Guia completo para o Espaço HQ na Bienal do Livro
O ambiente terá debates, palestras, filmes, sessões de autógrafos, oficinas, editoras e lojas
atualizado
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Pode-se dizer, com algum grau de certeza, que Brasília nunca viu um evento de quadrinhos tão grande, interessante e rico quanto o Espaço HQ da 4ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura. Ela ocorre no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, entre os dias 18 e 26 de agosto de 2018. O espaço dedicado à produção de quadrinhos brasileira contemporânea terá debates, palestras, filmes, sessões de autógrafos, oficinas, editoras e lojas. Coisa pra burro.
Na verdade, as atrações e reentrâncias deste evento são tantas que requerem certa organização. Por exemplo, não esqueça: a Bienal é gratuita, porém mediante cadastramento no site ou na entrada do evento. Haverá também – e cabe olhar de perto – uma ala para os quadrinistas brasilienses. A força da expressiva produção da capital vai baixar em peso neste espaço. Seja para falar sobre a cena no dia 25/08, seja em oficinas, como “Desenhando histórias em quadrinhos”, com Lucas Gehre, ou então vendendo sua própria produção. Eu mesmo participarei de debate no dia 23/08.
O evento vem coroar não apenas a produção local – que completa, em 2018, 10 anos da publicação da primeira Revista Samba, marco zero desta geração –, mas especialmente o momento do quadrinho brasileiro como um todo, que neste período obteve um expressivo amadurecimento em suas propostas, conquistando diversos prêmios internacionais e uma legião de novos leitores e artistas.
Dentre as premiações recentes mais impressionantes estão o Fauve Polar de Angoulême, na França, para Tungstênio, de Marcello Quintanilha (em 2016) e, mais recente, o prestigiado Eisner de melhor edição americana de material estrangeiro para Cumbe (como Run For It), de Marcelo D’Salete. Ambos os autores vão expor suas visões de mundo no Espaço HQ da Bienal.
Cabe, então, um comentário dia a dia para você não vacilar e perder alguma das muitas atrações interessantes:
Sábado, 18/08, 15h-17h – Abrindo o Espaço HQ em grande estilo, haverá o bate-papo A história afro-brasileira como inspiração, com o nome mais comentado dos quadrinhos brasileiros na atualidade, Marcelo D’Salete. Autor do já mencionado Cumbe, ele também ganhou notoriedade ano passado pelo lançamento de Angola Janga, a mais extensa publicação brasileira de quadrinhos em um só volume. Ficou em segundo lugar na lista ZIP de melhores de 2017. Destaco também, às 20h, a exibição do já clássico cult filme brasileiro O Cheiro do Ralo, seguido de debate com o genial quadrinista e romancista Lourenço Mutarelli. Oficinas de desenho e escrita criativa também ocorrem neste dia.
Preste atenção: D’Salete lança olhar de historiador para seu retorno ao passado colonial brasileiro, dando protagonismo aos povos escravizados, em quadrinhos com alta carga de simbolismo. Quem media o bate-papo é o jornalista Pedro Brandt (Raio Laser), também curador do espaço HQ.
Domingo, 19/08, 15h-17h – O bate-papo do primeiro domingo será Quadrinhos alternativos, com a quadrinista carioca Cynthia B, e a editora Rachel Gontijo (A Bolha). Terceiro lugar na lista ZIP de melhores de 2017, o romance gráfico Estudante de Medicina, de Cynthia, é um dos quadrinhos mais engraçados e sagazes da nossa produção contemporânea. Oficinas de desenho e escrita criativa também ocorrem neste dia.
Preste atenção: os quadrinhos de Cynthia podem ser espirituosos, aloprados e sarcásticos, mas, de maneira sub-reptícia, desenham um elaborado quadro crítico da sociedade brasileira.
Segunda, 20/08, 19h – Agora é a vez de dois artistas certeiros do mundo das tiras discutirem, no bate-papo Inspiração no cotidiano, os desdobramentos da produção diária para mídias como jornal e internet. Para acompanhar o indomável brasiliense Caio Gomez, vem de São Paulo Ricardo Coimbra, uma figura niilista capaz de atirar implacavelmente contra a hipocrisia social brasileira, seja de qualquer espectro identitário ou político.
Preste atenção: ambos os debatedores são sucesso gigante na internet, onde suas tiras ganham milhares de compartilhamentos de pessoas anônimas. Os desdobramentos deste espaço de divulgação e manifestação pública serão discutidos no bate-papo.
Terça, 21/08, 19h – O debate neste dia será especial porque o convidado de fora não será um quadrinista, e sim um editor e digital influencer. O carismático Daniel Lopes está à frente do adorado canal de YouTube Pipoca e Nanquim, que se transformou em prestigiada editora de quadrinhos em 2017. Para acompanhá-lo, teremos uma lenda viva do quadrinho brasiliense: Lima Neto, professor e ilustrador, dono do santuário das HQs em Brasília, a loja Kingdom Comics.
Preste atenção: o tema do debate será Mercado de quadrinhos, e serão discutidos assuntos como a expansão do público nos últimos anos, as dificuldades das lojas físicas diante das virtuais, além de procedimentos específicos de editoração.
Quarta, 22/08, 19h – A quadrinista paulistana Cristina Eiko (autora do hit indie Quadrinhos A2) se junta ao estilo fofíssimo da brasiliense Renata Rinaldi para discutir O poder do mangá. O foco será na influência das HQs japonesas na produção voltada ao público jovem. Às 20h teremos a exibição do filme Tungstênio, ótima adaptação do impactante quadrinho de Marcello Quintanilha, seguido de debate com o próprio, que vem de Barcelona para o evento. Imperdível.
Preste atenção: Quadrinhos A2 (que Eiko faz com Paulo Crumbim) é uma deliciosa, irreverente e absurda visão do cotidiano, muito além de mera influência do mangá. O recente quadrinho Culpa, de Eiko, é também um perfeito exemplo de economia e profundidade aliados ao carisma e à simplicidade.
Quinta, 23/08, 19h – Neste dia terei o prazer de mediar o debate O Brasil como inspiração com Marcello Quintanilha, autor de romances gráficos reconhecidos como obras-primas em vários cantos do mundo. A visão clínica e psicologicamente sofisticada que o autor coloca, em quadrinhos, para cada classe social brasileira supera, em minha opinião, os romancistas brasileiros da atualidade.
Preste atenção: Quintanilha possui distinção e olhar diferenciado para vários aspectos da produção de HQs, além de ser um ilustrador cuja personalidade no traço interfere diretamente no sentido das histórias. Sua presença certamente é um dos pontos mais altos da Bienal.
Sexta, 24/08, 19h – O veterano desenhista Gustavo Machado é outra atração cult do Espaço HQ. Oriundo dos anos 1970 e tendo feito coisas como Zé Carioca e Os Trapalhões (que ilustra a capa desta matéria), ele vem falar sobre como viver de quadrinhos, em bate-papo mediado pelo jornalista Pedro Brandt.
Preste atenção: Machado foi o ilustrador de Zózimo Barbosa, HQ inteligente e old school sobre o Rio de Janeiro dos anos 1950, que recentemente virou série na Globo.
Sábado, 25/08, 15h – Fechando o Espaço HQ estarão representantes distintos do quadrinho de Brasília para discutir as condições locais de produção. Lucas Gehre, autor das populares Quadradinhas, tem um estilo intuitivo e poético. O colorista Felipe Sobreiro faz trabalhos para as grandes editoras americanas, como Marvel e Dark Horse. Nestablo Ramos já acumula vários anos de produção autoral. E LoveLove6, autora do sucesso Garota Siririca, é um dos nomes mais originais surgidos na capital. De quebra, às 18h30, quem manja de desenho poderá conferir a Apresentação da produção de uma página de HQ, com Gustavo Machado. Chave de ouro?
Preste atenção: este será um momento importante de balanço para estes 10 anos da geração mais significativa dos quadrinistas brasilienses. Além dos autores no bate-papo, nos sábados e domingos diversas publicações destes e outros artistas poderão ser adquiridas na ala dos independentes. No Domingo, terminam as oficinas.