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O sonho de ser servidor público não depende só de estudo

Alinhar a mentalidade e o inteligência emocional tem tanto peso na aprovação quanto as provas

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Faz parte do imaginário geral pensar que para se tornar servidor público basta se sentar e estudar. Como se, com um passe de mágica, os medos do sucesso e do fracasso, as preocupações, as atividades e todas as demais funções da vida deixassem de existir quando um livro é aberto ou o é dado play em uma videoaula. Há um quesito que só é revelado aos concurseiros quando a empolgação inicial acaba e a rotina cansativa começa a mostrar o que não estava previsto em nenhum planejamento.

Para a maior parte das pessoas que se inscrevem em um concurso público, trabalhar para o governo é um meio de fazer parte do mercado de trabalho negando outras opções, como a iniciativa privada ou o empreendedorismo. É por essa razão que, ao serem perguntados sobre suas motivações para se matricular em um curso ou ir fazer as provas, respondem sem pensar que são o salário e a estabilidade.

Existe um abismo entre os que se inscrevem como quem joga em uma loteria e espera acertar os números sorteados e os que realmente se preparam para exercer uma função pública. No inglês, a palavra mindset expressa melhor, mas, aqui, pode ser traduzida livremente como “mentalidade”, um conjunto de percepções, pensamentos, crenças e valores que são a verdadeira força motriz para as tomadas de decisões que promovem ações consistentes.

Como é de se esperar, a mentalidade está intimamente ligada ao autoconhecimento e, felizmente, tem havido um movimento de divulgação maior a respeito do quanto esse fator é determinante para se alcançar o sucesso em qualquer projeto. Não seria diferente com os concurseiros.

Para entender melhor a relevância de um mindset, a coluna Vaga Garantida, selecionou os principais pontos a serem levados em consideração durante uma autoanálise.

Os verdadeiros porquês
A preparação para vencer esse rito de passagem que são as seleções públicas é uma decisão de escolha de carreira, mesmo que temporária ou um trampolim para outros projetos. Começar pelo “porquê” e não pelo “como” faz toda diferença.

O bom salário e não ser mandado embora são meios para a conquista de outros tópicos relevantes da vida profissional e pessoal. É dessa lista que surgem os reais motivos materiais e emocionais que fazem com que o esforço de se dedicar horas aos estudos valha a pena.

Por trás da resposta pronta impensada estão valores de segurança, tranquilidade, previsibilidade, por exemplo. Não aprofundar na identificação desses pontos é estar sujeito às oscilações de humor e da execução de um plano de ação.

Medos e autossabotagem
Por incrível que pareça, há uma fatia considerável dos concurseiros mais competentes que não são aprovados em razão do medo do sucesso. A vitória representa uma responsabilidade para a qual não houve preparação: uma mudança de cidade, o distanciamento da família, crença de que não merece a conquista e seus benefícios, medo de estagnar depois da posse e do exercício do novo cargo.

No outro extremo, estão aqueles que têm medo do fracasso. Que encaram o desafio superfaturando seu tamanho a ponto de considerar impossível transpor as dificuldades. São situações nas quais escolher um cargo de escolaridade menor é mais fácil e cômodo do que se inscrever para o condizente com sua formação, por exemplo. Ou, ainda, assumir um compromisso de agenda de estudo muito acima do que é capaz de cumprir.

A consequência nos dois casos é a autossabotagem inconsciente, que pode ser ilustrada por um desânimo às vésperas da prova, um branco ao tentar responder as questões e casos mais graves, como crises de ansiedade e pânico.

Requisitos distorcidos
A distorção da mentalidade ocorre a partir do momento em que os valores externos se sobressaem aos internos. Quando a maneira de pensar e agir se molda ao que se imagina que é o correto a ser feito, sem uma prévia avaliação e adaptação.

Existe uma diferença considerável entre copiar o método de alguém, que estrutura sua preparação – planejamento, organização e estudo –, e modelá-lo. A modelagem pressupõe uma adaptação à própria realidade. A situação em que é mais evidente esse equívoco de conceito é com a aquisição de uma agenda de estudo pré-montado.

Quando outra pessoa determina o tempo dedicado a cada matéria em dias e horários definidos cria-se a expectativa de que naqueles momentos tudo irá conspirar para que o plano seja executado sem qualquer margem de mudança ou flexibilidade. Parece perfeito e eficiente, mas, desconsidera os fatores humanos inerentes da realidade. Resultado: em vez de ajudar, isso cria um enorme sentimento de culpa, incapacidade e incompetência no candidato.

O mais adequado é usar a grade pronta como referência e fazer as adequações necessárias para que o resultado principal seja atingido, ou seja, que o estado emocional para estudar esteja positivo o suficiente para permitir a assimilação do conteúdo e o acerto das questões. Qualquer situação que não atenda a esses pilares precisa ser revista, pois é um sinal de alerta para uma mentalidade combativa, de autonegação.

A partir dessas reflexões e a observação é possível fazer mudanças simples para que o sonho deixe de ser um objeto de desejo para se tornar uma meta alcançável.

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