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Assustados com a violência, brasileiros se mudam para Portugal

Nos últimos tempos, tornou-se pauta de diversos sites, blogs, jornais e revistas a migração de brasileiros para Portugal. Quando se pergunta a essas pessoas por que estão fazendo o caminho inverso ao que os portugueses percorreram há mais de 500 anos, a resposta parece um mantra: violência, violência, violência. Especialmente para quem vem do Rio de Janeiro […]

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Hugo Barreto/Metrópoles
Arma de fogo – Homicidio – assassinato
1 de 1 Arma de fogo – Homicidio – assassinato - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Nos últimos tempos, tornou-se pauta de diversos sites, blogs, jornais e revistas a migração de brasileiros para Portugal. Quando se pergunta a essas pessoas por que estão fazendo o caminho inverso ao que os portugueses percorreram há mais de 500 anos, a resposta parece um mantra: violência, violência, violência. Especialmente para quem vem do Rio de Janeiro e de São Paulo, cidades onde ela parece ter se incorporado à paisagem cotidiana. Esquecemos de um crime bárbaro porque, logo em seguida, vem outro.

Uma conhecida me contou que, certa vez, comentou com um português que, aqui, ela podia caminhar pela rua falando ao celular. Ele pareceu não entender o comentário e perguntou, intrigado: “Por quê? No Brasil, é proibido utilizar o ‘telemóvel’ nas ruas?” Não, isso não era uma piada de português. Simplesmente, fomos pouco a pouco perdendo o direito a circular com liberdade e segurança pelas nossas ruas.

Numa lógica inversa, nos tornamos os prisioneiros. Sentar-se num bar na calçada e trabalhar com o notebook? Passear com o cachorro de madrugada? Andar sozinho em ruas escuras? Dirigir o carro de vidros abertos e parar no semáforo sem medo? Sim, as leis em Portugal permitem que você tenha esses hábitos tão prosaicos.

Ok, nem tudo são flores. Convém tomar cuidado com os batedores de carteira, ou carteiristas, como se diz aqui, especialmente se você circular em áreas centrais, com aquela marca estampada na testa: “sou turista”. Mas é bem pouco provável que lhe apontem uma arma na cabeça ou botem uma faca no pescoço.

Portugal é o terceiro país mais pacífico do mundo, segundo o Global Peace Index 2017, estando atrás apenas da Islândia e da Nova Zelândia, enquanto o Brasil está na posição 108 de uma relação de 163 países. Sem comentários. E se considerarmos que a Islândia não vale, com o frio horroroso que faz lá, Portugal vira vice-campeão.

Em novembro do ano passado, ocorreu um crime em Portugal que envolveu a morte trágica de uma brasileira pela polícia. Foi manchete de jornal dos dois lados do oceano, um erro terrível cometido pela polícia portuguesa, que confundiu o carro em que a mulher circulava como passageira com um veículo cujos ocupantes tinham acabado de assaltar um caixa eletrônico. O motorista não obedeceu ao alerta para parar e tentou fugir atropelando os policiais, que abriram fogo. O que pouca gente destacou é que foi a primeira morte de um civil no ano passado pelas mãos da polícia. Uma morte em um ano.

Em 2016, segundo o Anuário Brasileiro da Segurança Pública, 4,2 mil vidas foram perdidas pela ação de policiais militares e civis no Brasil. São 4,2 mil mortes versus uma. Literalmente, uma covardia.

Poderíamos discutir a origem sociológica da violência nas nossas ruas. Falar do princípio histórico, da perversa desigualdade social e até mesmo remontar aos tempos do Brasil colônia portuguesa. E poderíamos debater mesmo sobre a violência maior: a corrupção endêmica em nosso país, que drena um dinheiro que poderia ir para a segurança pública, para a educação e para a saúde. Infelizmente, o Brasil está muito longe de sair da incômoda posição 108 no ranking da segurança mundial.

Enquanto isso, preferimos dar visibilidade a hilárias coreografias baseadas no funk “Que tiro foi esse?” em vez de tentar encontrar soluções para reduzir os tiros reais e fatais do nosso dia a dia.

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