Estudante cria projeto para mostrar habitantes “invisíveis” da capital
O BSB Invisível, fundado por Maria Baqui, conta histórias de pessoas que não vemos, mas são nossas vizinhas
atualizado
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Crescemos achando que conhecemos cada canto da nossa cidade natal. Somos guias turísticos para aqueles amigos que vêm nos visitar de fora. Transitamos por ruas, bares, baladas, bairros. Porém, existe uma porta de consciência pela qual apenas alguns passam: vivemos numa bolha. Nossas cidades e espaços são feitos de bolhas.
A entrevistada de hoje resolveu romper essa membrana por ela e por nós. Estudante de jornalismo, Maria Baqui escolheu usar o nosso amado Instagram para expor o avesso de Brasília.
Ela fundou a label Invisível na capital, que conta histórias das pessoas que não vemos, mas são nossas vizinhas, moram ali do lado, na rua. É aquele conteúdo que dá vontade de abraçar, estender a mão, ser uma pessoa melhor. Para seguir já.
Maria conversou com a gente sobre a sua carreira, estudos e sobre a faísca para criação do projeto. Vamos nos inspirar?
Qual sua ocupação atual?
Sou estudante de jornalismo do Ceub e repórter da Tv Supren, uma emissora de TV da ONG União Planetária, que só dissemina conteúdo positivo. Além disso, sou fundadora do Coletivo Bsb Invisível.
Como foi a escolha da carreira?
Por um tempo, estudei medicina veterinária, mas percebi que confundia hobbie com profissão. Minha família é inteira de jornalistas, sempre vivi no meio, antenada em notícias e sou apaixonada pela língua portuguesa e pela escrita. No mais, não sou nada tímida, gosto de pessoas, de me comunicar. Jornalismo é muito minha cara! Consegui agregar a vontade de interagir com pessoas e mudar o mundo. Daí veio o Bsb Invisível, no qual mesclo as duas coisas.
Como surgiu a ideia do projeto Bsb Invisível?
O projeto Invisível já existe em várias cidades do Brasil, mas a pioneira foi o SP Invisível. Por considerar o cenário do Distrito Federal com uma grande desigualdade social e me sentir incomodada com essa situação, precisava fazer algo pra mudar. Fui convidada pelos meninos do SP para criar o projeto em Brasília, a fim de tentar mudar essa realidade que a gente vê por aí todos os dias.
Qual o maior desafio deste tipo de geração de conteúdo?
Nossa maior luta é tentar mudar os olhos da sociedade, tentar fazer com que as pessoas abram os olhos para um problema real, para algo que nos cerca diariamente mas que, muitas vezes, nossa bolha nos impede de perceber. O Instagram, nosso principal veículo de mídia, é incrível para alcançar pessoas. Porém, muitos dos seus usuários não usam o aplicativo para focar em causas sociais, mas apenas para promoção de imagem e entretenimento. Além disso, mesmo sem ser nas mídias sociais, no dia a dia mesmo, não é todo mundo que se interessa em ressocializar pessoas em situação de rua. É um grande desafio tirar todos os estigmas e tabus criados em relação a essa população.
Imaginava que o Instagram seria uma importante plataforma de comunicação para este projeto?
No começo, pedi muita ajuda pra começar a divulgar a página. O Instagram, no entanto, é uma ferramenta maravilhosa de alcance e interação de pessoas. Atualmente, não vejo outra rede social que tenha mais a ver com a nossa missão, que é aproximar indivíduos, de todos os jeitos, classes sociais, etc.
Cite alguém que te inspira.
Gosto de dizer que tenho quatro mães: minha mãe biológica, vó, tia e madrinha. Elas são minha maior fonte de inspiração, de exemplo e de orgulho. Moramos juntas por 21 anos. E, talvez por isso, compartilhamos tudo, como melhores amigas. Lutas, conquistas, derrotas, vitórias. E é assim, uma vibrando pela outra e uma ajudando a outra, da forma que pode. Sem elas, eu não conseguiria nada do que consegui.
Quais sites, livros, filmes, documentários ou outros projetos que te inspiram.
Os principais veículos que me inspiram são os que, de alguma forma, disseminam conteúdo que geram mudança e acrescentam algo positivo para quem lê. Entre eles, União Planetária, Só Notícia Boa, Razões Para Acreditar, Catraca Livre, Hypeness.
Quais dicas daria para quem quer começar um projeto como o seu?
Sempre vão existir muitas dificuldades. Sempre vai ter gente criticando, gente pra apontar o dedo e dizer que seu esforço não vale de nada. Mas, vale sim e muito. Tem uma frase bem clichê, mas que gosto de usar: mudar o mundo é mudar um mundo de cada vez. Uma mini ideia pode se tornar algo grandioso e alterar completamente a realidade de diversas pessoas. Mas, pra saber qual será o resultado, só tentando. Um projeto social demanda muito tempo e dedicação, assim como qualquer outro… dê seu melhor e divulgue suas ideias para o mundo, porque tá em falta gente que faz a mudança!
Alguma história que te marcou muito?
São muitas histórias. Não consigo citar só uma. Mas me emociono toda vez que oferecemos doação de algo material e a pessoa recusa, pede um abraço apertado e diz que o maior presente é alguém tê-las notado e percebido que não são invisíveis.