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As navegações coordenadas de Karina Dias e seu grupo

O projeto da professora da UnB mostra uma Brasília próxima e, ao mesmo tempo, distante

atualizado

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Coordenadas Orbitadas/Divulgação
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1 de 1 SONY DSC - Foto: Coordenadas Orbitadas/Divulgação

Espaço, paisagem e movimento. Três temas constantes no trabalho artístico e acadêmico de Karina Dias estão sendo explorados este fim de semana num passeio guiado por uma Brasília, assim, tão próxima, e ao mesmo tempo tão distante.

“Coordenadas Orbitadas” é o projeto que já decolou da Universidade de Brasília (UnB) há alguns dias e que, ao longo de sábado (1º/7) e domingo (2), ganhará altura e assumirá novos ares. Trata-se de uma série de ações e intervenções urbanas promovidas pela professora Karina Dias e por seu corpo de trabalho, uma espécie de coletivo informal composto por artistas estudantes de pós-graduação do Departamento de Artes Visuais.

Eles convidam a todos os destemidos aventureiros da arte contemporânea para essa viagem no espaço da cidade, e no que a margeia. Para aprendermos, na prática, o que significa o termo “geopoética”.

“Tem a ver com nossa maneira de participar do ‘poema do mundo’, para usar a mesma expressão dos gregos”, destrincha Karina. “Ou seja, a maneira como vamos fundando residências efêmeras ao nos mover pelo mundo”.

Nesse clima, o músico João Lucas bolou “A Circular dos Pássaros”, uma nova proposta de se enxergar a mesma velha paisagem. Próximo à Concha Acústica, na orla do Lago Paranoá, ele espalhou caixinhas de som ao longo de um círculo de grama. As caixinhas demarcando o terreno como ancestrais círculos de pedras. Delas saindo a gravação do canto de pássaros silvestres.

O vento continuou soprando. O movimento dos barcos não se alterou. E as pessoas ali perto seguiram em suas atividades costumeiras. Aquela manhã de sábado ainda era essencialmente a mesma, como se percebe na foto que abre esta página. Mas, para quem estava dentro daquele círculo, acredite, tudo tinha mudado. De repente, o som modificara a paisagem.

Para experimentar uma sensação semelhante à de viajar, não são necessários deslocamentos imensos. Já bastam, como notou Nina Orthof, integrante do grupo, “pequeníssimas navegações”.

Seguem aqui mais três exemplos dessas navegações propostas pelo grupo…

“Flutuações”
Júlia Godoy soltou uma boia no Lago Paranoá. Uma singela bandeirinha, no objeto flutuante, quase adernante nas marolinhas de inverno, dava conta da intenção da artista. “Vila Amaury”, estava escrito na bandeirola em cor de luto.

Boa parte dos brasilienses talvez não conheça a história real que já adquiriu características de lenda urbana. A vila de candangos foi condenada pela construção da nova capital e, literalmente, viu-se coberta pelo lago artificial. Ainda hoje, suas construções estão ali a se desmanchar, mais de meio século depois, lentamente sendo corroídas pelas águas.

“A vila é invisível para nós porque está submersa, mas ainda está lá embaixo. A boia também se tornou invisível, a não ser por estas imagens registradas em vídeo, porque o vento levou embora e a água pode afundá-la”, compara Karina. “Não saber ao certo onde a boia foi parar nos mostra a real dimensão do lago. Por ter sido criado pelo homem, pensamos dominar suas margens. Mas o espaço é sempre selvagem, mesmo dentro da cidade.”

“Avalanche”
Cecília Bona costuma andar de bicicleta pela cidade. Nesses trajetos, vai conhecendo uma Brasília que muitos de nós sequer suspeitamos. Certa feita, ela se deparou com uma baita escadaria. Bem de frente para o Superior Tribunal Militar, na quadra 1 do pouco hospitaleiro Setor de Autarquias Sul.

Uma escada daquelas, para Cecília, pareceu apropriada para a ação coletiva que tinha em mente. Na manhã de domingo, os artistas se juntarão ali para promover uma “Avalanche”. Cecília, sozinha, há alguns dias, filmou um evento teste, numa outra escada, para dar ideia de como a ação se sucederá.

“É uma forma de emprestarmos significado para essa parte da cidade que não conhecemos”, explica Karina. “Podemos passar por ali de carro, diariamente, por anos e anos, sem nem saber que aquela escadaria existe. Mas, a partir dessa ação, ela passará a ser um ponto conhecido para nós. Como uma nova camada da cidade agora se revela. Passará a ser a escadaria da ‘Avalanche’.”

“Ponderal”
Erica Bearlz precisou ir para a Espanha justinho neste final de semestre. Teve que participar de um seminário na cidade catalã de Lérida. Professora Karina Dias até gostou de tamanho deslocamento, que assim as “Coordenadas Orbitadas” atravessam o Atlântico.

Como não conhecia a cidade, a bailarina Érica teve que bater perna até encontrar a Plaza de la Paeria, com seu horizonte imenso, não muito diferente daqui do Planalto Central. Porém, com uma construção medieval e com um chão de pedras pouco comum nas paisagens de cá. Sua performance foi transmitida ao vivo pelo Facebook — cruzando de volta o oceano bem a propósito para seus colegas poderem assistir o que aconteceu.

“O corpo de Erica é quase como um corpo-pedra”, se empolga Karina, “o movimento dela vai se congelando em sintonia com a paisagem, em equilíbrio, às vezes se misturando com a arquitetura, às vezes se confundindo com o próprio chão.”

Coordenadas Orbitadas/Divulgação

E mais…

As “Coordenadas Orbitadas” seguem pelos próximos dias. Não perca a viagem.

artista • obra • horário • local

órbita 1 Sábado 24/06
João Lucas • A Circular dos Pássaros • 9h30 • SCEN – concha acústica
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Júlia Godoy • Flutuações • 10h30 • SCEN – concha acústica
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órbita 2 Domingo 25/06
Erica Bearlz • Ponderal • 14h • Plaça de la Paeria, 7 -Lleida, Espanha (transmissão ao vivo pelo facebook)
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órbita 3 Sexta-feira 30/06
Krishna Passos • Maravilha Curativa • 19h30 • deCurators – SCLN 412 Bloco C
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Karine de Lima • Não Coma de Boca Aberta • 20h30 • SQN 704
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órbita 4 Sábado 01/07
Bidô Galvão • Sem Título • 6h • UnB – ao lado do prédio Multiuso
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Nina Orthof • Arrumar as Tigelinhas de Ferro • 8h • UnB – Teatro de Arena
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Marcela Campos • CEP – Código de Endereçamento de Passarinhos • 8h40 • UnB – em frente à BCE
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Laís Leiros • Linha Vermelha • 10h30 • SQN 409 Bloco K
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Iris Helena • Fundação • 14h • SQN 207 (intervenção na quadra vazia)
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Coletivo Vibracorpos • Campos Harmônicos • 15h • SQN 206 – travessia subterrânea
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Alina Duchrow • A Casa • 16h • SHCGN 715 Bloco G Casa 29
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Danna Lua Irigaray • Rios Temporários: Noite • 17h • SMLN MI 3 – Lago Norte
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órbita 5 Domingo 02/07
Natasha de Albuquerque • Corrida de Colher • 8h30 • Detran
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Débora Mazloum • 88ª Constelação O Barco • 10h30 • Praça do Cruzeiro
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Cecília Bona • Avalanche • 11h30 • SAS – escadaria do tribunal militar
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Lauro Gontijo • Derredor • 14h • Praça da Igrejinha – SQS 307/308
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Adriana Cascaes • Vias de Fato • 15h • SQS 416/216
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Pedro Lacerda • À Margem da Espera • 16h30 • EPTG – em frente ao Big Box
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Cícero Portella • Monumento Fluxo • 18h • Viaduto EPGU/DF – 002 – final eixão sul
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órbita 6 Sexta-feira 07/07
Ludmilla Alves • A Noite Mora no Fundo do Rio • 9h • Poço Azul
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em órbita Itinerante
João Teófilo • Ocupações Pendulares: Estruturas Arbóreas

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