metropoles.com

GDF reabre espaço dedicado a Niemeyer, mas sem obras do arquiteto

Fechado há seis anos por falta de manutenção, local foi revitalizado, mas voltará a funcionar com exposição temporária de Siron Franco

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Rafaela Felicciano/Metrópoles
Espaço-Oscar-Niemeyer
1 de 1 Espaço-Oscar-Niemeyer - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Fechado há seis anos pela falta de manutenção para abrigar o acervo em homenagem ao principal arquiteto de Brasília, o Espaço Oscar Niemeyer será reaberto, neste sábado (24/08/2019), com uma exposição do artista goiano Siron Franco. O anúncio repercutiu negativamente, já que o local foi concebido para abrigar exclusivamente o acervo da figura considerada chave para o desenvolvimento da arquitetura moderna mundial.

Ex-genro de Niemeyer e atuante na construção de Brasília, o arquiteto Carlos Magalhães da Silveira indignou-se ao receber a notícia, publicada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). O pioneiro criticou a decisão do Governo do Distrito Federal (GDF) em mudar o conceito do espaço, criado em 1988 pelo então governador, José Aparecido.

“Eu era secretário de Obras quando o então governador me chamou para determinar a construção do local, erguido para abrigar a Fundação Oscar Niemeyer e todo o acervo dele. O que estão fazendo é uma verdadeira traição à história da nossa capital”, acusa.

Na visão do defensor da cidade, a escolha do artista plástico para ocupar um espaço dedicado exclusivamente à obra do principal arquiteto de Brasília é um “atestado de descomprometimento” do governo com o legado de Niemeyer. “Para mim, isso é um acinte”, disparou.

4 imagens
Espaço estava fechado desde 2013, quando sofreu infestação de fungos
Com a reforma recém-finalizada, o local criado em homenagem a Niemeyer abrigará exposição de Siron Franco
O <b>Metrópoles</b> registrou a mostra sendo montada no espaço, localizado em área nobre próxima à Praça dos Três Poderes
1 de 4

Diário Oficial de 1988 confirma: concepção do local era no sentido de abrigar acervo do famoso arquiteto

APDF/Reprodução
2 de 4

Espaço estava fechado desde 2013, quando sofreu infestação de fungos

Rafaela Felicciano/Metrópoles
3 de 4

Com a reforma recém-finalizada, o local criado em homenagem a Niemeyer abrigará exposição de Siron Franco

Rafaela Felicciano/Metrópoles
4 de 4

O Metrópoles registrou a mostra sendo montada no espaço, localizado em área nobre próxima à Praça dos Três Poderes

Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

“Monotonia do Planalto”

Magalhães da Silveira acredita que a esperada reabertura do espaço “deveria, minimamente, reverenciar o legado” de Niemeyer. Ele se baseia em texto publicado no Diário Oficial (DODF) da época da inauguração do local.

“O Espaço Cultural Niemeyer, onde se guardará a memória dos ousados projetos que, na definição de Lucio Costa, formam a ‘paisagem arquitetônica de Brasília’, substituindo a paisagem natural, que não existia na monotonia do Planalto, completa o conjunto da Praça dos Três Poderes, onde, no governo José Aparecido, já foi introduzido um belo elemento: o Panteão Tancredo Neves da Liberdade e Democracia”, diz o texto.

A publicação obtida pelo Metrópoles (veja abaixo) descreve a concepção dos espaços, inaugurados quase que simultaneamente. “Os dois [foram] totalmente financiados pela iniciativa privada e doados ao Governo do Distrito Federal. Neles funcionarão também a Fundação Oscar Niemeyer e a Comissão do Conjunto Cultural Federal da Capital da República, ambas presididas pelo governador José Aparecido. O prédio foi construído na praça, atrás do mastro da bandeira e à direita do Panteão. É circular, com o traço inconfundível de Niemeyer, todo branco, com área de 500 metros quadrados, orçado em 30 milhões de cruzados e doado ao GDF como ‘contribuição à vida cultural da cidade’”.

Reprodução / Arquivo Público
Diário Oficial de 1988 ressalta: Espaço Niemeyer foi criado para abrigar obra do arquiteto

 

Reforma milionária

De acordo com o GDF, a reforma do espaço Oscar Niemeyer durou cinco anos e custou cerca de R$ 1 milhão aos cofres públicos. Com a reabertura, o local passará a servir “como espaço expositivo e será dirigido por Charles Cosac, que também está à frente do Museu Nacional da República”. O equipamento será reaberto com a exposição Césio 137do artista plástico Siron Franco.

De acordo com a Secretaria de Cultura, a mostra terá 50 óleos sobre papel inéditos, 12 telas e quatro esculturas que contam, por meio da arte, o maior acidente radioativo em área urbana no Brasil, ocorrido em 1987 na cidade de Goiânia (GO), capital da terra natal do pintor.

A exposição ficará aberta de 24 de agosto a 30 de outubro. Segundo o novo curador do local, o novo formato do ambiente “abrigará exposições de arte contemporânea produzida principalmente em Brasília”, explica.

Para a reportagem, o secretário-executivo de Cultura e Economia, Cristiano Vasconcelos, confirmou que a concepção do espaço foi para homenagear o arquiteto, mas informou que o convênio com a Fundação Oscar Niemeyer expirou em 2013. De acordo com o representante da pasta, desde então, não houve a possibilidade de renovar o acordo, já que “as contas da entidade foram reprovadas” para administrar o espaço.

Vasconcelos aponta que houve “irresponsabilidade” de antigos gestores com a manutenção do patrimônio tombado. “A situação do local estava deprimente. O governo reassumiu o espaço e, desde então, melhorias têm sido feitas para a reabertura”, afirmou.

O secretário-executivo não vê problema no fato de a reinauguração do cartão-postal não contar com homenagem ao arquiteto com mais obras públicas da cidade. “O que não podemos permitir é o Espaço Niemeyer ficar largado como estava. O que o governo fez foi revitalizar um local que é público e estava ocioso.”

Além disso, adianta o representante da Cultura, o local terá uma exposição permanente sobre o arquiteto, que será lançada no aniversário de 60 anos de Brasília, em abril de 2020. “Serão peças, croquis, desenhos e fotografias que mostram o trabalho de Niemeyer e, também, da construção da capital”, confirma o curador, Charles Cosac. Até lá, contudo, a agenda de exposições contemplará outros artistas.

O Metrópoles procurou representantes da Fundação Oscar Niemeyer, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem. Atualmente, a entidade é comandada por Ana Lúcia Niemeyer, neta do arquiteto.

Histórico

No fim de 2012, o equipamento anunciou que precisaria ser fechado definitivamente. À época, abrigava peças, desenhos, croquis, maquetes e documentos originais utilizados por colaboradores e pelo principal arquiteto de Brasília. Contudo, infiltrações e uma infestação de fungos tornaram o local inacessível. Um arrombamento também marcou o período decadente do espaço público.

Com todo esse histórico, o então governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), anunciou a revitalização do espaço, mas a reforma se arrastou até os dias atuais. Com as obras, o acervo foi guardado em arquivos de plástico empilhados em uma sala pequena, e a visitação foi suspensa. Todo o material foi, então, destinado ao Rio de Janeiro, onde está sob tutela de familiares do arquiteto.

Recentemente, a Presidência da República sinalizou o interesse em transformar o espaço em espécie de museu em homenagem ao soldados que morreram no Regime Militar. A ideia, contudo, sofreu resistências e foi rejeitada.

Todos os direitos reservados

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?