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A imprensa não é e não precisa ser imparcial. O público é o juiz

Ele lê, ouve e vê o que quer. Quando não quer mais, vai embora e, em geral, não volta

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Alan Santos/PR
17/07/2019 Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul
1 de 1 17/07/2019 Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul - Foto: Alan Santos/PR

O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reclama, o tempo todo, que a mídia brasileira não é imparcial. Ao contrário: toma sempre partido quando publica qualquer informação, opinião ou análise, e esse partido é sempre contra o governo.

A guerra não fica só no xingatório. Tem se manifestado em corte de assinaturas, corte de verbas publicitárias, corte de acesso a informações e por aí afora — incluindo uma tentativa de mudar a lei que obriga as sociedades anônimas a publicar seus balanços em jornais.

A mídia, naturalmente, acha que tudo isso é uma tremenda indecência. Nos seus protestos mais exaltados, fala em “atentado à liberdade de imprensa”, “ameaça à democracia” e sabe Deus que outros horrores mais.

Seria bom, em nome da clareza, olhar um ou dois minutos para os fatos, nessa história toda — a menos que se queira, deliberadamente, levar adiante um mal-entendido tamanho família. Primeiro fato: a imprensa não é imparcial em relação ao governo. Ao contrário: detesta sem nenhum disfarce, ou com disfarces realmente lamentáveis em sua pobreza, o presidente da República, seu governo, sua família, suas ideias, tudo o que faz, tudo o que não faz e até o que imagina que o governo possa estar pensando. Isso aparece de ponta a ponta no noticiário, nos editoriais e na seleção das opiniões.

Segundo fato: a imprensa não tem direito algum a dinheiro público na forma de “verbas publicitárias”, e a lei que obriga a publicação dos balanços é uma pura e simples safadeza, que não deixa de ser menos safada apenas porque é velha.

Terceiro fato: dizer que a imprensa “está apenas cumprindo o seu dever de informar” é hipocrisia em modo “extremo”. Ela está, ao contrário, querendo prejudicar o governo em tudo o que for possível.

Vamos, agora, aos fatos do outro lado — que na verdade é um fato só. É o seguinte: a imprensa não tem a menor obrigação de ser imparcial em relação à coisa nenhuma — nem de ser parcial, obviamente. Tem, apenas, a obrigação de ser livre. É o que diz a lei: todo mundo, e não só a mídia, tem o direito de se expressar livremente em qualquer circunstância.

O governo não tem de ser juiz da imprensa. O Congresso não tem de ser juiz da imprensa. Só existe um juiz para a imprensa: o público. Ele lê, ouve e vê o que quer. Quando não quer mais, vai embora e, em geral, não volta. O resto é tudo uma monumental perda de tempo.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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