Relacionamento e política mobilizam duas peças com temática gay
“Virilhas” e “O Filho do Presidente” discutem dramas pessoais e questões das minorias no processo eleitoral
atualizado
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Duas peças de teatro com temáticas LGBTs estrearam no último final de semana. “Virilhas”, um drama pessoal e intimista, e “O Filho do Presidente”, que discute diretamente política partidária e institucional das minorias numa eleição americana.
“Virilhas” tem texto e direção de Alexandre Ribondi, tradicional artista da nossa capital. Na peça, Luís e Fernando estão presos em um apartamento. Ali está acontecendo um sequestro, mas a gente não percebe de cara. Ah, sim, os dois atores passam o espetáculo inteiro pelados.
Houve o fim do relacionamento há 12 meses e 9 dias, mas todas as dores e angústias desse desfecho estão vívidos como no primeiro dia da separação. Na verdade, a dor é abafada e tem cheiro de virilha suada, como o cenário traduz tão bem o odor que a gente não sente, mas intui.
Eu gosto muito da sugestão de que aqueles dois homens, interpretados por Luís Ferrara e Fernando Oliveira, na realidade são as personificações do Amor e do Tesão, cada um com a sua beleza e seu poder devastador quando fora de controle. E quem já viveu um relacionamento – ou o fim dele –, sabe exatamente do que eu estou falando quando estes dois sentimentos se engalfinham e se combinam.
“O Filho do Presidente” é o primeiro texto do autor americano Christopher Shin a ganhar uma montagem no Brasil, com direção de Marcus Faustini. O idealizador do projeto é Felipe Cabral, roteirista e diretor de curtas de sucesso no YouTube (como “Gaydar” e “Aceito”). É Felipe também quem estrela a peça, junto com Anselmo Vasconcelos e Ingra Liberato.
Anselmo é John Sr., candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos, e Felipe é John, o filho gay universitário. Durante a apuração dos votos da eleição, John é fotografado numa festa fantasiado de Maomé e seu melhor amigo de Pastor Bob, importante apoiador da candidatura de seu pai.
Posturas públicas oficiais se esbarram no conflito familiar em “O Filho do Presidente”. É curioso que as duas peças deste texto se passam em um único cômodo de uma casa, ao mesmo tempo que seus caminhos têm sentidos completamente opostos: o sentimento mais íntimo e pessoal, como o amor de um casal, não impede que o momento político se apresente na DR, assim como não há declaração oficial de um político que não carregue a verdade do seu lar.
“Virilhas” — Teatro Casa dos Quatro, 708 norte, Brasília. Até 19 de novembro.
“O Filho do Presidente” — Caixa Cultural do Rio de Janeiro, Teatro Nelson Rodrigues. Até 19 de novembro.