Rollemberg desconsidera alertas e diz que não há surto de infecção por água
Em bate-papo no Facebook, governador do DF afirmou que recurso hídrico do Lago Paranoá é de qualidade, mas médicos questionam o caso
atualizado
Compartilhar notícia
O governador Rodrigo Rollemberg (PSB) descartou haver um surto de infecção intestinal no Distrito Federal provocado pelo consumo da água tratada do Lago Paranoá. Durante um bate-papo com seguidores do perfil oficial do Governo do DF no Facebook, ocorrido na tarde desta quinta-feira (21/12), o socialista garantiu que o líquido distribuído pela Companhia de Saneamento do Distrito Federal (Caesb) é de qualidade.
Ao fazer a afirmação, o chefe do Executivo desconsidera a suspeita de centenas de pessoas que relataram ter os sintomas de gastroenterite após o alerta do médico endocrinologista Flávio Cadegiani.
“Como não identifiquei nenhum alimento específico em comum que causasse esse problema nas dezenas de pessoas acometidas, embora não consiga comprovar, parece-me que de fato a provável queda na qualidade da água — pelo fato de ser captada do Lago Paranoá — seja a causa responsável por este surto. E parece que o filtro de água não está adiantando”, escreveu o médico em publicação no Facebook.
Após a publicação do Metrópoles sobre a possível relação de um surto de gastroenterite e o consumo da água do Lago Paranoá, dezenas de pessoas passaram a relatar sintomas nas redes sociais. Na ocasião, tanto a Caesb quanto a Secretaria de Saúde garantiram que o caso não passava de alarde. No entanto, em nenhum momento apresentaram laudos que comprovassem a qualidade da água.
Durante a entrevista desta quinta, Rollemberg ratificou o posicionamento. “Não tem surto de infecção intestinal nenhum. A Caesb tem os melhores laboratórios de análises de água, faz isso com o maior cuidado, com a maior responsabilidade. Eu mesmo tomei a água no dia da inauguração (da estação de captação). Portanto, não há risco”, afirmou.
Em 2 de outubro, sob protestos, o governo local inaugurou o subsistema de captação e tratamento do Lago Paranoá. O empreendimento, feito em caráter emergencial, custou R$ 42 milhões. “Nós temos duas grandes obras de captação – a do Paranoá e a do Bananal. Elas estão colocando 1,4 mil litros por segundo na rede e posso assegurar à população que a água pode ser usada com total tranquilidade, total segurança. Os laboratórios de análise da Caesb são equiparados aos de qualquer país desenvolvido do mundo”, reforçou Rollemberg.
Outras críticas
Apesar das declarações de Rollemberg, o endocrinologista Flávio Cadegiani não foi o único médico a colocar a qualidade da água captada do Lago Paranoá sob suspeição. Em 23 de outubro, o clínico Estevão Cubas Rolim, lotado na Unidade Básica de Saúde do Itapoã, enviou ofício à Secretaria de Saúde pedindo investigação do recurso hídrico ofertado na região.
O especialista, que dá plantão no posto de saúde do Itapoã, demonstrou mesma preocupação com o aumento expressivo de pessoas com queixas gastrointestinais, e alertou para uma provável epidemia.
A situação atual sugere relação de causa e efeito diante do vínculo epidemiológico comum dos usuários do consumo de água da rede pública, devendo ser investigada eventual situação que põe em risco a população
Estevão Cubas Rolim, médico da Rede Pública de Saúde do DF
Rolim também chamou atenção para o sabor da água, motivo de protestos recorrentes dos pacientes que o procuram. “Importante pontuar as reclamações de diferença expressiva no gosto e aparência, características que levam à possibilidade de contaminação, o que deve ser objeto de análise pelos órgão competentes”.
O profissional finalizou o relatório pedindo nova análise da água do subsistema do Lago Paranoá. Ele abastece, além do Itapoã, a Asa Norte, o Lago Norte, o Paranoá, o Taquari e parte de Sobradinho II. “Solicito avaliação quanto à qualidade da água e sua adequação ao consumo, em especial considerando a recente mudança de abastecimento por nova estação de tratamento”.
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que as suspeitas levantadas por Estevão Cubas Rolim não procedem. “Os casos citados pelo médico foram investigados à época e não se encontrou qualquer relação entre eles e a qualidade da água. Também foi realizada, na ocasião, análise da água da região e todas as amostras tiveram laudo satisfatório”.