A inflamação contribui para a infertilidade? Especialistas avaliam
Um estudo da Harvard Medical School avaliou se a inflamação do corpo é um fator que pode contribuir ou não para a infertilidade
atualizado
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A infertilidade pode afetar homens e mulheres ao longo da vida. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em artigo publicado pela Organização Pan-Americana da Saúde, 17,5 % da população adulta — o que representa 1 em cada 6 pessoas em todo o mundo — sofre com o problema.
Neste caso, uma avaliação médica pode identificar as principais causas da patologia. Um estudo divulgado no início do ano pela Harvard Medical School avaliou se a inflamação é um fator que pode contribuir ou não para a infertilidade.
Segundo a publicação, dietas ou estilos de vida anti-inflamatórios são frequentemente sugeridos para pessoas que tem dificuldade de engravidar — mas, será que eles ajudam de fato? A Coluna Claudia Meireles conversou com três médicos para entender melhor a ligação entre esses dois fatores.
Antes de tudo, a inflamação crônica está associada a várias condições de saúde, como doenças cardiovasculares, derrames e câncer.
Por mais que não haja pesquisas claras sobre a ligação entre organismo inflamado e a incapacidade de gerar um filho, Daniely Toledo Costa, ginecologista e obstetra pela Santa Casa de Anápolis (GO), afirma que existem algumas evidências.
“O risco de infertilidade é maior em condições marcadas por inflamação, incluindo endometriose e síndrome do ovário policístico. A gente sabe que a inflamação sistêmica pode afetar diretamente o útero, o colo do útero e a placenta”, explica a fellow em reprodução humana assistida no Instituto Verhum.
A tese de Harvard aponta ainda que as mulheres que fizeram fertilização in vitro e seguiram uma dieta anti-inflamatória tiveram taxas mais altas de gravidez bem-sucedida do que aquelas que não seguiram.
“Com relação às dietas, há uma preocupação para as que estimulam a alta ingestão de gordura. Suspeita-se fortemente que exerçam efeitos particularmente negativo na ovulação, afetando a saúde dos óvulos e até a implantação de um embrião saudável. O mesmo pode valer para os homens, com prejuízo à saúde dos espermatozoides”, avalia Bruno Ramalho, ginecologista e especialista em reprodução assistida.
Acesse a pesquisa completa aqui!
Dieta anti-inflamatória x fertilidade
Uma dieta ou estilo de vida anti-inflamatório pode contribuir para a facilidade de engravidar? Segundo a endocrinologista Daniela de Paiva Rosa Amaral, há cada dia mais dados na literatura apontando que sim.
“Um mecanismo-chave descrito nos estudos está relacionado aos efeitos adversos da inflamação na fertilidade, potencialmente contribuindo para ciclos menstruais irregulares, falha de implantação de embrião e outras alterações reprodutivas”, analisa.
Alimentos à base de plantas, como frutas e vegetais, grãos integrais, leguminosas, oleaginosas (nozes, amêndoas e castanha), sementes, azeite, bem como consumo moderado de peixes e frutos do mar, laticínios fermentados com baixo teor de gordura, são alguns tipos de alimentos, que segundo a especialista, estão entre as recomendações para mulheres que possuem infertilidade.
“É importante salientar que, embora exista uma cultura disseminada de que glúten e leite são pró-inflamatórios, não há evidências científicas robustas na literatura que comprovem tal afirmação, não sendo recomendado retirar alimentos que os contenham para se conseguir ter uma dieta anti-inflamatória, exceto quando a pessoa tem intolerância ou sensibilidade a ambos”, explica Daniela, que é especialista pelo Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) e Hospital Regional de Taguatinga (HRT).
É possível que a inflamação desempenhe um papel importante e subestimado na infertilidade e que uma dieta ou estilo de vida anti-inflamatório possa ajudar, mas é necessário mais estudos para confirmar isso.
Neste caso, o acompanhamento com o médico de confiança é a melhor forma de encontrar a raiz do problema e as melhores ações para realizar o sonho da maternidade.
“É muito importante que as pessoas busquem acompanhamento por profissionais comprometidos com a ciência. Nessa área, é muito fácil se perder ou ser seduzido por promessas sem base científica, fórmulas mágicas, ‘dietas da fertilidade’ e coisas do gênero”, ressalta Bruno Ramalho, professor de medicina do UniCEUB.
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