Nós, brasileiros, morremos todos e estamos pagando penitência
A gente tá morto e acha que tá num país chamado Brasil, que nem existe. Morremos, e estamos no Umbral
atualizado
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Eu tenho uma amiga que mora em Belford Roxo, e ela me mandou uma mensagem esses dias.
Desistiu da faculdade.
Ficou desempregada, tentou ainda vender cosméticos, fez bolo. Mas não conseguiu levar adiante. Não tinha capital, não tinha segurança. O brasileiro vive num estado permanente de insegurança.
Estamos inseguros de tudo.
Se amanhã ainda terá governo. Melhor dizendo, se ainda continuaremos sem governo. Sai Bolsonaro, entra Mourão. Ruas explodem em guerra civil. Vai saber. Enquanto esse Apocalipse não se consuma, estamos vivendo com as inseguranças cotidianas. Guardar celular no bolso. Andar na rua abaixando pra não ser morto por bala perdida. Botijão de gás custa R$ 100. Esse dólar, maior cotação da história do real, em R$ 4,60, já deveria ter causado uma convulsão social.
Mas estamos estranhos.
Eu escrevo aqui, escrevo todos os dias, escrevo em outro jornal, centenas de outros colunistas, jornalistas escrevemos e parece que o povo lê, mas estamos deixando a vida nos levar.
Vejo muito engajamento no BBB. E é um engajamento que se parece, às vezes, com o engajamento com causas de militâncias. Mas nenhum deles consegue reunir pessoas o suficiente pra ir nas ruas.
E, ao mesmo tempo, me pergunto: pra quê ir às ruas? Isso ia resolver o quê exatamente? Tirar o presidente, again? O que vem depois?
Sabe, eu vou ser curto na coluna de hoje.
Eu não consigo ainda elaborar o que estamos fazendo, ao permitir que isso tudo aconteça, e dois palhaços, na saída do Planalto, debochem de jornalistas enquanto o país desaba. E entre as coisas que já não entendo mais, é como tem gente que ainda ri dos palhaços. Que ainda defende. Que ainda vai defender, mesmo que comece a ter prisão e violação direitos.
Na verdade, tem gente que vai COMEÇAR a defender quando esse tipo de coisa acontecer. Tem gente, que, na verdade, está esperando que isso aconteça.
Não sei vocês, mas eu ando pensando duas vezes antes de abrir o celular e conferir as notícias do dia. Nesse quarta-feira (04/03), ficou comprovado que Eduardo Bolsonaro tem envolvimento com as mensagens de ódio que foram disparadas em massa de um e-mail que pertence a ele, cadastrado no sistema de disparo.
Sabe o que vai acontecer com Eduardo?
Com Flávio? Com Carlos?
O vizinho de Bolsonaro foi preso ontem. A Barra da Tijuca se tornou o centro administrativo das milícias. Brasília é uma cidade dominada por eles. Brasília, quem diria. Dominada por miliciano da Zona Oeste.
Essa turma me faz olhar pra trás e achar Temer um santo.
Autoestima muito louca a do Temer. Mas na frente dessa turma?
Essa classe política é tão infeliz que, ao olhar pra década passada, eu sinto até saudade. Sérgio Cabral roubou? Muito. Assumiu. Eu vi, sujeito homem. Tá lá, em Benfica, chupando a manga.
Mas, se os critérios de prisão fossem quem fala mais atrocidades, Cabral nunca que ia parar no xadrez. Não estou passando pano no Cabral, o bicho soltou o aço em favela e eu vi. Corpo presente. É que esse poço parece que nunca vai ter fundo.
Os espíritas têm uma tese, que exista um lugar pra penitências, algo do gênero, que eles chamam de Umbral. Pra lá, vão as almas que precisam se acertar.
Tô começando a achar que a gente tá morto. E acha que tá num país chamado Brasil, que nem existe, e a gente acha que é brasileiro, que deve ser outra coisa que não existe. A gente só morreu e tá no Umbral. E Bolsonaro é tipo Hitler, que tá aqui, no Umbral com a gente, e a gente fez tanta merda quando estava vivo, que mereceu estar aqui com ele.
Acho que acabou. Morremos, e estamos no Umbral.
Chama um Chico Xavier aí, pra fazer uma comunicação com algum vivo.
Talvez essa coluna seja lida num templo espírita do mundo real e eles orem por nós.
Alô, leitores médiuns do Metrópoles, ajuda a gente.
* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.