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Ao longo desta semana, esta coluna fará uma série de reportagens que revelarão a relação conturbada vivida entre artistas e gravadoras dentro deste novo cenário musical.
Na melancolia apaixonada de suas letras, o cantor Jão conquistou uma legião de fãs que endeusam a poesia angustiante que ele produz. Como um millennial que se preze, o cantor iniciou sua carreira de forma independente, tendo a internet como principal aliada.
Com um pouco mais de 3 anos de carreira coleciona mais de 200 milhões de visualizações no YouTube e 1 milhão de ouvintes mensais no Spotify. Ainda que a soberania das grandes gravadoras tenha chegado ao fim com a o avanço das plataformas de streaming, o cantor, assim como outros artistas, recorrem a elas na promessa de mais investimento — afinal, elas ainda detém o poder financeiro.
Mas, segundo informações enviadas a esta coluna desde o ano passado, Jão está sofrendo um processo limitante com a Universal Music, que pede 30% de todos os seus ganhos em shows e publicidade em troca de uma suposta prioridade dentro da gravadora — a percentagem padrão é de 10%. A empresa nega, afirmando que os contratos são sigilosos.
A jogada da Universal coloca não só o cantor como todos os artistas que são do casting e os novos talentos em uma situação de vulnerabilidade: ou aceitam e ganham a suposta preferência ou podem acabar marginalizados dentro dos programas de marketing e investimentos.
Fatia
Ainda de acordo com fontes, a gravadora pede essa expansão via GTS, que é uma empresa da própria Universal, que realiza agenciamento artístico. Além da fatia referente aos shows e publicidades, há ainda o valor dos royalties artísticos — percentual que o artista recebe pela distribuição das suas músicas —, dos quais os artistas ficam com, aproximadamente, 15 a 25% (padrão mundial) e a gravadora com 85%.
Apesar de ser um nome de muito sucesso no cenário pop, a gravadora não aceita que Jão negue-se a cantar ritmos do momento ou reclama que ele não assume uma agenda de shows padrão, com muitas datas e baixa qualidade de espetáculo.
Jão “bate o pé” e diz que não abre mão. A gravadora, por sua vez, em uma tentativa de persuadir o artista, tem o colado na lanterna dentro da escala prioridades. Vale lembrar que, com um casting vasto, é uma prática comum dentro desse mercado escolher como, quando e em quem investir. E, neste caso, ganha destaque quem cede mais.
Enquanto isso, a gravadora luta contra o trabalho de Jão para forçá-lo a aceitar o novo acordo. Desde o seu último álbum, essa situação se arrasta. Lobos foi um sucesso porque ganhou destaque e investimento. Já em Anti-Herói, essa imposição da Universal Music já existia e seus clipes quase não tiveram investimento: o projeto saiu sem nenhum apoio de marketing e promoção.
Em sua apresentação no Prêmio Multishow, na qual homenageou Cazuza, Jão também enfrentou dificuldades por parte da Universal. Assim como o eterno exagerado, Jão não subestima a própria arte nem o público mas, ao que consta, as gravadoras ainda insistem em tentar calar a voz dele.