Compartilhar notícia
O BBB21 trouxe à tona questões urgentes: segregação, cancelamento e preconceito viraram tema de debate e deixaram muitos em estado de alerta. Ainda que os acontecimentos do programa não sejam uma realidade distante, as cenas vistas na edição tem despertado ansiedade exacerbada tanto em quem assiste quanto nos que estão em casa.
A coluna Leo Dias conversou com psicoterapeuta Aline Sharon, que lança nesta sexta-feira (5/2) o livro Pequeno Manual de Ansiedade, sobre os reflexos do que está acontecendo no reality, na vida dos telespectadores e na dos confinados.
Segundo a especialista, a ansiedade é atualmente uma das maiores desafios do século. Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019 colocam o Brasil como o país mais ansioso do mundo: são 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) que convivem com o transtorno. Ainda de acordo com a psicoterapeuta, os participantes podem sim ter crises de ansiedade durante os dias de confinamento.
“Imagine viver em um espaço que não é algo natural em sua vida, como viver numa prisão, estar isolado de tudo que você está familiarizado? Imagine não saber o que o jogo vai pedir para você e muito menos o que o público e sua família está pensando sobre você? A ansiedade é uma sensação como de ‘preocupação’, que faz com que a gente se prepare para algo que estar por vir. Se você não sabe nada do que vai acontecer, está confinado e não tem muita autonomia, a crise é algo que se pode esperar”, explica.
“O isolamento conduz o indivíduo a tentar arrumar formas de se defender. Assim, ele pode desenvolver ou aumentar, em quem já tem algum tipo de adoecimento emocional, transtornos de ansiedade, depressão, apatia emocional, como vários outros problemas. Uma característica pessoal que pode levar alguém a ter uma crise de ansiedade em reality show é ter autoestima baixa. A autonomia pessoal está diretamente ligada à autoestima e, no contexto do BBB, que a autonomia do participante é diminuída pois ele precisa seguir regras do jogo e ficar confinado, se a pessoa não tiver uma boa autoestima a crise de ansiedade é garantida”, completa Aline.
Pequeno Manual sobre Ansiedade
Aline Sharon – @alinesharon
Preço estimado: R$ 40
79 páginas
Editoria Hope
Cada um sente de uma forma
À medida que o programa avança, os conflitos aumentam e afetam os participantes de diferentes formas. Uma delas são as implicações psicológicas, essas instantâneas. Para Sharon, na vida fora do BBB, nos distanciamos de alguém com quem não temos boa convivência, evitando sentimentos ruins. Longe desses sentimentos como o medo, a raiva, a ira, o orgulho, diminuímos nossos níveis de tensão e de ameaça. “Só que no BBB não é possível o afastamento, pelo contrário, o jogo faz com que as pessoas se enfrentem. Só sobram duas saídas: o ataque ou o surto. É por isso que, por besteira, a briga reina e as respostas são superfaturadas. É por esse motivo também que as pessoas mostram com mais facilidade seus medos, dores e fragilidades”, afirma a especialista.
“Quanto mais tempo ficam num local hostil e cheio de ameaças, mais irritados, ansiosos e inflexíveis eles serão. Deixam de lado sua naturalidade e o estresse contínuo só aumenta as consequências que, às vezes, não podemos prever”, completa. Os reflexos do que está acontecendo no programa na vida das pessoas são variados. Primeiro, as pessoas acham que precisam ser outras diferentes para serem aceitas. Ou que precisam ser dramáticas ou chamar atenção para chegarem aonde querem.
“Precisam ser tudo, menos o que elas são de verdade para terem sucesso e isso é influenciar drasticamente a individualidade do ser humano. Um reality show submete as pessoas de forma tendenciosa ao que o mundo quer explorar, especialmente agora com as redes socais e através disso, estamos acompanhando todos esses cancelamentos”, frisa. Ainda de acordo com a psicoterapeuta, também podemos englobar a forma de se vestir, de como ter o corpo legal e, principalmente, em como se comportar, induzindo, claramente, as representações e práticas não só de consumo de seu público, mas de oferecer novos modelos de como exercer seus pontos de vista, julgamentos de valor, seus sentimentos e preferências e isso aumenta a procura por essa felicidade midiática, que, em sua maior parte, é vazia e insustentável.
“O que deve ser entendido também é que a sociedade atual vive uma contradição imensa. Ela sabe do comando da mídia e tem noção do poder que é ter o controle de ver o outro e não ser visto por ele (manipular sem mostrar a face). Mesmo assim, o público participa com milhões de audiência dessa condução de massa e acham que, por votarem em alguém para sair ou ficar, esse poder de manipular a vida de alguém é deles. Esse o maior problema”, finaliza.