#VogueChallenge: desafio cobra presença de profissionais pretos na revista
Recentemente, Anna Wintour assumiu que a Vogue poderia ter sido mais inclusiva em oportunidades do passado
atualizado
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O debate antirracismo se tornou um assunto recorrente nas redes sociais nas últimas semanas. Desde o início da pandemia, os “desafios” do Instagram também. Agora, unindo as duas correntes, fashionistas e fotógrafos de vários cantos do mundo lançaram a tag #VogueChallenge, que busca retratar a falta de inclusão de pessoas pretas na capa das publicações da revista ao longo da história.
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O desafio propõe que os internautas criem suas próprias versões de capas da famosa revista de moda, com objetivo de dar visibilidade a modelos e fotógrafos pretos. A ideia foi uma iniciativa da estudante Salma Noor, quando publicou no Twitter uma foto editada por ela mesma, como se fosse a capa da Vogue, em 2 de junho.
A tag ganhou proporção mundial em poucos dias e bombou em redes sociais Instagram, TikTok e Twitter, principalmente depois que o site PageSix divulgou trechos de um memorando interno da revista. No documento, Anna Wintour, editora-chefe da Vogue americana há quase 30 anos, admite ter sido “ofensiva e intolerante” por não ter dado mais espaço para criadores pretos na revista.
“Quero dizer claramente que sei que a Vogue não encontrou maneiras suficientes de elevar e dar espaço aos editores, escritores, fotógrafos, designers e outros criadores pretos. Também cometemos erros ao publicar imagens ou histórias que foram prejudiciais ou intolerantes. Eu assumo total responsabilidade por esses erros”, declarou a jornalista.
Salma Noor chegou até a fazer um segundo post, com outra capa, dizendo: “Eu criei o desafio há uma semana e não levei o crédito, então aqui está uma nova”. A repercussão foi tão grande que o challenge ganhou apoio da própria revista. As versões do Brasil e Reino Unido chegaram a selecionar suas capas favoritas do desafio.
As capas criadas pelos internautas vão desde cliques simples com o logotipo da revista até produções superprofissionais. Colocar a logo não é um problema: o detalhe pode ser inserido por meio de stickers de aplicativos como PicsArt ou PHO.TO. O Photoshop é uma opção para quem quer um acabamento ainda mais perfeccionista.
Pelo Instagram, os posts do desafio esbanjam poses e produções artísticas, com composições de tirar o fôlego. Muitas imagens, inclusive, mostram mulheres de hijabs ou turbantes; outro detalhe que demanda representatividade. Nos vídeos curtos do TikTok, rede social queridinha da geração Z, a proposta é mais descontraída. Alguns usuários fazem vídeos de si mesmos como se estivessem em “um dia normal”. De repente, surgem fotos e vídeos com aspecto mais glamouroso, decorados com o icônico logotipo da revista.
Assim como os demais challenges do Instagram, alguns internautas encaram o #VogueChallenge como um passatempo. Enquanto isso, outros preferem que seja um debate mais sério. No Twitter, um post que chama atenção para a verdadeira mensagem do desafio teve milhares de interações. “Ei, pessoal, por favor, não tratem o #VogueChallenge#VogueChallenge como um desafio de arte. Ele foi criado porque a moda não contrata modelos e fotógrafos pretos suficientes. Esta hashtag deve elevar essas vozes”, escreveu Charlot Kristensen (@Zolwia).
“É importante que entendamos a origem das hashtags para não associá-las acidentalmente em outro espaço. No momento, muitas das obras postadas estão tristemente glorificando a Vogue, quando devemos criticá-las agora”, continua.
A Vogue, principal revista de moda feminina do mundo, foi lançada nos Estados Unidos em 1892. Mais de 80 anos foram necessários para uma mulher preta estampar a capa da publicação, o que ocorreu só em 1974. A edição histórica foi estrelada pela modelo Beverly Johnson.
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Novo normal
O desafio é recente, mas a demanda por representatividade não é de agora. Há algumas semanas, a Vogue Brasil foi criticada nas redes sociais por causa das capas do mês de maio, com a modelo Gisele Bündchen e a chamada “novo normal”. Para muitos, a ideia foi insensível com o contexto trágico da pandemia, além de apostar em um padrão de beleza que não é nada novo.
Na edição seguinte, de junho de 2020, a revista adotou uma proposta diferente. O conteúdo foi dedicado a vários nomes da cadeia de moda do Brasil, com referência à capa do disco Paratodos, de Chico Buarque.
As versões estrangeiras da publicação também deram novo olhar sobre o mundo em suas capas, como a Vogue Itália. Em abril, a publicação fez uma capa completamente em branco. Já na edição de junho, convidou crianças para desenhar peças da coleção Métiers D’Art 2019/20 da Chanel. A Vogue Portugal de abril foi estampada por um casal “se beijando” com máscaras.
Colaborou Hebert Madeira