Laudo da Novacap diz que infiltrações ameaçam Rodoviária do Plano
Relatório identificou inúmeros vazamentos e infiltrações, que podem comprometer a estrutura do local, onde transitam 700 mil pessoas por dia
atualizado
Compartilhar notícia
Relatório recente elaborado pelos técnicos da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) conclui que o principal terminal rodoviário do Distrito Federal está ameaçado devido a inúmeras infiltrações e vazamentos, que comprometem a estrutura do local. Trata-se da Rodoviária do Plano Piloto, por onde passam diariamente 700 mil pessoas.
O laudo foi elaborado em meio às investidas do Palácio do Buriti de passar a administração do espaço à iniciativa privada, por meio de uma parceria público-privada (PPP), e revela que o terminal oferece risco iminente aos frequentadores e usuários. Embora tenha passado por reforma recentemente, o problema hidráulico crônico compromete as benfeitorias entregues há pouco tempo à população, segundo indica o documento da Novacap obtido pelo Metrópoles.
“Alertamos que será necessária uma ação conjunta do Governo do Distrito Federal no sentido da viabilização de um estudo aprofundado dos vazamentos e inundações de água e esgoto que ocorrem naquele terminal (em toda a sua edificação bem como no seu entorno). Tais vazamentos estão danificando os serviços ora executados, podendo ainda causar riscos aos usuários e transeuntes”, registra a vistoria.
Confira trechos do laudo:
Em julho, o GDF iniciou uma reforma da plataforma superior a um custo de cerca de R$ 6 milhões. Na oportunidade, os técnicos tiveram acesso às vigas e passaram a inspecionar a situação das estruturas de sustentação do terminal.
Ao destacar os principais problemas registrados, o relatório também indica que não foi encontrada a origem dos vazamentos e das infiltrações, que aumentam consideravelmente no período das chuvas.
“Vale ressaltar que tais infiltrações também estão ocasionando corrosão nas cordoalhas da estrutura que sustenta o Mezanino, cuja geometria do pilar de sustentação é semelhante à do viaduto da Galeria dos Estados, que entrou em colapso em 2018“, reforça o documento da Novacap.
A inspeção identificou ainda pontos de assoreamento do solo, especialmente nas plataformas C e D. A empresa chegou a aterrar um buraco de aproximadamente 6 metros de profundidade e 1 metro de diâmetro na pista de circulação paralela à plataforma C, mas a vistoria aponta a existência de outras depressões no pátio de parada temporária dos ônibus.
Elevadores e escadas rolantes afetados
As infiltrações e inundações também são apontadas pelos técnicos da estatal como responsáveis pelos constantes problemas nas escadas rolantes e elevadores do terminal.
Estão continuamente com problemas de funcionamento, sendo uma dessas causas a inundação constante em suas casas de máquinas. Assim também encontram-se as caixas de passagem das instalações elétricas e de telefone que passam sob o piso das plataformas do Pavimento Térreo, bem como os abrigos destinados aos medidores da CEB e CAESB. Esta fonte de água é completamente desconhecida
trecho do relatório da Novacap
Uma das obras mais ousadas de Brasília, a construção da Rodoviária exigiu um corte de cerca de 10 metros no coração da capital federal. Aproximadamente 350 caminhões fizeram o transporte da terra para a criação de um cruzamento dos eixos para a Praça dos Três Poderes.
A realidade dos usuários
O autônomo Raimundo França, 52 anos, frequenta a rodoviária há três décadas e diz que os problemas são de longa data e se repetem ao longo dos anos. “Isso aqui nunca foi bom. As placas das paredes de vez em quando caem: um perigo de acertar alguém”, conta.
Veja imagens do lugar:
No terminal, nenhum dos elevadores funciona. Das escadas rolantes, as únicas operantes são as que dão acesso à Estação Central do Metrô. O recém-reformado teto da plataforma inferior sofre com infiltrações e mofo. Em alguns pontos, a água da chuva desce em cascatas, passando por lâmpadas – veja o flagrante feito nesta terça-feira (03/12/2019) pelo Metrópoles em um dos comércios do terminal:
Para o camelô Ailton Santana, 53 anos, a rodoviária é o retrato do descaso. “Não adianta nada fazer reforma aqui. Eles [as empresas contratadas pelo governo] vêm, fazem a obra e não melhora nada. Continua a mesma sujeira, os banheiros estragados, as escadas rolantes e os elevadores parados. Tem muita coisa que precisa melhorar aqui, mas nunca fazem o que precisa ser feito”, critica.
Outro lado
Procurada pela reportagem, a Novacap esclareceu que o relatório é parte da entrega da reforma feita desde julho na plataforma superior do terminal, que “necessita de manutenções, inspeções e serviços constantes”.
“Dessa forma, após a finalização de mais um contrato, foi iniciada vistoria dos vazamentos e infiltrações que ocorrem no terminal rodoviário, principalmente nos períodos chuvosos, para fins de avaliação técnica e, se for o caso, adoção dos procedimentos necessários, sejam eles de manutenção ou contratação de serviços corretivos, dentro de uma ação conjunta de governo.”
Ainda de acordo com a estatal, “não existem riscos aos transeuntes, e as ações em conjunto com os demais órgãos e secretarias do GDF são no intuito de preservar o bem público e a segurança da população”.
A Novacap esclarece ainda que “sempre serão necessárias intervenções na rodoviária por se tratar de uma edificação antiga, que absorve um número gigantesco de transeuntes. Para tanto, o GDF lançou um edital para contratação de uma parceira público-privada (PPP)”.