A monarquia sobreviverá sem Elizabeth e com o rei Charles no poder?
Desde a morte da rainha, paira a pergunta se a monarquia conseguirá sobreviver sob o comando de Charles? Especialistas e súditos respondem
atualizado
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Eis a pergunta de milhões: a monarquia britânica conseguirá sobreviver sem a falecida rainha Elizabeth II e sob o comando do rei Charles III? A dúvida parece rodear o pensamento de vários súditos e de admiradores da dinastia Windsor. Diante da demanda pela resposta do questionamento, a imprensa recorreu a historiadores, especialistas reais e pesquisas de opinião pública.
De origem britânica, o jornal The Guardian publicou no último dia do funeral de Elizabeth — em 19 de setembro — um artigo opinativo do colunista Simon Jenkins. O texto recebeu o título: “Toda essa pompa e esplendor prova isso: sem nosso apoio, a realeza não pode sobreviver”. Já o site europeu Politico resolveu ir pelo caminho inverso ao criar a seguinte manchete: “A rainha está morta. A monarquia é a próxima?”.
Pesquisas
Antes da rainha falecer pacificamente no Castelo de Balmoral, na Escócia, a Coluna Claudia Meireles costumava se deparar com pesquisas em portais de notícias que mostravam a baixa aceitação de Charles como rei do Reino Unido. Publicado em março, um levantamento feito pela empresa líder internacional de pesquisa de mercado, a YouGov, revelou que um em cada cinco britânicos se opõe à monarquia.
Com a dança das cadeiras na monarquia, a empresa solicitou uma nova pesquisa no mês passado. De acordo com o site estadunidense Vice, o soberano de 73 anos “está atualmente em uma onda de boa vontade”: “Os dados do YouGov descobriram que 63% acham que Charles será um bom rei — acima dos 39% em março — enquanto apenas uma quinta parte acredita que ele não está à altura do trabalho. Mas será que vai durar?”, questionaram, no levantamento.
“Embora quase 64% permaneçam a favor, esse apoio caiu drasticamente nos últimos 10 anos”, destacou a YouGov. Um dos motivos para a queda de aprovação pode ser respondida pelos jovens. Somente quatro em cada 10 pessoas de 18 a 24 anos concordam com o sistema monárquico. Correspondente do Metrópoles em Londres durante o funeral de Elizabeth, a repórter Rachel Sabino conversou com britânicos a respeito do assunto.
Súditos
Uma das entrevistadas, Hannah Emery, de 22 anos, afirma ser “indiferente” à instituição. “Não sou a favor. Eu não acredito que a nossa sociedade atual precise de uma monarquia”, argumenta. A designer de moda Shirsti Sahoo, de 25 anos, pensa de maneira semelhante. A profissional fashion se mudou para a Inglaterra a fim de estudar. Para ela, a realeza é um reflexo histórico.
“A monarquia britânica é uma extensão de antigas tradições da Inglaterra. Os verdadeiros legisladores do Reino Unido são aqueles eleitos democraticamente”, enfatiza Sahoo. Sem querer se identificar, o chileno P. R., de 33 anos, tem um ponto de vista diferente a respeito de Charles. Ele mora na capital inglesa há mais de um ano. O sul-americano resgatou uma polêmica vivida pelo rei nos anos 1990. “Toda a história [de traição] dele com Diana e Camilla faz diferença na percepção das pessoas”, salienta.
“Charles sabe o que fazer como monarca, até porque recebeu o legado da mãe, mas ele não tem o carisma e a popularidade que a Elizabeth tinha”, endossa o chileno. A publicitária S. M., de 25 anos, também quis relatar o posicionamento sobre o assunto de modo anônimo. Ela defende a tese de que os discursos emocionais relacionados à realeza “mascaram tudo o que eles já fizeram”.
“Eles ficam disfarçados como pessoas que ajudam o povo, mas acredito que seja uma estratégia para aparecerem mais e perpetuarem esse sistema”, reforçou a publicitária. Professor de direito que escreveu um livro a respeito do futuro da Coroa, Craig Prescott alegou, em entrevista ao site Vice, que a família real precisa ser “vista para se acreditar”.
Na avaliação do professor, o objetivo de Charles de ter “uma monarquia enxuta corre o risco de ser uma instituição sediada em Londres”. Segundo Prescott, esse plano tende a ajudar os cidadãos a desenvolverem o sentimento republicano. Ele defende como política ideal buscar “espalhar o poder pelas nações e regiões do Reino Unido”. Com a missão de reduzir gastos públicos, o rei tem o desejo de enxugar o núcleo sênior real para sete integrantes.
Olho no futuro
Historiador e pesquisador sobre a realeza britânica, Alex Catharino analisa a gestão de Charles como transição. “Os cidadãos sabem disso”, alega em entrevista à Coluna Claudia Meireles. “Por mais que o reinado de Charles dure 20 anos, por exemplo, as pessoas estão de olho no futuro, nos próximos reis, William e George”, explica. No ponto do especialista, a resistência ao rei “é, de certo modo, pequena”.
Fim de uma era
Diferentemente de Catharino, a autora Hilary Mantel previu o fim da Coroa britânica dentro de duas gerações em uma entrevista dada ao jornal The Times. “É muito difícil entender o pensamento por trás da monarquia no mundo moderno quando as pessoas são vistas apenas como celebridades”, indagou. Vale ressaltar que a realeza remonta a mais de 1 mil anos. A escritora estudou a história da família real.
Se as contas de Mantel estiverem corretas, o primeiro neto do atual rei, o príncipe George, de 9 anos, não assumirá o comando do trono. Ele ocupa a segunda posição na linha sucessória da Coroa, ficando atrás apenas do pai, William. A autora fez a previsão em setembro do ano passado, um ano antes de Elizabeth morrer e de Charles passar a liderar a monarquia.
Plano infalível?
Imprensa, súditos e especialistas estão divididos quanto ao futuro da monarquia. No entanto, a posteridade da instituição dependerá da gestão de Charles. Autora de livros sobre os membros da dinastia Windsor, Katie Nicholl revelou que o rei e o sucessor ao cargo, William, alinharam um plano para a Coroa “sobreviver” e manter uma boa posição nos tempos vindouros.
Ao participar do programa televisivo Entertainment Tonight, Nicholl fez uma avaliação do cenário: “Charles chega ao reinado em uma era muito diferente, em uma época em que a monarquia precisa provar por que está lá”. Conforme garantiu a escritora, todas as iniciativas tomadas pelo rei são cuidadosamente calculadas a fim de tornar a realeza mais acessível aos súditos.
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