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Imagine ter 22 anos, decolar na carreira e ter que enfrentar uma pandemia? Parece frustrante. Mas Pedro Sampaio é da geração internet. Mesmo sentindo falta dos shows ao vivo, o cantor, produtor e DJ tem aproveitado o isolamento para produzir conteúdo on-line para os fãs sentarem, quicarem e rebolarem em casa.
Nesta entrevista, Pedro fala muito de música, mas não apenas disso. Das raízes cariocas ao que bomba na sua lista do Sportify, o artista também comentou a relação com o público — tem até gritaria de crianças na sua janela —, como a fama teve efeito na hora de conquistar alguém e até mesmo se está namorando no momento.
Confira o bate papo completo!
Leo Dias – A entrevista de hoje é com sangue novo. A nova geração do funk. Ele é de brega-funk, funk carioca e pop. Afinal, o que ele toca. Vamos falar com ele? Pedro Sampaio. Tudo bem, Pedro?
Pedro Sampaio – Tudo bem, Leo. Brigado pelo convite, brigado pelo espaço. Então, recebo muito essa pergunta: aonde que eu me encaixo. E é uma coisa que não penso muito. Não penso em me encaixar em nenhum lugar. Meio que faço o que acho legal. E uma das minhas características é justamente essa, tanto na música, quanto no show que entrego para o público.
A gente viu você em uma crescente absurda pouco antes da pandemia. Veio a pandemia e, provavelmente, seus planos tiveram que ser remodelados. Houve uma certa decepção?
Assim que começou a pandemia, o mercado começou a mudar. Só que uma das minhas formas de lidar com esse momento foi não pensar no que eu perdi. Mas pensei: o que é o novo atual? O novo atual é a criação de conteúdo para a internet, pensar fora da caixinha. Pensei dessa forma para começar a viver o que, provavelmente, vai ser nosso futuro em alguns meses. No primeiro dia de pandemia, já entendi isso e comecei a criar conteúdo para internet. Porque sempre fiz isso. Nasci na internet, remixando vídeos, criando batidas.
No primeiro momento, percebemos pelas plataformas de streaming, uma queda de músicas que pedem aglomeração. Mas, agora, a gente viu que o mundo não aguenta mais ficar em casa, embora tenham que ficar. Aí, vimos uma procura maior pelo pop e pelo funk. Você percebe isso também?
Com certeza, o interesse diminuiu no início da pandemia. Não acho que foi muito grande essa queda. Mas, agora você tudo voltando ao normal, começa a ouvir barulho da galera fazendo festa na rua. Acho que a pandemia, em relação ao funk, foi importante para se fechar um ciclo e começar um outro. As músicas urbanas têm essa característica de se reinventar. O funk tem muito isso. Tão me gritando aqui embaixo, ó. Tá ouvindo?
Leva a câmera até crianças que gritam o nome dele no estacionamento
Isso é muito bom, né? Você é atração turística no seu bairro?
É. Eles vêm aqui em cima, vem no apartamento para tirar foto.
Vamos falar da sua vida, Pedro. Quem é Pedro Sampaio?
Nasci no Méier, minha família é de lá. Passei boa parte da minha infância lá. O contato com música sempre foi muito intenso. Ninguém da minha família é artista, mas todo mundo consome muita música. Eu tenho uma irmã, Camila, mais nova. Ela que me ajuda, dança muito bem. Eu peço: “Camila, me ensina a dançar isso aqui”. Aquele vídeo que postei no Instagram, ela quem me ensinou. E tem meu pai e minha mãe. Minha mãe psicopedagoga e meu pai, engenheiro.
Você estudou em colégios particulares, conservadores, liberais? Como foram seus estudos?
Sempre estudei em colégios particulares e liberais. Nunca fui de colégio de freiras porque não ia dar certo, não ia me adaptar.
Por que? Qual o problema?
Muito conservador. Faz você pensar dentro de uma caixa, pensar de uma forma única. Não ia conseguir.
Como foi sua chegada e entrada na música? Muitos jovens como você gostam de música, querem trabalhar na música, mas não têm a oportunidade. Como foi para você?
De novo, Leo. Acho que se você que está começando pensar que tem pouca oportunidade, você não sai do lugar. Você não consegue se reinventar, criar algo positivo. Foi muito intuitivo. Me interessei por ser DJ aos 13 anos. Me encantei por esse mundo. Foi o lugar que me encantei, que podia misturar todos os ritmos e brincar com eles. Comecei por aí. Comecei a fazer festa da minha mãe, da minha avó, do play, de casa.
Ah é? Você tocava nas festas da família?
É! Tinha amigo família. Eu era aquele DJ que chegava com a caixa de som no ombro, meu pai me ajudando e montava tudo. Foi a melhor escola possível. Fazia cinco horas direto de festa. Então, montava equipamento, pegava festa abrindo, o meio da festa, o parabéns, a hora da galera mais velha na pista, então, tinha que ter uma gama muito grande para atender todo mundo. Desmontava tudo e ia para casa. E o valor que eu ganhava pouco importava, R$ 30, R$ 50 ou R$ 100. Aquilo tudo foi crescendo em mim, fazia cartãozinho, aquela coisa toda. Quando eu olhei para internet com outros olhos, eu falei: “Preciso me jogar aqui para galera me conhecer”.
Sobre sua vida pessoal. Você é um cara aparentemente discreto, apesar do cabelo azul que dá para facilmente apontar na rua. Você tá namorando? Namorou muito? Como foi sua vida?
Então, Leo, exatamente, sou muito discreto. Gosto de manter o foco para meu trabalho, minha música. Sei que o mercado brasileiro não tende muito para esse lado, mas gosto muito de viver no meu mundo.
Então isso significa que você não vai responder minha pergunta?
Não, não! Nenhum problema em responder! Só falando que meu jeito é esse, sabe? A galera que trabalha comigo já entendeu que meu jeito de trabalhar com a rede social não é expondo tudo, não é mostrando minha casa, minha família. Os meus fãs-clubes descobriram minha avó, descobriram minha mãe. E, assim, eles descobriram, não fui eu que falei. E tá tudo certo, acho lindo!
Você não mostra, mas não é porque tem algo esconder. É porque quer separar a persona pública da persona privada. É isso?
Sem dúvidas. Totalmente isso.
Mas você não vai responder, então?
Não namoro, estou solteiro.
Mas você já foi namorador? Posso fazer uma pergunta? Quando você perdeu a virgindade?
Com 18 anos. Não não! Foi com 17 anos.
Foi tarde ou cedo para os seus amigos? Me explica.
Para os meu amigos? Acho que foi uma época boa. Eu considero uma época boa. Não foi tarde.
Você acha que a fama te deixou mais bonito?
Qualquer um, né, Leo?! Até você! Olha aí!
Você consegue separar? Olha só, essa menina está interessada no Pedro Sampaio DJ…
Total! Total!
Como você consegue diferenciar?
A coisa que eu mais presto atenção é a ligação sincera. No momento do meu show, eu não penso na menina que está me olhando. Estou pensando no que as pessoas em geral estão sentindo com a energia do show. Então, me conecto com essas pessoas. Essas coisas periféricas e tal… Pouquíssimas vezes eu fico no show depois da festa, pouquíssimas eu presencio e vivo esses momentos, que são mais propícios para esse tipo de coisa.
Você separa bem. Aqui é o momento de me divertir, aqui é o momento de trabalhar.
Não é nem me divertir, porque eu me divirto muito no show. Não tem sensação melhor do que no show. Eu até tava falando com minha mãe outro dia. Agora que eu estou sentindo falta da rotina, dos shows e tal porque, enfim, a pandemia se estendeu. E o que eu mais sinto falta é de estar na van, no hotel, no avião, com minha equipe. Eu lembro flashes do show porque é um momento tão abençoado que eu nem consigo lembrar. Lembro de flashes de Pedro Sampaio no palco. Lembro mais do camarim, sinto mais falta disso.
Eu queria saber, também, atualmente, o que te inspira na música atual, na música de hoje. No que você se espelha, o que você tem como objetivo?
Pedro: Qualquer tipo de música me inspira, cara. Pra mim, todas as músicas que eu faço eu sinto elas balançando o meu corpo. O objetivo da minha música é fazer você dançar, fazer você ter momentos positivos com você, com seus amigos, com sua família… Você ouvir ela para se reanimar, pra acordar, pra, sabe…? Good vibes, e é isso. Esse é o meu objetivo com minha música. Então, não me prendo muito em letra, não me prendo muito em poesia, é mais o conjunto da obra. Como ela vai tocar no seu coração, como ela vai tocar no seu ouvido. Na parte instrumental, na parte melódica. É isso, sabe? Eu acho que o funk tem muito isso. O funk tem muito isso.
Hoje em dia, o que você ouve?
Cara, eu estou, assim… Eu escuto muito o que está acontecendo hoje em dia.
O que está acontecendo, me conta?
Gosto muito de escutar o que está rolando no Spotify, as primeiras posições pra entender o que o público está consumindo mais, de onde vem aquilo ali. Então, faço toda uma pesquisa em relação… Não uma pesquisa, né? Eu entendo por dentro.
Sim, você traduz aquele gosto popular. E entender como você mesmo traduziu a música que está bombando atualmente, e entender o que o público quer ouvir. É isso?
É, é uma coisa que acontece naturalmente comigo. Eu gosto de entender o comportamento das pessoas em relação àquela música, o porquê daquilo acontecer, e tal. Tirando isso, faço um trabalho de pesquisa muito grande que me dá muito prazer e me faz conhecer novos artistas, nacionais e internacionais. Então, assim, no Spotify, no YouTube, no Soundcloud, então estou sempre procurando sons novos, ideias novas, da Índia, da África, que eu consiga trazer.
É mesmo? Então gente que a gente nunca ouviu falar provavelmente você ouve e até curte, né?
Totalmente! Eu diria até meu amigo, que vem aqui, que vai, dá volta comigo de carro, eu: ‘Ouve essa música aqui’. É um bagulho da África, mas que é muito bizarro. Isso tem um termômetro que às vezes, assim, a música da África você não entende o que o cara tá falando, não sabe do que ele está falando, mas você sente aquilo ali. É exatamente o que eu quero fazer. Você não precisa entender o que eu estou falando, às vezes eu falo umas palavras um pouco tortas, mas que, no conjunto da obra, faz total diferença para o impacto que eu quero no seu ouvido. No meu Spotify tenho uma pastinha lá, só minha, só eu tenho acesso, é privado. Tem muita coisa! Eu escuto outros, boto lá na pastinha. Tem música lá que adicionei três anos atrás e escuto hoje pra ter uma ideia de uma música para lançar amanhã. Vai montando uma biblioteca bem interessante.
Um dos grandes desafios e um dos méritos é que você usa pouco essas palavras clichês, né? Não tem tanta! Claro que tem que ter, né? Funk é ‘senta’, ‘rebola’, ‘cintura’, ‘desce’, ‘quica’. É um pouco complicado, mas não é tão comum, tão óbvio. A sua música procura ser menos óbvia do que o normal. É isso mesmo?
Então, é interessante você falar isso porque minha música é muito óbvia. E você ter esse entendimento é maneiro porque você está ganhando esse entendimento pelo conjunto de tudo. Então, assim, o instrumental, a estética da música, faz você compreender a música como se ela não fosse tão óbvia. Mas eu falo ‘senta’, eu falo ‘vai, senta’, ‘vai rebolando’, sabe? Só que, na música, dentro de tudo o que ela está ali, você compreende ela como com mais elementos por conta do conjunto da obra.
Entendi. Então, assim, não fica só presa a um ‘senta’, ‘quica’ ou ‘rebola’, né? Tem algo a mais a oferecer além disso, né? Além do óbvio que você diz.
Mas assim, se você quiser ouvir só o ‘senta’, ‘quica’ ou ‘rebola’ eu vou achar ótimo.
Sem preconceito, né?
Eu acho que tem momentos e momentos.
Claro!
Está querendo só ouvir o ‘senta’, ‘quica’ ou ‘rebola’? Senta, quica e rebola! Faz à vontade o que você quiser. É isso.
Vamos falar do Pode Dançar. Cara, eu gostei muito da estética do clipe, muito!
Obrigado!
Fala como você fez, pensou nesse clipe. E fala da música também.
Então, Pode Dançar, é o seguinte: eu não sou o artista que tem trezentas músicas prontas. Eu faço o que estou sentindo agora. Acho que o interessante é agora. Mas não para ser consumido apenas agora. Para ser consumido para a eternidade. Então, assim, Sentadão foi o único (?? 16:57), teve a onda do brega funk, aí eu falei: ‘Putz, é foda. Isso me toca de uma maneira diferente’. Aí, em Sentadão, tive a oportunidade de ir na raiz do brega funk. Fui até Recife, conheci todo mundo lá. Vi quem eram os produtores, me associei a eles, entendi o ritmo e fiz uma coisa com verdade. O que o ritmo pedia mesmo, enfim. E Pode Dançar foi muito isso também: eu analisando essa mudança de comportamento no YouTube, desacelerando algumas coisas, resgatando momentos nostálgicos, resgatando músicas da época. Quando vi esse movimento, falei assim: ‘Tenho que pensar em algo que passe por todos esses pontos’. E Pode Dançar foi isso assim. Quando eu entendi mais ou menos para que caminho o público estava indo eu, na hora, foi caçar algumas coisas que eu poderia pegar, e veio os anos 90, que é o Miami Bass, que foi o que te falei no início da entrevista. É um pouco da sua época…
É, claro que é!…
É um pouco da sua época.
É, claro que é. Um funk melody, talvez.
Total. Exatamente.
Pode Dançar é fruto de uma pandemia mundial, é isso?
Não sei se é fruto de uma pandemia, mas é fruto de uma mudança de comportamento do público. Isso, com certeza. Porque teve essa desaceleração, aí eu fui buscar os anos 90, mas eu sabia que não poderia fazer algo retrô. Pode Dançar não é uma música vintage, não é uma música retrô, que quer voltar ao passado. Tenho certeza que uma galera da minha idade, da idade da minha irmã, que tem 18 anos, nunca ouviu Miami Bass. Então, é uma forma dessa história do funk chegar até essa galera. Sem a menor intenção de ensinar nada. É um beat diferente que fiz com a intenção pra pessoa dançar.
Assim como um pintor, a gente olha quadros antigos e vê o retrato de uma época. Igual a você. A gente vai entender, daqui uns anos, o que representou cada música para sua vida e para aquele momento em que foi lançada. Embora você não tenha essa pretensão profunda, dá para tirar uma profundidade dentro da sua música.
A gente entende que, no cenário do funk atual, é diferente do pop internacional. Todos os artistas se atentam para a estética do clipe, para passar uma mensagem, tem sempre muito isso lá fora, um conceito. Eu gosto de fazer com todas minhas músicas. Pode Dançar tem esse conceito dos anos 90, misturado com a estética atual, com a minha verdade. A busca para saber o que vou fazer demora, mas quando sei o que vou fazer, vem tudo. Aí eu produzi a música, escrevi a letra, pensei no clipe e entendi o que queria fazer. Uma coisa atrás da outra. O clipe tem muita espuma, quis trazer isso. Além de prevenir o corona, pensei no seguinte: na época do Miami Bass tinha muito banho de espuma. Mergulhei nos anos 90, fui ler, ver documentários…
Pedro, parabéns. Te dei esse espaço, não esperava que você falasse tão bem. Prevejo um futuro brilhante não só pelo conteúdo que você apresenta hoje, mas o que você tem dentro de si. Seja esse mesmo rapaz de hoje, acessível, legal, gente boa.
Leo, obrigado. Fica aí no Nordeste, combina muito com você. Valeu, Leo.