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Por que as crianças têm medo?

Monstro, lobo mau, bruxa má e bicho papão são algumas das criaturas que povoam a mente de meninos e meninas

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1 de 1 criança medo menina - Foto: iStock

A coisa começou aos poucos, de maneira tímida. “Do que você tem medo, Miguel?”, perguntei. O questionamento fazia parte de uma brincadeira do Facebook em que as mães postam respostas engraçadas dos filhos.“Olhos grandes marrons”, ele respondeu. Fiquei pensando de onde saiu isso. Depois, começaram a aparecer as cabeças dos monstros e os fantasmas. Agora, estamos na fase da “formiga grande azul claro, que pica bem no coração”. Sempre uma nova e assustadora criatura.

Descobrir o medo e lidar com ele não é fácil, mas faz parte do aprendizado de meninos e meninas.

“Na nossa cultura, não estamos acostumados a falar sobre o medo, o bem e o mal”, contextualiza a pedagoga Clara Neves. “Para as crianças, esses sentimentos são a forma de externar aquilo que elas não compreendem como abstrato ou imaginário. Tudo é real. Então, a bruxa má, o lobo mau e o bicho papão existem”, explica ela.

A chamada “idade dos medos” começa por volta dos dois anos e meio e tende a ser alimentada por filmes e desenhos, que, em geral, trazem personagens fortes como representantes do mal. Outra fonte somos nós, os adultos. “A criança pode observar o rosto de uma pessoa diante de um inseto, por exemplo, e aprender, por observação, a ter pavor do que está presente na cena”, detalha a professora Laércia Vasconcelos, do Departamento de Processos Psicológicos Básicos da Universidade de Brasília (UnB).

A especialista lembra, entretanto, que alguns temores servem como ferramenta de autoproteção. “Quando nos aterrorizamos ao ver uma cobra ou um animal de grande porte, estamos contribuindo para a aproximação ocorrer de forma mais segura”, esclarece Laércia.

Como, então, enfrentar a “idade dos medos”?

Segundo Clara, os métodos mais eficientes para lidar com isso são lúdicos. “Não adianta dizer a criança que o monstro não existe. Ela sente, vê e descreve todas as características daquele ser”, diz.

Uma das saídas, portanto, é ajudar a menina ou o menino a enfrentar e derrotar a criatura assustadora. “Os pais devem entrar no imaginário infantil e desmistificar o lobo mau. Para isso, o adulto precisa saber fantasiar, respeitar e assumir que o filho está com medo.” Livros, histórias e brincadeiras também podem ajudar nessa missão.

A professora da UnB dá outra dica: controlar a TV e a internet dos pequenos. Os conteúdos precisam ser adequados à fase do desenvolvimento. Filmes de terror e cenas com sexo e violência devem ser evitadas, assim como sons muito altos, com potencial de assustar.

Se, mesmo com conversas contínuas e acolhimento, a criança não estiver conseguindo amenizar o terror, é hora de pedir orientação profissional. “Se ela não dorme de jeito nenhum sozinha no quarto ou se deixa de sair na rua por medo de cachorro, por exemplo, os pais devem procurar ajuda de um especialista”, recomenda Clara.

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