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O dia em que temi pela saúde do meu filho

Ter um filho saudável, com desenvolvimento dentro do que é considerado padrão, representa menos preocupações – só as normais

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Na gravidez, poucas coisas geram tanta ansiedade quanto o chamado ultrassom morfológico do primeiro trimestre. Se você não é iniciada(o), explico: trata-se de um exame feito por volta da 12ª semana (três meses, mais ou menos) de gestação, no qual são investigados traços da estrutura do feto. A análise permite apontar a existência de malformações e síndromes.

Assim, se dá tudo certo no exame, respiramos aliviados. Ter um filho saudável, com desenvolvimento dentro do que é considerado padrão, representa menos preocupações – ou seja, apenas as preocupações normais de todos os pais.

Essa coisa toda passou como um filme na minha mente há cerca de um mês. Eu estava viajando e meu marido ligou para contar que Miguel, o mais velho, havia batido a cabeça na piscina. Ele estava bem, tranquilo, mas com um galo. Achamos melhor levá-lo ao hospital para descartar qualquer coisa mais séria.

Uma tomografia apontou que não havia lesões no local da batida. O laudo, contudo, trouxe a informação de uma “imagem inespecífica” em outro ponto do cérebro dele. A médica, visivelmente preocupada, recomendou investigar naquela mesma hora.

Isso tudo eu soube com delay. Meu marido, no hospital, não quis me alarmar antes da hora. Mas, quando percebi que ele havia parado de responder minhas mensagens, liguei. Enquanto ele falava “i-ma-gem i-nes-pe-cí-fi-ca”, meu mundo parou. A palavra “tumor” nublou meus pensamentos e eu me afoguei em lágrimas, imaginando quantos desafios teríamos que enfrentar em um eventual tratamento.

Desfralde? Terrible two? Mordidas na escola? Bobagem. Aquilo, sim, era problema de verdade.

Meu pânico durou cerca de duas horas, nas quais me dividi entre o impulso de pegar um avião para Brasília e a espera. “Calma”, minhas amigas diziam. Pode não ser nada. E não era, realmente. A ressonância revelou que a tal imagem inespecífica era decorrência de um evento isquêmico, possivelmente ocorrido quando ele estava na barriga ou logo depois de nascido. Em algum momento, aquela partezinha do cérebro dele ficou sem oxigênio e isso está gravado lá. Mas não há sequelas ou riscos.

Não sei como vocês chamam isso: acaso, Deus, milagre da vida, seleção natural. Não importa. Meu filho é saudável e eu agradeço todos os dias por isso. E me solidarizo com as mães e pais que passam por esse imenso desafio de enfrentar ao lado de suas crianças uma doença grave.

Dias depois, no pediatra, eu quis ter certeza de que não havia razão para preocupações. O médico me tranquilizou, lembrou que Miguel nunca deu nenhum sinal de comprometimento de qualquer natureza. “Os cérebros são muito diversos”, me disse. “Se saíssemos fazendo ressonância de todo mundo por aí, íamos descobrir cada coisa… aliás, as imagens mostraram uma sinusite. Vamos tratar?”

Obrigada por essas preocupações normais.

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