Jogos Sagrados: primeiro original Netflix indiano é uma superprodução
O thriller policial tem todos os elementos clássicos do gênero, com as cores e os contrastes da Índia entre uma perseguição e outra
atualizado
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É praxe da Netflix dar inícios suntuosos a seus projetos. Não é à toa que a primeira série original do streaming é House of Cards, seguida pela gigante Orange is The New Black. Da parceria com produtores colombianos, saiu a audaciosa Narcos. Por aqui, 3% não é muito popular, mas faz sucesso na gringolândia e, independentemente de gosto pessoal, sua grandiosidade é inegável. A estreia de produções na Índia não seria diferente: Jogos Sagrados é um épico moderno.
A série indiana foge da estética tradicional que chega ao Ocidente: esqueça os coloridos musicais de Bollywood e trate de atualizar suas expectativas. A Índia retratada em Jogos Sagrados tem um abismo social quase distópico. Enquanto a estrela de cinema Zoya Mirza (Elnaaz Norouzi) leva uma vida luxuosa, o policial Katekar (Jitendra Joshi) tem uma ferida por arma de fogo que necessita de cirurgia e é mantida por anos em seu corpo, dada a falta de recursos para se operar.
Os flashbacks narrados pelo cativante vilão Ganesh Gaitonde (Nawazuddin Siddiqui) mostram as tensões entre muçulmanos e hindus no país asiático nos anos 1980 e 1990. A falta de contexto do espectador brasileiro e a barreira do idioma – a série é praticamente toda em hindi – podem ser problemas para aproveitar bem a série, assim como o choque cultural que é perceber, por exemplo, como é comum nos lares indianos não só comer com as mãos, mas sentar-se no chão para uma refeição. Conhecer outras vidas e costumes, por outro lado, só tem a acrescentar, não é mesmo?
A questão da religião é um trunfo interessante: em uma história fundada no embate entre hindus e muçulmanos no país, é fundamental o herói, Sartaj Singh (Saif Ali Khan) ser um sikh. Outro destaque é a policial federal Anjali Mathur (Radhika Apte), uma investigadora brilhante que não recebe o devido reconhecimento dos superiores por ser mulher. Apte, conhecida por sua versatilidade em personagens e em estilos de produção, é uma vedete da Netflix: pode ser vista na série de terror Ghoul, além de outros três filmes disponíveis no catálogo do streaming.
Como boa parte das séries originais Netflix, Jogos Sagrados padece de um mal: a coisa só engrena no final. É cômodo para o streaming manter essa lógica, considerando como eles soltam os episódios das temporadas de uma vez, o espectador não vai deixar de assistir a série porque no terceiro episódio a coisa ainda não fica interessante. Adianto: seu coração só vai acelerar no sexto capítulo. Mas o final é daqueles, com gosto de quero-mais.
Avaliação: Ótimo