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Ciência e cadência: “Mindhunter” inova narrativa sobre serial killers

Ambientada no fim dos anos 1970, série da Netflix narra origem de investigações comportamentais do FBI sobre assassinos em série

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1 de 1 391_Mindhunter_103_Unit_04270R2 - Foto: Netflix/Divulgação

O termo serial killer, hoje tão popular, sobretudo para quem é fanático por programas de TV e filmes do gênero suspense, só é mencionado no nono e penúltimo episódio de “Mindhunter”, série da Netflix sobre agentes do FBI que tentam desbravar mente, comportamento e psicologia de criminosos violentos.

“Vamos ver se pega”, diz a consultora e acadêmica Wendy Carr (Anna Torv) ao ouvir pela primeira vez a terminologia cantada por um colega. Há um razão para tal: ambientado no fim dos anos 1970, o seriado funciona como uma espécie de “Serial Killer: Origens” do ponto de vista dos investigadores.

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O agente Ford visita uma prisão de segurança máxima para mais uma conversa com serial killer: ciência comportamental é o coração da série
Os agentes desbravam os EUA para ensinar técnicas de investigação a policiais locais
Tench e Wendy Carr (Anna Torv): os lados mais ponderados da Unidade de Ciência Comportamental
Fincher é o diretor de filmes como Clube da Luta, Seven, Zodíaco e autor da série Mindhunter
Ford e Wendy: diálogos cerebrais sobre mentes criminosas
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Os agentes Tench (Holt McCallany) e Ford (Jonathan Groff): entrevistas com serial killers

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O agente Ford visita uma prisão de segurança máxima para mais uma conversa com serial killer: ciência comportamental é o coração da série

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Os agentes desbravam os EUA para ensinar técnicas de investigação a policiais locais

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Tench e Wendy Carr (Anna Torv): os lados mais ponderados da Unidade de Ciência Comportamental

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Fincher é o diretor de filmes como Clube da Luta, Seven, Zodíaco e autor da série Mindhunter

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Ford e Wendy: diálogos cerebrais sobre mentes criminosas

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Ford entrevista o serial killer Jerry Brudos (Happy Anderson)

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Ford conversa com Kemper: amigo improvável ou objeto de pesquisa?

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Estamos em 1977, quando a psicologia criminal ainda engatinhava e era comum tratar qualquer assassino como um mal a ser extirpado – de preferência pela cadeira elétrica.

Dois agentes do FBI, Holden Ford (Jonathan Groff, de “Glee”) e Bill Tench (Holt McCallany), ousam introduzir na corporação a ideia de estudar os condenados. Como? Justamente entrevistando esses sujeitos em prisões de segurança máxima.

Realismo que intriga e entretém
Ao tratá-los como personagens assustadoramente reais, “Mindhunter” sofistica a narrativa de crimes em sequência que já vimos em tantos seriados nos últimos anos, das diversas encarnações regionais de “CSI” ao serial killer “Dexter”.

Dois elementos explicam o que faz de “Mindhunter” um programa diferente dos demais. A começar pela matriz.

Com longa experiência no teatro e roteiros de alguns filmes no currículo, como “A Estrada” (2009), o criador da série, Joe Penhall, buscou no livro “Mind Hunter: Inside the FBI’s Elite Serial Crime Unit” a matéria-prima para uma produção que busca fugir de roteiros mirabolantes e soluções espalhafatosas.

https://www.youtube.com/watch?v=QSyCsTjroxE

John E. Douglas, coautor do livro com Mark Olshaker, trabalhou na Unidade de Ciência Comportamental do FBI nos anos 1970 e elaborou o programa responsável por criar perfis das mentes criminosas. Douglas, na série, é representado por Ford, enquanto Tench recria Robert Ressler, agente que cunhou o termo serial killer.

O segundo elemento que torna “Mindhunter” uma obra autêntica dentro do universo de séries sobre crimes é a presença do cineasta David Fincher, diretor de quatro dos dez capítulos da primeira temporada – os dois primeiros e os dois últimos. Ele retorna ao streaming quatro anos após comandar os episódios 1 e 2 de “House of Cards”, justamente a primeira produção original da Netflix.

A chave para entender como “Mindhunter” se desenha esteticamente é voltar a “Zodíaco” (2007). Fincher reconstitui a caçada ao serial killer que aterrorizou San Francisco nos anos 1970 sem apelar para clichês do gênero. O foco é em policiais e jornalistas angustiados e frustrados que dedicam parte de suas carreiras e sacrificam vidas pessoais para achar o assassino. Sem sucesso.

Dispensando flashbacks, “Mindhunter” adere à mesma economia dramática que faz de “Zodíaco” um filme tão científico quanto empolgante. A atmosfera é sóbria, mas ameaçadora. Na fotografia, até planos diurnos parecem envelhecidos por tons verdes e marrons.

A única cena de fato sangrenta é vista no primeiro episódio, quando Ford ainda trabalha na negociação de reféns com sequestradores. Toda a violência carregada pelos três entrevistados de Ford e Tench na primeira temporada – Edmund Kemper, Jerry Brudos e Richard Speck – é sugerida nas conversas, fotografias, evidências, relatórios. E principalmente nos olhares e gestos.

Nenhuma cena de gore soaria tão misteriosa e tensa quanto um diálogo (foto no topo) de oito a dez minutos entre dois engravatados do FBI e Kemper, um bigodudo de 2,6 m que descreve em detalhes como matou, decapitou e violou suas vítimas – entre elas, os avós paternos e a mãe.

Outro ponto de contato entre “Mindhunter” e “Zodíaco”: a dedicação de Fincher para aprofundar a narrativa nas ambições profissionais, nas barreiras burocráticas e na demolição do espectro familiar, afetivo e pessoal do trio Ford, Tench e Wendy Carr, a acadêmica que larga a universidade para se juntar ao FBI.

Fincher, diretor capaz de diferentes interpretações da mente criminosa, do folhetim (“Seven”, “Garota Exemplar”) a gradações investigativas diversas (“Vidas em Jogo”, “Zodíaco”, “Millennium”), encerra o primeiro ano de “Mindhunter” com uma pergunta sem resposta imediata. O que acontece quando nos aproximamos demais dos monstros que planejávamos estudar?

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