Woodstock 50 anos: como este e outros eventos musicais mudaram a moda?
O festival mais icônico da história difundiu o estilo hippie nos anos 1970 e inspirou projetos como Coachella e Lollapalooza
atualizado
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Nesta quinta-feira (15/08/2019), o festival Woodstock completa 50 anos. Considerado um marco histórico, o evento levou 400 mil pessoas à cidade de Bethel, no estado de Nova York, onde se apresentaram lendas como Janis Joplin e Jimi Hendrix. O impacto da festa não foi sentido apenas na indústria musical. No mundo da moda, os ecos do estilo hippie chique, amplamente difundido por lá, perduram até os dias atuais, enquanto selos como o Coachella e Lollapalooza, inspirados no projeto de 1969, hoje ditam tendências.
Vem conferir comigo como o Woodstock mudou a moda!
Desde o pós-guerra, a moda e a música se tornaram irmãs siamesas, unidas pela difusão da imagem e separadas por personalidades destoantes. Enquanto Elvis Presley contagiou o mundo com seus macacões bordados e camisas estampadas, os Beatles inundaram as araras com blazers sem gola e batas psicodélicas.
Com o Woodstock, esse relacionamento entre as indústrias fashion e fonográfica foi potencializado. As milhares de pessoas que foram à cidade de Bethel assistir atrações lendárias, como The Who, Janis Joplin e Jimi Hendrix, prestigiaram o primeiro grande encontro entre som e estilo, todas unidas pelo conceito “seja você mesmo”.
Reconhecido como uma representação cultural daquela geração, o festival trouxe consigo o boom da moda hippie, que tomaria as ruas na década seguinte. Realizado no auge da ideologia “Paz e Amor” e no início da “Era de Aquário”, o evento até hoje é inspiração para as coleções boho chique que volta e meia surgem nas passarelas.
No entanto, é importante frisar que os organizadores do Woodstock não inventaram a roda. Os festivais de música remontam à Grécia Antiga, quando os adoradores do deus Apolo realizavam os Jogos Píticos, que reuniam dezenas de apresentações musicais na cidade de Delfos.
Com a Revolução Francesa, os músicos e compositores passaram a ganhar mais notoriedade, o que estimulou a criação do Bayreuth Festival, idelizado pelo compositor Richard Wagner, em 1876. O projeto teve tanto sucesso que os membros das monarquias europeias cruzavam oceanos para prestigiar o evento. Até Dom Pedro II deixou o Brasil para dar uma conferida na iniciativa, que ainda acontece na Alemanha.
O historiador britânico Eric Hobsbawn afirma que o Woodstock revolucionou a indústria do entretenimento. Em seu livro Tempos Fraturados, ele estima que o festival serviu de inspiração para mais de 2.500 eventos só na América do Norte, entre eles o Coachella e o Lollapalooza.
Expoentes da cultura de festivais, esses eventos têm atingido a moda em cheio, sendo considerados “semanas de moda ao ar livre”. Desde 2014, marcas como H&M, Lacoste, Adidas, Topshop e Opening Ceremony investem em lounges e patrocínios no Coachella, ao passo que publicações como Harper’s Bazaar e Nylon se tornaram presença garantida no evento.
Ao longo de suas linhas de primavera/verão, a Forever 21 lançou pelo menos cinco coleções dedicadas aos festivais de música. “Não há como negar que eles se tornaram tendência”, diz Linda Chang, gerente de merchandising da marca, apontando bandanas e jaquetas com franjas como hits de venda.
Em 2014, a moda de festival passou a surgir nos tapetes vermelhos. No MTV Movie Awards de 2014, Jared Leto apareceu na premiação com uma camisa floral e chapéu fedora, enquanto Mary-Kate Olsen e Ashley Olsen apostaram no estilo para o Met Gala de 2017. Dois anos mais tarde, foi a vez da cantora Kesha prestigiar o Billboard Music Awards vestida em franjas.
O mood boho, norteado por tops de crochê, botas e chapéus, conquistou, também, as top models mais badalas da indústria, que serviram de embaixadoras destes eventos no Instagram. Por meio delas, selos como o Lollapalooza passaram a ser destinos tão cobiçados para os fashionistas quanto o verão europeu.
A grife Revolve começou suas parcerias com o Coachella em 2013, convocando alguns influenciadores a visitarem suas instalações no festival. Atualmente, as ações da etiqueta são algumas das mais concorridas por lá. Aimee Song e Kendall Jenner estão entre as figuras que passam pelos lounges da marca durante o evento.
Recentemente, a Balmain lançou sua coleção masculina no Fête de la Musique, celebração musical anual que tomou as ruas de Paris dia 21 de junho, coincidindo com a programação da semana de moda masculina da cidade.
O diretor de criação da label francesa, Olivier Rousteing, frequentemente cita a música como uma inspiração-chave em seu processo criativo, tendo vestido Beyoncé e Rihanna para o Coachella. Especialistas apontam que o modelo de exibição adotado pelo estilista deve ser replicado por outras casas em breve, como solução para os datados fashion shows.
No entanto, a grande visibilidade dos festivais de música nas redes sociais não tem agradado a todos. A proposta de curtir os shows de seus artistas favoritos, sem a preocupação com as convenções do dia a dia, foi substituída pela corrida de likes.
Em 2018, durante uma entrevista ao Hollywood Reporter, Alexa Chung, uma das musas do Glastonbury, disse que não consegue ficar animada com os festivais por conta da pressão comercial que existe por trás deles atualmente. “Era um lugar onde você costumava ser livre para se expressar, mas, por causa das mídias sociais, é um dos fins de semana mais cansativos para mim. Não vejo mais sentido em ir. Festivais devem ser um momento para descontrair e celebrar com os amigos”, defendeu.
Apesar de polêmica levantada por Chung, eventos como esses não deixam de servir como vitrines para produções com pé no underground e em uma cultura libertária – e, ainda assim, seguem como inspirações para os mais diversos designers, inclusive da haute couture.
Colaborou Danillo Costa