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Quando devemos falar de diversidade sexual e de gênero com crianças?

É comum os pais ficarem ansiosos e responderem coisas que os filhos não querem saber. Não devem “atropelar” processos

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Há cerca de um ano, esta coluna trouxe a história de Mica, uma criança que ganhou dos pais a oportunidade de “escolher” o seu gênero. A proposta, embora curiosa e diferente para os nossos padrões, fazia sentido: bebês não “nascem sabendo” que são meninos ou meninas; quem se importa com a cor do enxoval somos nós, os adultos.

Entretanto, desde muito cedo, essas mesmas crianças percebem o próprio corpo e o dos pais. Aprendem onde fica a barriga, a orelha, o bumbum e logo se dão conta que uns têm piu-piu e outros não. No apelo da simplificação, a gente resume: a mamãe é menina, o papai é menino, e por aí vai.

Como, então, trazer a noção de diversidade sexual e de gênero para o debate com os filhos? Eu devo introduzir um assunto que pode ser confuso até para adultos – a construção cultural de todos esses conceitos – para quem mal aprendeu a se posicionar no mundo?

A professora Taicy Ávila Figueiredo, do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília (UnB), afirma que não. Os pais não devem “atropelar” processos. “As crianças começam a fazer perguntas relacionadas a esse assunto por volta dos 4 anos, quando vivem o que a psicanálise chama de fase fálica”, contextualiza. Nessa etapa, meninos e meninas passam a classificar as pessoas a partir da presença ou da ausência do falo – e daí surgem os questionamentos.

Nem sempre, contudo, as perguntas são complexas. Taicy, que atua, também, na educação infantil, destaca que é comum os pais ficarem ansiosos e acabarem respondendo coisas que os filhos não querem saber. “A primeira dica é sempre ouvir a questão da criança, ou melhor, devolver a pergunta com outra pergunta, para entender o que exatamente ela quer saber”, aconselha.

A especialista conta sobre o caso de uma de suas alunas, que, aos 5 anos, perguntou à mãe de onde tinha vindo. “A mulher, então, achou que era chegada a grande hora e fez todo um discurso sobre a sementinha do papai que foi colocada na mamãe”, lembra Taicy. Ao final, quando perguntou à menina se ela havia entendido, soube que a filha havia conhecido um novo coleguinha na escola, vindo de São Paulo, e que, por isso, ficou curiosa para saber qual era a sua origem também.

Além de não colocar “o carro na frente dos bois”, as famílias precisam aprender a lidar com assuntos relativos à sexualidade e diversidade de forma natural. “A criança não tem os medos e os tabus dos adultos”, diz a professora da UnB. “O mais importante é sustentar uma relação aberta e tranquila, para que o filho se sinta seguro para fazer os questionamentos que quiser”, aconselha.

Outro caminho, lembra a especialista, é apostar em livros e historinhas que abordem a temática. Nas livrarias, há opções tanto com uma abordagem de educação sexual quanto de ficção acerca do assunto. “A narrativa pode facilitar o diálogo, a entrada no mundo da criança”, diz Taicy.

Com esses cuidados, as crianças crescerão tendo uma boa relação com sua sexualidade, com o respeito ao próprio corpo e ao do outro – e serão, certamente, adultos emocionalmente saudáveis.

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