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Iges-DF quer testar cloroquina em 400 pacientes com coronavírus

Instituto que comanda dois hospitais e todas as Upas diz aguardar autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa para iniciar estudo

atualizado

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HAL GATEWOOD/UNSPLASH
comprimidos em fundo azul
1 de 1 comprimidos em fundo azul - Foto: HAL GATEWOOD/UNSPLASH

Responsável pelos hospitais de Base e de Santa Maria, bem como pelas unidades de pronto atendimento (UPAs) do Distrito Federal, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF) se prepara para testar a cloroquina em pelo menos 400 pacientes infectados pelo novo coronavírus –com sintomas considerados leves, moderados ou graves.

A entidade submeteu à análise da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) um protocolo de pesquisa “inovador para estudo de tratamento para Covid-19 chamado AGES-COVID-HCQ”. A previsão é de que o estudo seja iniciado a partir do aval do órgão, conforme regulamentação nacional para pesquisas envolvendo seres humanos.

À reportagem, o Iges-DF destacou que a iniciativa “está alinhada com recomendação do Ministério da Saúde que reforça a necessidade de avaliar o real benefício da hidroxicloroquina isolada ou em associação, uma vez que não existe, até o momento, evidência de qualidade sobre seu benefício real para pacientes”.

O uso do medicamento no tratamento não é consenso no mundo e divide especialistas. Há, inclusive, 65 estudos científicos investigam efeitos da cloroquina.

18 pacientes

Embora ainda guarde resultados mais precisos de análises sobre o remédio, a Secretaria de Saúde também tem administrado o fármaco em terapias paralelas, principalmente em quadros considerados graves.

Documento obtido com exclusividade pelo Metrópoles, datado de 6 de abril, revela que a pasta tem conhecimento de 18 casos em que o medicamento com efeitos controversos tem sido aplicado “como suporte” em pacientes hospitalizados, “mas sem que outras medidas sejam dispensadas”.

Desse total, 15 infectados estão internados em unidades da rede pública e outros três em hospitais particulares.

Veja publicação da Secretaria de Saúde:

Trecho de fac-símile da SES-DF com pacientes tratados com derivados de cloroquina

 

Anvisa

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou à reportagem que apenas em dezembro terá os primeiros resultados sobre a real eficácia do composto em casos de Covid-19.

Até a chegada da pandemia, a cloroquina era conhecida como um medicamento usado no tratamento de doenças como malária, lúpus e artrite reumatoide. Com o avanço novo coronavírus e sem terapia comprovada cientificamente para combatê-lo, médicos ao redor do mundo passaram a testar diversas drogas e associações entre elas, especialmente para os casos mais graves – e a cloroquina é uma delas.

Embora defendido em discursos políticos acalorados, o uso do medicamento tem sido alvo de críticas por parte da comunidade científica mundial, que questiona a verdadeira eficácia do fármaco em pessoas infectadas pela Covid-19. Após testar o uso da cloroquina em pacientes com a doença, médicos da Suécia, por exemplo, decidiram desistir do protocolo clínico com o medicamento por conta dos efeitos adversos.

As pessoas que tomaram o remédio relataram dores de cabeça muito fortes, perda de visão periférica e cólicas dias depois de começarem com a cloroquina. A estatística de que 1% dos pacientes pode sofrer com arritmia também foi considerada na tomada de decisão.

No Brasil, a cloroquina está liberada para uso em pacientes críticos e graves, apenas em ambiente hospitalar, já que existe a preocupação com os efeitos colaterais. Um estudo feito pela Fiocruz indica que ainda não há evidências suficientes para garantir que o fármaco faz diferença nos tratamentos.

Uso no DF

Recente reportagem do Metrópoles revelou que pacientes com o novo coronavírus foram tratados com hidroxicloroquina ou cloroquina em hospitais públicos e particulares do Distrito Federal, mas somente quando apresentaram quadros graves da doença. De acordo com orientação do Ministério da Saúde, o composto é recomendado para casos específicos.

A própria pasta apontou, na oportunidade, que a eficácia e segurança do medicamento no combate à Covid-19 ainda não estão confirmadas. Por esse motivo, a liberação da hidroxicloroquina como terapia tem causado polêmica.

Segundo o subsecretário de Vigilância à Saúde, da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), Eduardo Hage, a medicação ainda não foi incorporada ao protocolo geral de tratamento. O gestor pontuou também que o uso ocorre em testes terapêuticos nos casos graves.

“Não há evidências firmes da eficácia e segurança. Fizemos testes terapêuticos apenas nos casos graves, com decisão do médico em comum acordo com o paciente ou familiar”, destacou Hage.

De acordo com o subsecretário, a primeira paciente diagnosticada com o novo coronavírus no DF foi uma das pessoas que receberam tratamento com a hidroxicloroquina, em doses terapêuticas. “Mas ainda não sabemos do resultado nesse caso”, frisou.

Para Hage, também não há evidência da eficácia da hidroxicloroquina nos casos leves da doença.

O que diz a SES-DF

A Secretaria de Saúde do DF foi procurada para se posicionar a respeito do documento interno obtido pela reportagem, mas não comentou sobre os 18 pacientes tratados com o fármaco. Contudo, em nota, informou que “o uso de cloroquina e hidroxicloroquina para pacientes com Covid -19, até o momento, não tem eficácia e segurança evidenciadas em estudos científicos”.

Algumas pesquisas, assinalou a pasta, estão em andamento em todo o mundo, inclusive no Brasil. “Nenhum desses estudos apresentaram, até o momento, resultados conclusivos que autorizem o seu uso em pacientes com a doença.”

Segundo a secretaria, “o uso desses medicamentos somente é indicado como teste terapêutico, exclusivamente sob prescrição médica, para tratamento de casos graves da doença, quando não há alternativas, e tem de ser com o pleno conhecimento do paciente (ou seus familiares) sobre os efeitos colaterais, alguns deles graves”.

O órgão também informa que “o uso em pacientes com sintomas leves ou na fase inicial não tem evidenciado nenhum benefício, em que pese a manifestação de alguns médicos, e apresenta riscos de eventos adversos graves como arritmias”.

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