metropoles.com

Advogada de Cíntia Chagas fala sobre mulheres saírem de ciclo violento

Advogada de Cíntia Chagas, Gabriela Manssur frisa que as mulheres que expõem sofrer violência impulsionam outras a buscarem ajuda

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Imagem cedida ao Metrópoles/Reprodução/Instagram
Gabriela Manssur
1 de 1 Gabriela Manssur - Foto: Imagem cedida ao Metrópoles/Reprodução/Instagram

“A violência não vê classe; não vê cor; não vê origem; não vê idade; não vê orientação sexual, religião, ideologia política. Qualquer uma de nós [mulheres] está sujeita”, destaca a advogada Gabriela Manssur.

Em entrevista à coluna Claudia Meireles, a presidente do projeto Instituto Justiça de Saia e fundadora da iniciativa Justiceiras discorre sobre a sua efetiva atuação no combate à violência doméstica e na defesa de mulheres que sofrem abusos, assédios e agressões. Ela atua no processo judicial movido pela influenciadora digital Cíntia Chaves, contra o ex-marido, o deputado estadual Lucas Bove (PL-SP).

Em setembro, Cíntia registrou um boletim de ocorrência de violência doméstica contra o deputado. Ele teria atirado uma faca em direção à então esposa depois que ela se negou a parar de jantar para tirar uma foto com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e Michelle Bolsonaro, em um casamento no interior de São Paulo. No BO, a influenciadora relatou ficar com um ferimento na perna devido ao ato de Lucas. O pedido de medida protetiva foi acatado pela Justiça e a juíza responsável pelo caso determinou o divórcio compulsório do casal.

6 imagens
Cíntia Chagas é professora de português e influenciadora
Bolsonarista, o deputado estadual Lucas Bove (PL-SP) foi acusado de agredir a ex
A mineira Cíntia Chagas e o paulista Lucas Bove se casaram em maio deste ano
Após a denúncia de violência doméstica, a Alesp recebeu pedidos de cassação do mandato de Lucas Bove (PL)
A influencer e o deputado estadual de SP anunciaram a separação poucos meses depois do casamento
1 de 6

A defesa de Cíntia Chagas pediu a prisão de Lucas Bove na sexta-feira (18/10)

@cintiachagass/Instagram/Reprodução
2 de 6

Cíntia Chagas é professora de português e influenciadora

@cintiachagass/Instagram/Reprodução
3 de 6

Bolsonarista, o deputado estadual Lucas Bove (PL-SP) foi acusado de agredir a ex

@lucasbovesp/Instagram/Reprodução
4 de 6

A mineira Cíntia Chagas e o paulista Lucas Bove se casaram em maio deste ano

@cintiachagass/Instagram/Reprodução
5 de 6

Após a denúncia de violência doméstica, a Alesp recebeu pedidos de cassação do mandato de Lucas Bove (PL)

Alesp/Reprodução
6 de 6

A influencer e o deputado estadual de SP anunciaram a separação poucos meses depois do casamento

@cintiachagass/Instagram/Reprodução

“Quebrar o ciclo da violência e buscar ajuda”

Quanto ao caso que está em segredo de Justiça, Gabriela declara que Cíntia Chagas se encontrava tão inserida em um ciclo de violência que não enxergava as consequências. “Ela estava adoecendo e em uma situação cada vez mais intensa de risco e de lesão aos direitos”, pontua. Conforme perícia técnica psicológica, a influenciadora desenvolveu “ansiedade, angústia, medos, bruxismo e intensa queda de cabelo” por conta do comportamento do ex-marido e dos efeitos gerados pela violência psicológica sofrida.

Gabriela Manssur
A advogada Gabriela Manssur atua na defesa dos direitos das mulheres

Para Gabriela Manssur, a influenciadora digital e professora de português “parecia estar com um véu sobre os olhos”. “Uma mulher linda, talentosa, lutadora, corajosa, rica, em pleno sucesso profissional, estava se deixando levar para o buraco”, cita. Na avaliação da advogada, tanto Cíntia Chagas quanto outras mulheres que são figuras públicas e expuseram ter sofrido violência doméstica deram — até sem saber — coragem para outras revelaram abusos e agressões enfrentados.

Segundo a advogada, mostrar que mulheres “ricas, escolarizadas e famosas” também sofrem violência pode também impulsionar para que outras nas mesmas situações se sintam encorajadas a “romper o obstáculo do medo, da vergonha e da insegurança de quebrar o ciclo da violência e buscar ajuda”. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2021, indicaram que uma a cada três mulheres em todo o mundo sofre violência física ou sexual.

“Quando a mulher tem uma voz que alcança milhares de mulheres, e se, claro, ela se sente confortável em expor a sua história, indubitavelmente, é um processo muito eficaz”, enfatiza a presidente do Instituto Justiça de Saia sobre a exposição de casos de personalidades femininas vítimas de violência. Ela emenda: “Quando uma voz que faz eco se propaga, muitas mulheres se identificam e se sentem seguras e encorajadas para dizerem: ‘Eu também!’. A voz de uma mulher pode salvar muitas outras da violência.”

Gabriela Manssur - Justiceiras
Gabriela defende a influenciadora digital e professora de português Cíntia Chagas, que acusa o ex-marido, o deputado estadual Lucas Bove (PL-SP), por uma série de violências

Voz que salva e dá coragem

Antes de advogar em defesa das mulheres vítimas de violência, Gabriela Manssur esteve no papel de Promotora de Justiça por 20 anos. Entre tantos processos em que atuou, um dos mais emblemáticos foi o do João de Deus, condenado a mais de 118 anos de prisão por crimes de estupro de vulnerável e de violação sexual mediante fraude. Durante a entrevista, ela rememorou a importância da identificação e poucas vozes femininas mobilizarem tantas outras.

“Lembro-me do caso João de Deus — que, no início, eu tinha apenas três vítimas. Junto à imprensa e com o apoio institucional do Ministério Público, arquitetamos uma força-tarefa e, com a exposição da história dessas três vítimas na imprensa, em menos de 48 horas, fui procurada por mais de 200 vítimas do João de Deus”, recorda a ex-promotora. As denúncias contra o médium surgiram em 2018 e a condenação ocorreu em setembro de 2023.

Alvo

Atuar na defesa de mulheres vítimas de abusos, assédios e agressões não isenta a fundadora da iniciativa Justiceiras de também ser vítima de comentários depreciativos na internet. Pelo contrário: a tornou um alvo. “Percebi que os ataques não são direcionados a mim, enquanto promotora, advogada ou Gabriela Manssur”, explica. Ela explana quanto ao motivo dessas críticas acontecerem: “O ataque é contra mulheres que, de alguma forma, abrem portas para outras mulheres saírem da violência.”

Gabriela Manssur
Para a presidente do Instituto Justiça de Saia, uma mulher, quando tem uma voz que alcança milhares de outras mulheres, consegue impactar e incentivar vítimas a saírem do ciclo de violência

“O ataque é contra mulheres que desmascaram homens agressores, que muitas vezes, estão escondidos sob o manto da impunidade, da profissão, do poder econômico, do cargo, da liderança espiritual ou religiosa, e até do poder familiar”, avalia.

Diante de determinadas manifestações, Gabriela aciona a Justiça: “O que configura crimes e ofensas à minha honra, à minha reputação, à minha imagem, à minha privacidade e, principalmente, venha macular um legado ilibado que construí e que venho construindo, tomo as providências jurídicas necessárias.”

A presidente do Instituto Justiça de Saia toma essas medidas como uma forma de se proteger e, indiretamente, de salvaguardar as mulheres que defende judicialmente. “Sempre atuei e atuarei de forma ética, técnica e apaixonada pelo que eu faço”, alega.

O fascínio pelo direito está no DNA de Gabriela. Filha da advogada Regina Manssur, ela acompanhou a trajetória da mãe de perto e isso foi um dos quesitos que a suscitou em seguir a profissão. “Não sei se por vontade de Deus ou por missão de vida”, recorda.

Advogada de família, Regina Manssur tinha de lidar com “casos de mulheres que sofriam vários tipos de violência, sem ter onde pedir ajuda e sem ter quem escutasse suas vozes”, conforme relembra a ex-promotora. Mal sabiam as vítimas que as confissões de abusos e agressões eram ouvidas por Gabriela e as tristes histórias serviram como um “chamado” profissional para a adolescente. As narrativas desencadearam na jovem o desejo de “dar voz a todas elas”.

Foto colorida de mulher com toga - Metrópoles
Defender as mulheres está no DNA de Gabriela, filha de advogada

“Na verdade, eu nasci com essa vontade, está no meu DNA, é algo indissociável da minha pessoa, é muito mais que um trabalho, que uma profissão, é a minha própria vida”, alega a advogada.

Ela acrescenta: “E foi assim, unindo o amor pelo direito, o sentimento de indignação e a vontade de salvar aquelas mulheres que passei a me dedicar quase que exclusivamente aos estudos para ingressar no Ministério Público do Estado de São Paulo e poder fazer a diferença na vida das vítimas que batem nas portas da Justiça e precisam de proteção da própria Justiça.”

“Quem salva uma, salva todas”

“Quem salva uma, salva todas”, diz Gabriela Manssur

Na função de promotora, Gabriela Manssur sentiu que precisava ir além, principalmente na defesa dos direitos das mulheres. “Passei a perceber a necessidade de alterações e inovações legislativas sobre os direitos das mulheres, como ampliação do acesso à Justiça, à saúde, à autonomia financeira delas, à fiscalização das medidas protetivas de urgência, à capacitação das autoridades que atuam no combate à violência contra a mulher e punição mais rigorosa para os autores de violência”, lista.

Comprometida com a causa, a promotora resolveu se lançar como candidata à deputada federal por São Paulo. “Acabei não obtendo êxito na minha eleição”, afirma. De uma hora para outra, ao se ver sem o cargo no Ministério Público, ela precisou arregaçar as mangas e se valer do que tinha: conhecimento jurídico. “Inaugurei o escritório Gabriela Manssur Advocacia para Mulheres, e hoje sinto-me realizada, podendo ajudar cada vez mais mulheres, de qualquer parte do país e do mundo”, garante.

Foto colorida de mulher em biblioteca com a capa de um livro na frente do rosto - Metrópoles
A advogada Gabriela Manssur atuou como Promotora de Justiça por 20 anos

Com mais liberdade para focar nos projetos do Instituto Justiça de Saia — no qual é presidente — e ampliar o impacto social, a advogada deu ênfase na iniciativa Justiceiras, que integra atendimento multidisciplinar on-line jurídico, socioassistencial, rede de apoio, acolhimento e psicológico.

Ao longo de quatro anos e meio, já foram realizados mais de 17,6 mil atendimentos no Brasil e em 27 países. Em torno de 16 mil voluntárias contribuem com a empreitada, entre elas, advogadas, psicólogas e assistentes sociais. “Quem salva uma, salva todas”, conclui.

Você pode pedir ajuda ao Projeto Justiceiras pelo número de WhatsApp (11) 99639-1212, pelo site justiceiras.org.br ou pelo Instagram @justiceirasoficial.

Para saber mais, siga o perfil de Vida&Estilo no Instagram.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?