Ana Cecília Gontijo quer mudar o cenário do teatro musical em Brasília
A atriz se prepara para dar vida à personagem Donna, de Mamma Mia, em 11 de junho, no Teatro Levino de Alcântara, na Escola de Música
atualizado
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Com entusiasmo na fala e brilho no olhar, Ana Cecília Gontijo detalha sobre uma de suas paixões arrebatadoras: o teatro musical. A brasiliense trilha um caminho de sucesso, fruto de intenso estudo e dedicação.
Recentemente, assinou pela primeira vez a produção de um espetáculo, no caso, Um Dia Qualquer, em que também esteve como uma das protagonistas. Agora, ela se prepara para dar vida e voz à personagem Donna, de Mamma Mia, a partir de 11 de junho, no Teatro Levino de Alcântara, na Escola de Música de Brasília.
Prodígio é a palavra que define bem Ana Cecília. Enquanto produzia e atuava em Um Dia Qualquer, no Teatro Engrenagem, até o último fim de semana, a atriz ensaiava para Mamma Mia, sem contar o processo de elaboração do trabalho de conclusão de curso (TCC) na graduação de arquitetura pelo UniCeub.
A vontade de impulsionar o segmento de teatro musical em Brasília e trabalhar com o que ama norteiam os passos da artista. Somada a essa aspiração, está o apoio da mãe, Melissa Gontijo, e de outros familiares.
Início de uma paixão
Em entrevista à Coluna Claudia Meireles, Ana Cecília contou que o amor por teatro musical aflorou aos 8 anos. Na ocasião, ela foi assistir A Noviça Rebelde no Rio de Janeiro.
“Eu amei, fiquei apaixonada. Depois, comecei a gostar muito e a pesquisar tudo”, lembra. Eis que em uma das buscas, a brasiliense se deparou com O Fantasma da Ópera. “Fiquei obcecada. Eu tinha uns 10 anos e só queria saber disso. Escutava apenas o CD de O Fantasma da Ópera. Depois, vi o filme e fiquei somente vendo ele”, completa.
Após assistir ao filme e escutar o CD, a garota criou um vínculo com a publicação literária de O Fantasma da Ópera. Aos 13 anos, foi a vez dela mudar o disco, ou melhor, o espetáculo. “Depois, veio Os Miseráveis. Também li o livro e fiz um amigo da escola ler”, recorda.
Melissa chegou a encontrar o colega de classe da filha. Na ocasião, quando soube da mobilização, ficou surpresa: “O menino me falando tudo e eu perguntei como ele sabia, então, me respondeu: ‘Ana Cecília me colocou para ler’.”
Ana Cecília passou a fazer teatro por ser muito tímida e sua irmã gêmea, Ana Maria Gontijo, decidiu que iria seguir a carreira de atriz.
“Eu fui junto. Néia e Nando, Teatro Caleidoscópio, que nem existe mais, fui indo. Eu gostava, mas não amava”, rememora. Foi nas atividades propostas pela Escola Americana de Brasília, onde a jovem estudava, que ela se apaixonou pela modalidade artística. Na ocasião, ela atuou na peça Sonho de Uma Noite de Verão, de Shakespeare: “Aponto como o começo de tudo, pois passei a levar a sério”.
“Foi a primeira vez que senti e falei: ‘Meu Deus, eu gosto disso’. Depois, eu não parei mais assim, fui fazendo todos os musicais e todas as peças da escola. Participei de tudo”, compartilha a atriz e produtora.
“Mente aberta”
Com um currículo vasto de cursos, Ana Cecília esteve em Harvard aos 17 anos. A convite da universidade, ela foi para os Estados Unidos, onde faria um intensivo de escrita criativa. Como poderia escolher outra matéria, a brasiliense elegeu o teatro musical por gostar da vertente.
A garota retornou dos EUA com “a mente aberta” e com o sonho de seguir carreira artística. A jovem bateu o martelo no que iria se profissionalizar.
Quando se formou no colégio, Ana Cecília estava cheia de sonhos e ficou deprimida por se ver longe das atividades teatrais. Na hora de escolher a graduação, ela optou pela arquitetura, justamente por poder lidar com a veia artística e criativa. Também não bastou muito tempo para entrar na Escola de Teatro Musical de Brasília (ETMB). A intérprete de Donna no musical Mamma Mia estudou na instituição até o fim do ano passado.
“Lá, eu aprendi tanto, porque quando entrei, sabia um pouco de teatro e era uma ótima cantora, porque fazia aula de canto há uns anos, mas não tinha conhecimento de nada de dança. Todo mundo ia para a direita e eu ia para a esquerda”, comenta aos risos. Ao notar a grandiosidade do talento dos colegas, Ana Cecília lançou na imaginação o desejo de montar musicais.
“Na ETMB, eu conheci ótimos profissionais, só que não tínhamos a oportunidade de apresentar fora as montagens que fazíamos dentro da escola, que era uma por ano. Brasília é um lugar com muita gente talentosa e bons atores, porém todo mundo acaba saindo para São Paulo ou o Rio, porque aqui não temos muito teatro profissional”, reitera. Ao presenciar as queixas da filha, Melissa Gontijo sugeriu: “Vocês podiam muito bem montar um musical”.
“Vou produzir um musical”
Entre tantos pensamentos, a jovem atriz conversou com a professora de canto, Ana Paula Plá, do estúdio Meu Canto, e fez o convite. Para alegria de Ana Cecília, a resposta foi um “sim”.
“Meio que juntou tudo e ela conhecia o pessoal da Trupe Trabalhe Essa Ideia. Fizemos uma reunião e explicamos a ideia do projeto de montar um musical menor para começar. Sempre quis Um Dia Qualquer, porque eu conhecia e era off-Broadway em 2008”, esclarece.
“Sobre Um Dia Qualquer, eu sabia que era um musical que dava muito foco para os quatro personagens. Considero importante não ter só um personagem principal dando a chance para que todo mundo tenha espaço e é um musical inteiramente cantado”, pondera. A produção englobou 12 profissionais, desde os atores em cena até o tradutor das canções para a língua portuguesa. O espetáculo teve a duração de 90 minutos.
Inspirações
A veia artística de Ana Cecília está no sangue, afinal, suas duas bisavós caminharam nesse universo nas décadas de 1930 e 1940. De acordo com a mãe da atriz, Melissa, a matriarca da família, Neusa Baeta, com 102 anos, sente orgulho da bisneta por ela fazer teatro.
Além das ascendentes, a jovem produtora vê a mãe como grande inspiração. “Ela sempre me apoiou muito”, endossa.
Durante a entrevista, Melissa relembrou de uma conversa realizada com Ana Cecília a respeito de seguir uma carreira no teatro musical: “A pessoa tem de fazer o que a faz feliz. Se ela gosta disso, eu falo: ‘Minha filha, faça’. Digo a ela para seguir os caminhos que a vida a mandou e não anular as preferências por conta de arquitetura. A vida é simples, nós a complicamos. Se ela ama a escolha, naturalmente irá ser boa por se dedicar, focar e fazer cursos. É algo intrínseco por não ser tão forçoso”.
Fora as bisavós e a mãe, Ana Cecília coleciona outras referências. “Meus professores, principalmente, são muita inspiração para mim. A minha diretora do Mamma Mia, a Isabela Bianor, arrasa muito. De São Paulo, têm a Myra Ruiz e a Kiara Sasso. Da Broadway, é difícil escolher. A Julie Andrews, eu a adoro, principalmente, por causa do musical A Noviça Rebelde”, lista.
Favoritos
Embora “ame” A Noviça Rebelde, o espetáculo não ocupa o primeiríssimo lugar do rol de favoritos de Ana Cecília. No top 1 está O Fantasma da Ópera, seguido de Wicked e de Se Essa Lua Fosse, de Vitor Rocha, autor descrito pela jovem prodígio como “muito bom profissional”.
Ela complementou: “Os musicais dele são autorais brasileiros incríveis”. Em relação à Mamma Mia, em que irá atuar no papel de Donna, a brasiliense aprendeu a gostar após entrar para o elenco e ensaiar.
Ser atriz é…
A possibilidade de dar vida a diversos personagens é a melhor parte de ser atriz, conforme elucida Ana Cecília Gontijo. “Quando você trabalha como ator meio que resgata algo da época de criança, de brincar de fingir. Eu gosto muito disso de poder viver vidas diferentes. Há personagens, a exemplo da Debby, de Um Dia Qualquer, e da Donna, de Mamma Mia, que não têm nada a ver comigo, mas também consigo identificar e enxergar detalhes de mim dentro delas, às vezes particularidades que eu nem sabia, porém descobri”, frisa.
“Todo mundo acaba pegando do personagem e, depois, não larga mais. Às vezes, trazemos de alguma maneira o jeito de andar e de pensar sem perceber mesmo. Também colocamos algo de nós no personagem, sabe? Ele pode não parecer comigo, mas sempre terá alguma coisa sua. No caso, você absorve o que não é seu e dá o que é seu ao personagem. Uma troca”, reforça Ana Cecília. Após fazer a explicação, ela recordou que o seu primeiro espetáculo foi o Grande Teste, no extinto Teatro Caleidoscópio.
Realidade de produtora
No papel de produtora, Ana Cecília ficou impressionada com a quantidade de trabalhos na montagem para fazer a engrenagem do teatro musical rodar. “Eu nunca tinha produzido nada. Eu vi mais a parte técnica, do som, da iluminação e como é interessante esse processo de aprendizagem. Recomendo a todos os atores produzirem algo uma vez na vida para ver como fica nos dois lados”, orienta.
Brasília, como polo de teatro musical
Em busca de montar mais teatros musicais na capital federal, Ana Cecília Gontijo tirou o Cadastro de Entes e Agentes Culturais (CEAC) a fim de conseguir subsídio para produzir a segunda temporada de Um Dia Qualquer pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC).
“É dificílimo, pois existem muitos projetos bons, mas eles selecionam poucos”, destaca. Ao contrário de uma série de artistas, a jovem atriz e produtora não pretende sair de Brasília. Ela quer fortalecer o teatro musical na cidade.
Ao contrário dos atores que passam a fazer sucesso na capital federal e logo correm para Rio e São Paulo, Ana Cecília só pensa em desembarcar nas cidades para algum curso. Na listagem de futuros projetos, ela enfatiza sobre a meta de montar mais musicais.
“Não sei quais ainda, entretanto estou pensando com a galera da Trupe Trabalhe Essa Ideia. Já estamos pensando nos próximos. Nós começamos pequeno e queremos algo um pouco maior, com 10 a 15 atores. Só não decidimos o que”, atesta.
Com mil e um objetivos, Ana Cecília não se vê fora de Brasília: “Quero continuar fazendo e trazendo mais teatro musical para a cidade, porque tem público e profissionais talentosos”. Sobre a falta de oportunidades, a atriz espera e não medirá esforços para mudar esse cenário. “Fica difícil manter um espetáculo por temporada, mas quero trazer isso para cá. Quero e vou continuar na parte cultural de Brasília”, finaliza.
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