Em “Five Foot Two”, Lady Gaga se desnuda de corpo e alma
Novo documentário da Netflix mostra bastidores do álbum “Joanne” e dá pistas sobre o estado de saúde da cantora
atualizado
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A Netflix liberou o documentário “Gaga: Five Foot Two” para os usuários da rede de streaming mais popular do mundo. A mãe de milhões de Little Monsters do planeta aparece “desconstruída” com franqueza em relação à vida, à carreira e às angústias criadas pelo excesso de fama.
Gaga é uma máquina de produção dentro da indústria cultural. Sua importância no cenário da música pop recente é inegável. Calcula-se que a autora de singles como “Bad Romance”, “Poker Face”, “Perfect Illusion” e “Born This Way” já vendeu mais de 22 milhões de álbuns num momento em que o setor passa por uma profunda crise.
Gaga preencheu o posto de diva pop “fora da curva” deixado pela morte de Amy Winehouse (1983-2011) e pelo sumiço da islandesa Björk no começo de 2010. Seus looks extravagantes (o vestido de carne e outras criações estrambólicas que ela vestia) fazem parte dos highlights dos primeiros anos de carreira desta nova-iorquina batizada como Stefani Joanne Angelina Germanotta.
Há momentos onde Gaga deixa de ser popstar para ser a filha ilustre de uma família ítalo-americana de Nova York. No mais emotivo, ela aparece ao lado da avó e do pai, remexendo no baú de lembranças da família para montar a homenagem à tia Joanne, morta aos 19 anos, vítima de uma doença que não podia ser curada nos anos 1970.
O nome da tia nomeou a última turnê e álbum da cantora. A feitura do álbum “Joanne” é descortinada no filme. A câmera de bastidores registra momentos de completo nervosismo ao lado do produtor musical inglês Mark Ronson (mente por trás de “Back to Black”, de Amy Winehouse).
Nos últimos tempos, a cantora tem assumido posturas feministas e políticas. A Gaga feminista aparece no discurso sobre os cargos de controle exercido pelos homens no show business e como as artistas mulheres são submetidas a verdadeiras torturas psicológicas. A Mother Monster faz coro a outras artistas que têm revelado a crueldade que experimentam no mundo da fama. Inclusive, em como a mídia cria animosidades entre mulheres.Em um dos momentos mais reveladores do doc-ultra-personalista, há uma menção a tretas antigas com a cantora Madonna. Gaga claramente bebeu da fonte iniciada pela cantora oitentista, sem necessariamente citar a referência. A resposta da diva oitentista aparece no hit “Bitch, I’m Madonna”, quando muitos críticos entenderam que havia rolado uma verdadeira esnobada à Gaga nas entrelinhas.
Eu só queria que Madonna me encurralasse no canto, me beijasse e me chamasse de merda na minha cara.
Lady Gaga
Gaga se desnuda para a câmera. As roupas extravagantes são abandonados para dar lugar a um visual mais despojado. Shorts e camisetas, cada vez mais curtos, formam o armário dentro e fora dos palcos.
O controle sobre o seu próprio corpo permeia a narrativa. Um dos momentos mais espontâneos é o topless da popstar durante uma reunião à beira da piscina com sua equipe de criação.
Não só o corpo físico é desnudado. Ela chora, grita de dor, recebe injeções, massagens e passa por tratamentos médicos dolorosos. Há também sequências intensas que podem indicar o começo da fibromialgia. A gente entende por que Gaga desmarcou a apresentação que faria no Rock In Rio 2017. Na tela, aparece um personagem fragilizado.
Gaga literalmente levanta voo no início e no final da película. Entre as duas sequências, a cantora se apresenta como uma estrela mais “pés no chão” do que a fama de popstar deixa transparecer. No fundo, o legal de “Five Foot Two” é saber que a popstar não vive 24 horas por dia dentro de um cenário suntuoso, nem na Disneyland, nem numa fotografia à la David LaChapelle. E, sim, num mundo feito de muitas angústias e excesso de solidão.