metropoles.com

Advogada do DF consegue, na Justiça, remédio para bebê com AME na Bahia

De acordo com a decisão, Letícia Lobo terá acesso ao Spiranza, medicação indicada para a idade dela

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Material cedido ao Metrópoles
letícia 3
1 de 1 letícia 3 - Foto: Material cedido ao Metrópoles

A Justiça Federal de Ilhéus (BA) concedeu liminar para garantir que uma criança de 4 anos diagnosticada com o tipo II da Atrofia Muscular Espinhal (AME) tenha acesso ao Spiranza, medicamento usado para inibir o desenvolvimento da doença degenerativa. Pela demora na identificação da doença, Letícia Lobo não pode mais recorrer ao tratamento com Zolgensma, medicação importada e considerada a mais cara do mundo para bloquear as sequelas.

A decisão determina que o estado da Bahia forneça transporte, alimentação e hospedagem para a menor e a quem a acompanhe, além de obrigar a União a custear o medicamento que, apesar de ter sido incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS), não estava disponível na rede pública municipal. A determinação também obriga o governo baiano a providenciar o atendimento interdisciplinar necessário ao tratamento, como fisioterapia e fonoaudiologia.

Filha de trabalhadores rurais, a criança não conseguiu suporte da rede pública da Bahia para o protocolo recomendado em casos da patologia. A ação foi impetrada pela advogada de Brasília Daniela Tamanini, também responsável pelos casos das bebês Kyara Lis e Helena Gabrielle, ambas do Distrito Federal.

Antes de Tamanini, os pais chegaram a procurar a Defensoria Pública da União, mas o órgão não atende pessoas que moram na pequena cidade de Camamu, localizada no litoral sul baiano. Para se ter ideia, o município tem pouco mais de 30 mil habitantes.

“Todo esse tempo, sabíamos que a Letícia tinha algum problema, mas ninguém sabia nos dizer o que era. A gente foi para tantos lugares, viajamos, levamos ela a médicos, mas ninguém nos falava. Com tantos ‘nãos’, decidimos procurar os sintomas na internet e desconfiamos que ela tinha a doença, justamente, no período da pandemia. A gente só conseguia pedir a Deus que nossa filha continuasse bem e Ele ouviu nossas preces. Foram esses 8 meses sem que a doença avançasse mais”, conta Núbia Lobo, mãe da paciente.

3 imagens
Foto tirada pelos pais quando souberam da decisão da Justiça
Letícia Lobo, de 4 anos, no colo de uma das neuropediatras que acolheram o caso
1 de 3

Letícia Lobo, de 4 anos, tem AME tipo 2

Imagem cedida ao Metrópoles
2 de 3

Foto tirada pelos pais quando souberam da decisão da Justiça

Material cedido ao Metrópoles
3 de 3

Letícia Lobo, de 4 anos, no colo de uma das neuropediatras que acolheram o caso

Imagem cedida ao Metrópoles
Diagnóstico tardio

A demora para buscar tratamento se deu porque, embora os sintomas tenham aparecido ainda aos 4 meses de idade, a família só conseguiu o diagnóstico definitivo da doença há poucos meses, quando a menina já tinha 3 anos. Desde então, passaram a correr contra o tempo a fim de minimizar os efeitos da doença degenerativa.

Como meio de vida, os pais plantam hortaliças na área rural do município onde moram. Aos sábados, colhem o que foi cultivado e vendem na principal feira da pequena cidade. O trabalho rende para os três, em média, R$ 600 por mês. É com esse dinheiro que eles custeiam as mais diversas necessidades da criança, inclusive as viagens para Salvador, a capital baiana, e outros municípios em busca de especialistas.

“A nossa maior luta não foi contra a doença, porque a gente sabe que tem um Deus lá em cima olhando por nós e por ela. Nossa maior inimiga foi a desinformação. Foi ela que nos fez demorar tanto para conseguir saber como brigar pela vida da nossa filha”, continuou. “Mas a vida é uma eterna luta. É uma batalha diária, mas há também vitórias como a de hoje pela vida da minha vida. Quer coisa melhor do que receber uma notícia dessa? Não valeu a pena ter lutado tanto?”, emocionou-se.

A doença rara afeta a medula espinhal e núcleos na base do cérebro, causando fraqueza muscular, atrofia e paralisia muscular progressiva. A patologia é resultado de alterações do gene que codifica a proteína SMN (Survival Motor Neuron), uma molécula necessária para a sobrevivência do neurônio motor, responsável pelo controle do movimento muscular. Sem a administração de um tratamento rigoroso, a doença pode levar as crianças à morte.

Prazo de 15 dias

Segundo a juíza federal substituta Letícia Daniele Bossonario, o prazo para o cumprimento da tutela de urgência é de 15 dias. “Considerando que o medicamento já é fornecido regularmente para pacientes com o Tipo I da doença, havendo, portanto, estrutura para pronto atendimento, sob pena de multa diária de R$ 5 mil por dia de atraso a ser paga pelo ente que ensejou o atraso ou solidariamente se não for possível aferir a responsabilidade pela demora.”

A magistrada também considerou a situação financeira dos pais da criança, trabalhadores rurais, e a impossibilidade evidente de arcarem com os custos do medicamento. “O perigo da demora, por sua vez, decorre da própria gravidade da doença e risco de comprometimento respiratório, além da possibilidade de estabilização e desenvolvimento da autora com mais força muscular que lhe permita uma melhor qualidade de vida”, sustentou.

Para a advogada Daniela Tamanini, procurada pela família após a repercussão de vitórias semelhantes recentes, o Estado acaba transformando o que é um direito garantido na Constituição em mercadoria.

“As pessoas que possuem maior poder aquisitivo são também as mesmas que têm acesso a um melhor atendimento médico. É lamentável que famílias ainda precisem acionar o Judiciário para receber um medicamento já incorporado ao SUS, como amplamente divulgado. A Justiça Federal de Ilhéus trouxe alento a esses pais, trabalhadores rurais, que temiam pelo agravamento da doença e prejuízos respiratórios irreparáveis”, explicou a autora da ação.

 

 

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?