceria com o fotógrafo Celso Junior. “Propus os desenhos que ele vai fotografar e ampliar”, numa mostra que vai se chamar O traço e a Escala, revelou. A mostra deve ocorrer em setembro, mas sem data definida ainda.

Antonio Veronese concede entrevista à Coluna Claudia Meireles

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