Portugueses de olho nas “novelas e tragédias” da eleição no Brasil
No domingo serão aproximadamente 40 mil brasileiros aptos a votar em Portugal. A maioria em Lisboa, mas também no Porto e em Faro
atualizado
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Não é só porque somos brasileiros e participamos ativamente do que acontece no Brasil. A percepção, mesmo de longe, é de uma efervescência como nunca houve na nossa história. E os portugueses também acompanham atentos o que acontece no Brasil e fazem suas análises que, eu diria, são absolutamente pertinentes para quem vive em outro continente e com outras prioridades. Tirando as eleições presidenciais, eles se divertem com a verdadeira fauna de candidatos a deputados Brasil afora, dignos de figurarem em programas de humor e não nas assembleias estaduais ou na Câmara Federal.
Afinal as redes sociais fazem chegar a todo o planeta essas peculiaridades tão brasileiras. Para ficar só numa meia dúzia, temos o “Alceu Dispor 24h”, o “O Papai chegou”, o “Wolverine”, o “Keridão Potência”, o “Bob Esponja” e para coroar, a “Olga Um Beijo e Um Queijo”. Desisti de explicar a um amigo daqui o que é ou quem é a “Grete Cover”. Teria que explicar a ele quem é a Gretchen e acho que ele não perceberia a força que a intérprete de Freak Le Boom Boom e Conga Conga Conga possui no nosso imaginário.
A pergunta de um deles: “mas a legislação brasileira permite esses candidatos?” Ao que eu respondo, de bate-pronto: “E muitos se elegem!”
Os grandes portais de notícias portugueses e as TVs dão bastante atenção às nossas eleições. No portal do Diário de Notícias de 4/10, o destaque maior é para as 10 maiores fake news das eleições no Brasil. No site do Público, existe uma seção dedicada só às eleições brasileiras.
O contrário – o Brasil dar destaque a Portugal – nunca vi ocorrer. É uma pena que demos as costas ao que acontece em Portugal, da mesma forma como também damos as costas ao que acontece em todo o resto da América Latina. A percepção é que o brasileiro não tem o sentimento de pertencer a uma comunidade latino-americana, assim como ignora que existem outros países de língua portuguesa além de Portugal. Consideramo-nos mesmo um país à parte e talvez isso explique um pouco a falta de solidariedade com os refugiados venezuelanos, por exemplo.
Mas, voltando às nossas eleições, ouvi de um português também o seguinte discurso. “Pá, tu dizes que os portugueses têm o fado e essa vocação para a tragédia. Mas a história do Brasil recente é que é recheada de momentos trágicos. O primeiro presidente eleito na era pós-ditadura morreu antes de assumir. O seguinte, Collor, sofreu impeachment.
Nas penúltimas eleições, um candidato forte morreu em acidente de avião. Depois a Dilma sofreu o impeachment. Aí prendem o que seria o candidato potencialmente mais forte. E agora o Bolsonaro sofre um atentado a faca. Parece ou não uma novela brasileira?”
Fui obrigado a concordar e acrescentei: “A novela ainda não acabou. Capítulos fortes nos aguardam nas próximas semanas…”
E, seguindo a tradição brasileira de cantores, artistas, palhaços, atletas e outras celebridades se candidatarem, não podemos esquecer de um ilustre português que concorrerá a uma vaga a deputado estadual em São Paulo. Sim, ele mesmo. Roberto Leal, o ídolo português que encantava as plateias femininas na década de 70 com seus cabelos louros e hits como “Bate o pé” e “Arrebita” quer arrebatar os votos de fãs e admiradores. Com uma plataforma voltada para a saúde, educação e cultura, mas com muita paz e amor. A conferir.
No domingo serão aproximadamente 40 mil brasileiros aptos a votar em Portugal. A maioria em Lisboa, mas também no Porto e em Faro, cidades onde há consulados brasileiros. A eleição aqui, como em todos os demais países do mundo onde há brasileiros inscritos para votar, será apenas para presidente e vice.
E seguindo os conselhos de Roberto Leal, que tudo transcorra na paz e no amor.