Teta Cheese Bar serve queijos incríveis em ambiente descolado
A casa tem conceito sólido – comida de qualidade e cervejas especiais –, que vai além da modinha “hipster”
atualizado
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Desde do anúncio, como nome esperto, apelo hipster e arquitetura descolada, o Teta Cheese Bar me parecia apenas um potencial point da moda. Dito e feito. Levei quase seis meses para visitar esse novo barzinho no antigo endereço ocupado pelo Inácia Pulet Rôti, pois não encaro filas. Deixo o chá de cadeira para os paulistanos que exportaram este frisson pra cá.
Duas vezes depois de me acomodar no corredor apertadinho ou, no igualmente espremido esconderijo na sobreloja, reuni experiências suficientes para apontar o Teta como um empreendimento muito mais relevante do que a modinha que lhe faz jus. Há ainda um quintal, em área verde, detrás do bloco, onde espalham-se algumas mesas para dar conta da demanda.
Você pode se sentar ao balcão e pedir um dos quatro chopes engatados (normalmente uma pilsen, uma IPA, uma stout e outra mais frutada), por exemplo. Mas há tantos outros lugares com serviço de tap (poucos de boa qualidade, vale dizer), que não seria este motivo a se frequentar o Teta em especial.
O bar aqui é pretexto. Afinal, no Teta, tudo orbita em torno do queijo. Num momento sensível e tão importante em que se discute a produção e distribuição do preparo com leite cru para além das divisas estaduais, esse bar surge como um manifesto prático a favor da comercialização do produto artesanal de maior valor patrimonial e comercial da culinária brasileira.
Por essência e conceito, o Teta é uma queijaria. Um tanto semelhante ao Roça Capital no Mercado Municipal de BH. Há queijos de ovelha, cabra, vaca, búfala e dos mais diversos processos de produção, cura e regiões. Vigora, contudo representantes de Minas Gerais e São Paulo, com alguns poucos representantes de Goiás, por exemplo. A oferta, contudo, é seguramente uma das melhores encontradas pelo Distrito Federal.
Então há duas experiências no TETA: a da loja de queijos. Recepcionado pela sócia Marina Cavechia, ela própria uma produtora de queijos artesanais, recebo uma aula sobre esse alimento, com direito a degustar um ou outro. Havia acabado de chegar, da última vez, o Bello, de casca lavada do cerrado mineiro. Mas não o clássico. O novo exemplar trazia uma película preta, devido ao carvão utilizado em sua produção. Sabor nem tão intenso como o esperado, e cura suave.
Não preciso aqui me meter a “sommelier” de queijo, que não sou. O importante é abrir o palato, o olfato e tato para se deixar sensibilizar-se com a tão complexas notas de picância, ranço, aroma, oleosidade, sal e açúcar.
Sinceramente, poderia ficar só ali na lojinha mesmo que, para atender a dinâmica do mercado moderninho, separa um prateleira com bibelôs da grife do bar (boné, descanso de copo, tulipa…), sob o olhar de uma vaquinha esculpida sobre o balcão.
Mas vamos ao bar. No cardápio – ou melhor, nos cardápios – reluz em amarelo a lista de queijos ofertados no dia para degustação, sempre acompanhados de molhinhos e uma cesta de pães fatiados (entre R$ 17 e R$ 20 cada). Um barbiche de cabra com pesto, um pai do mato de búfala e três meses de maturação com um molho de uvas verdes, um guaianá de cabra ao mel com grãos de mostarda mais pimenta e o bello tradicional com um delicioso molho de banana com berinjela podem compor a tábua de petiscos, principal trunfo do menu.
É possível tentar harmonizar com as cervejas. Há oferta de vinhos, destilados, drinques, mas se trata de um bar cervejeiro, com o interesse de trabalhar rótulos nacionais e com um perfil novidadeiro. Gosto da ideia da régua, com quatro chopes de 150ml, para conseguir experimentar toda a oferta do dia na torneira, embora a harmonização não seja necessariamente eficiente com os queijos.
Mas, afinal, estamos em um bar. Embora os queijos sejam indispensáveis, a cerveja clama por petiscos. E o conceito da queijaria permeia todo o cardápio de entradinhas frias, pratos, acepipes e mesmo sobremesas.
Na cozinha, algumas coisas muito acertadas, outras menos. O bolinho de arroz com queijo da Serra da Canastra, um clássico de boteco mineiro, parece-me insosso, pouco crocante e um tanto massudo (R$ 25). Vale o mesmo para o croquete de pastrami (R$ 30), cujo processamento da carne curada em massa elimina o sabor proeminente do preparo. O molho de mostarda escura com stout ajuda a melhorar o sabor. As porções, vale dizer, são tímidas, caso dos bombons de mussarela de búfala, bem feitos sobre um saboroso e suave molho de tomate (R$ 27)
Gosto muito da suavidade da torre de abobrinha com queijo de cabra fresco. Sofisticado e bom para petiscar (R$ 28). Da seção de sanduíches, o Teta acerta na mosca ao elaborar um belíssimo pão de queijo grandão com Canastra, que abraça a carne suína desfiada em um molho barbecue misturado a cerveja Dunkel (R$ 27).
Dentre os pratos principais, fui no risoto (com toda a desconfiança de sempre). Funciona. Arroz arbóreo cozido no ponto certo incorporado ao adocicado da abóbora cozida e à potência do queijo azul (R$ 49). Se é uma refeição completa que você busca, a sobremesa tenta apresentar o queijo em forma de guloseima. A cheesecake apresenta boa textura, mas a tal cobertura de doce de leite não me agrada nem na consistência pálida e líquida nem no sabor, excessivamente açucarado. Quanto ao sorvete de queijo azul, a ideia é muito boa, ainda mais com o caramelo e o shot de cerveja escura que acompanham. Mas para um gelato, faltou técnica: sorvete massudo e cristalizado.
O Teta, portanto, ao ser tão mais que um botequim não poderia acertar em tudo. Afinal, bar não precisa de refeição gourmetizada ou pretexto. É puxar a cadeira, dividir o petisco, tilintar as tulipas ao centro da mesa e jogar conversa fora. Mas por que não conhecer alguns dos produtos mais bacanas do artesanato culinário brasileiro enquanto isso?
TETA Cheese Bar
Na 103 Sul, bloco B, loja 34. Tel: (61) 3554-6970. De quarta a sábado das 11h às 23h30 (serviço de bar só a partir das 17h). Wi-fi. Ambiente interno e externo. Desde 2018