Você sabe o que é disciplina positiva?
O modelo busca encorajar crianças e adolescentes a buscarem, por si mesmos, recursos para a solução de seus problemas
atualizado
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Tempos atrás, cruzei com um desses memes engraçadinhos sobre maternidade, que trazia, mais ou menos, a seguinte comparação: eu, antes de ter filhos = paciência, afeto, explicações amorosas e racionais; eu, depois de ter filhos = se você não jantar, o Papai Noel vai vir bater em você.
Eu ri, claro. Quem é o pai ou a mãe que nunca fez uma ameaçazinha sequer? Ou não soltou um “vai ser assim e acabou!”? Atire a primeira pedra aquele que jamais negociou uma dentada no brócolis em troca do acesso, mais tarde, à sobremesa. Castigos (não físicos) e recompensas fazem parte do exercício da maternidade/paternidade. São alguns dos recursos disponíveis para o esforço civilizatório das crianças.
Não são os únicos, porém. Existe um modelo cada vez mais adotado por famílias em busca de caminhos alternativos para a criação dos filhos – pelo menos entre as que, social e economicamente, podem refletir sobre a questão: a disciplina positiva.
Trata-se de um modelo desenvolvido com base nos estudos de dois psicólogos austríacos, Alfred Adler e Rudolf Dreikurs, no início do século passado. Na disciplina positiva, o principal objetivo é encorajar crianças e adolescentes a buscarem, por si mesmos, recursos para a solução de seus problemas, exercitarem a frustração e tornarem-se resilientes, responsáveis e respeitosos.“Segundo esse modelo, é possível disciplinar por meio de um equilíbrio entre gentileza e firmeza, sem o uso de punições, castigos ou recompensas”, resume a psicóloga Denise Mazzuchelli, mãe de três filhos, de 1, 4 e 11 anos. “Essa proposta é muito diferente do que a gente costuma ver na sociedade, com práticas como cantinho do pensamento ou quadro de recompensas, difundidas e aceitas como eficientes”, acrescenta.
Denise, inicialmente, buscou a disciplina positiva para dar conta dos desafios dentro da própria casa. Ela alerta, porém, que as abordagens tradicionais costumam falhar no longo prazo. “Se eu puno meu filho porque está batendo nos colegas, ele pode não ter esse comportamento quando está próximo de mim. Mas há chances de voltar a agredir quando estou longe”, explica.
A especialista ressalta que a disciplina positiva não tem a ver com permissividade ou leniência dos pais, embora seja vista dessa forma por muitos. Para colocar em prática, ela orienta as famílias a encararem os filhos como seres plenos e sujeitos de sua própria realidade, mesmo os bebês.
“O foco deve estar no que a criança faz bem, para ela perceber o seu valor”, diz a psicóloga. Por exemplo: quando a criança chega da escola e guarda a mochila no lugar correto, ao invés de dizer “estou orgulhosa, parabéns!” – uma afirmação com foco no adulto –, a orientação é explorar o sentimento dele/dela em relação ao fato. “Pergunte como seu filho se sentiu ao guardar seu pertence. Se a criança não sente o prazer de ter suas coisas organizadas, isso não dura”, esclarece.
Nem sempre, contudo, é possível manter a calma para a execução da disciplina positiva. Nós, os adultos, também estamos sujeitos a dias difíceis. Mesmo assim, vale conhecer as premissas da abordagem e trocar experiências com outros pais. Há livros e páginas em redes sociais sobre o assunto. “Encorajo as pessoas a procurarem grupos virtuais e relatarem suas vivências.”
O intercâmbio de informações pode contribuir para situações de guerra de poder entre as crianças e os pais. Pense como uma oportunidade da família encontrar a forma mais eficiente de agir”, finaliza Denise.