Maternidade: uma carta ao meu filho
Mimi, ver você crescendo significa que eu envelheço também e que me torno, a cada dia, menos “essencial” em sua vida
atualizado
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Querido Mimi,
Mais cedo, na hora do banho, te ouvi perguntar ao seu pai: estou ficando bem alto? Sim, ele disse, mas explicou que não era algo possível de ser percebido todos os dias, “a olho nu”; acontece aos pouquinhos e, bum, de repente, está enorme.
Venho observando, contudo, como você cresceu! Quando, à noite, já dormindo, seu corpo se espalha por mais da metade da cama; quando vejo o tamanho dos seus pés, suportando um (quase) menino grande; quando eu preciso prender a respiração e fazer força para te pegar no colo, halteres em forma de filho. Você já nem fica mais confortável – “Pode deixar, mãe, eu tô muito pesado”, me fala, e pede para ir para o chão. Prefere, agora, se aninhar ao meu lado.
Mas não é só tamanho, Mimi, é também você precisando menos de mim e do seu pai para as atividades que tanto tomavam tempo da gente nos primeiros anos. Não faz muito, me peguei em choque ao perceber que você tirou a roupa, ligou o chuveiro, passou xampu, condicionador e sabonete.
Ao te ver debaixo d’água, independente e dono de si, me dividi em três partes: uma morria de orgulho, outra chorava internamente pelo tempo transcorrido e a terceira queria ir lá checar se estava tudo bem limpinho. Nós, mães, somos meio assim: sentimentais e controladoras.
A coisa mais legal disso tudo, filho, é assistir ao desenvolvimento do seu jeito de enxergar o mundo. Hoje, você faz conexões e perguntas que me parecem impressionantes. Dia desses, em uma conversa com o namorado da tia Juliana, ele te perguntou como era possível ver um carro transparente, ao que você respondeu: a água também é transparente e eu posso vê-la – e eu fiquei te achando o novo Einstein. Sentimentais, controladoras e exageradas somos as mães.
Suas perguntas também são mais desafiadoras agora do que há algum tempo, filho. Quando você quis saber por que não fomos capazes de consertar o coração do vovô Nestor, fiquei pensando em quantas coisas complexas estão por trás da resposta, embora, no fundo, ela seja simples: todos nós envelhecemos e vamos “parar de funcionar” em algum momento.
Acho que isso é parte do meu assombro em te ver tão grande, Mimi. Você crescendo significa que eu envelheço também e que me torno, a cada dia, menos “essencial” em sua vida. Faz parte do meu trabalho, afinal, te fazer andar com as próprias pernas.
Mimi, você entrou nesta semana no último ano do que as pessoas costumam chamar de primeira infância. Aos 5 anos, dizem, as bases já estão construídas – precisam ser aprimoradas, é claro –, mas as fundações estão colocadas. Espero que eu e seu pai tenhamos feito tudo direitinho. Só desejo, filho, poder te ver crescer ainda mais. Te amo.