Veja as novidades da nova coleção da designer carioca Alix Duvernoy
Durante passagem por Brasília, a estilista falou sobre as inspirações da marca e a relação com o Rio de Janeiro
atualizado
Compartilhar notícia
Alix Duvernoy já foi várias coisas: stylist, consultora do Net-a-Porter, designer de acessórios e até florista. Agora, estilista é mais um substantivo somado ao currículo da carioca, de 33 anos. Em 2018, ela criou a própria marca depois de colaborar em algumas coleções com Vanda Jacintho.
Nessa quinta-feira (13/06/2019), Alix trouxe a Brasília algumas peças da nova coleção, a terceira de sua label homônima, em um evento exclusivo. A coluna aproveitou a oportunidade para conversar com a designer sobre a grife, a relação com o Rio de Janeiro e a bagagem fashion adquirida no exterior.
O almoço, organizado por Gabriella Constantino e Nathalia Abi-Ackel, do projeto The Market, também trouxe a estilista Betina de Luca, com as novidades da marca Betina de Luca + WaiWai Rio.
Vem comigo!
Aos 19 anos, a jovem foi morar em Paris e estudou moda no Istituto Marangoni. Quando retornou ao Brasil por um ano, escreveu e fez styling para a Vogue. Já em Londres, posteriormente, trabalhou no showroom Valery Demure e fez curso de floricultura. “Tive uma crise com o mundo da moda”, conta. A ideia de criar a própria marca nunca foi um projeto. Surgiu depois de a designer se aventurar nesse universo colaborando com uma amiga. “Sabe quando falam que a vida faz o seu caminho? Foi assim”, explica.
A label é um reflexo do próprio estilo da carioca, que admira os trabalhos de marcas como Gansho, ÃO, Beira e Paola de Orleans e Bragança. Grande parte de sua influência fashionista vem da avó Ruth de Almeida Prado. “Ela me falava: ‘Se estiverem usando preto, use rosa. Se estiverem com cabelo preto, pinta de platinum blonde’. Sempre fui muito conectada com a minha avó”, rememora. Esse senso de individualidade e estilo chamou atenção de Alix fora do país. Sua mãe é a designer de joias Vera Duvivier.
Colorida e clássica, como ela mesma descreve, a marca tem parceria com a designer Lucia Koranyi, responsável pelas estampas. Toda a produção é feita em uma fábrica em São Gonçalo, município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Como parte das peças têm detalhes artesanais – por exemplo, o bordado –, a tiragem é pequena. Por enquanto, o único ponto de vendas fica na multimarcas Pinga, em São Paulo.
Como é ter a sua própria etiqueta?
Sou amiga da [estilista] Vanda Jacintho, que me chamou para fazer uma colaboração com ela. Veio uma segunda, depois disso decidi produzir outra, sozinha. Lancei a minha primeira coleção solo em maio do ano passado. Uma amiga minha chamada Lucia Koranyi faz todas as estampas e me deu uma consultoria nesse début, com coisas que eu não sabia porque nunca tinha feito roupa. Tenho achado divertida a parte criativa, ver minha imaginação se tornar realidade. Às vezes, as coisa saem completamente diferentes, mudam para melhor. Outras vezes, não.
Passo muito tempo na Amazônia, vou todos os anos. Uma coisa que penso muito, quando vou para a floresta, é que a nossa sociedade se programou de uma forma errada. Vivemos para trabalhar e não trabalhamos para viver. Eu quero a segunda opção, ter sempre essa sabedoria. Estamos nessa era do consumo em decadência. Amo fazer roupa, mas fico: “quem precisa consumir?”. Aí vejo as bordadeiras, a beleza, a criatividade. É uma grande questão como encontrar equilíbrio.
Quais são as novidades da terceira coleção?
[Alix conta as peças das araras) Tem 14 modelagens diferentes, que às vezes mudam o tecido, a estampa, o bordado. Acessórios também, [a marca] está aumentando aos poucos. Tenho trazido mais vestidos, muito bordado, alfaiataria, peças multicoloridas. Gosto muito de misturar várias cores, mas sou bem clássica para modelagens. Brinco mais nas cores e estampas. Faço a roupa pensando no que eu gosto de vestir.
O que você busca trazer para a sua marca?
Acho que as peças são bem brasileiras, eu sou uma pessoa bem brasileira. Tem bastante estampa, cor, senso de humor. Gosto muito de coisas artesanais, com humor, porque a vida já é bastante dura. Se eu vejo uma pessoa na rua e ela está supercolorida, de certa maneira, me entretém. Em Londres, vivi muito isso, pois é um lugar que preza muito a individualidade.
Para você, qual é o perfil da moda carioca?
O Rio não é uma cidade que convida você a se vestir muito. As pessoas prezam pelo conforto, o verão é muito quente. É um lugar onde as pessoas andam na rua. Em São Paulo, você entra em um carro e vai de um lugar para o outro. O Rio é onde as pessoas andam “nuas” na praia e “seminuas” ao redor dela. É uma coisa mais despretensiosa.
Como é a sua relação com a cidade?
Viajo muito, mas o Rio tem coisas maravilhosas. A vida está complicada na questão da violência, mas é uma cidade que me inspira. O carioca tem muito charme, bom gosto, muita bossa. Tem os lados positivo e negativo. Durante a minha produção, mataram um traficante [no lugar] onde é a fábrica. Tem toque de recolher, tem coisas que só [acontecem] morando no Rio. “Hoje vai ter um problema, ninguém virá à fábrica porque tem uma operação de 300 homens armados em São Gonçalo…”. É uma loucura.
O que você absorveu da sua experiência com a moda do exterior?
Algo que sinto falta de Londres é o fato de as pessoas prezarem muito pela individualidade. Tem excentricidade. Quando você é um misfit, você vai se encaixar ali. Sinto que aqui tem muito isso de as pessoas quererem seguir um padrão, sinto essa diferença. Às vezes, sinto que tem uma coisa de se levar muito a sério, ser sempre perfeita. Mas isso também está mudando desde quando saí. Dez anos atrás, lembro de ir a uma festa, em São Paulo, usando um casquete amarelo-mostarda, e as pessoas estavam dando risadas. Hoje em dia, não é mais assim.
Você tenta trazer a pauta sustentável para sua marca?
Uso muitas coisas manuais, tenho uma produção pequena. Quase tudo é só fibra 100% natural. Uma peça é algodão 97% e 3% elastano. Tingimento natural ainda é uma coisa complicada, porque você lava e sai, desbota. Onde faço as estampas, eles limpam a água [usada no processo], mas pretendo evoluir nesse sentido.
As vendas em Brasília foram exclusivas para o evento. No entanto, você pode entrar em contato com Alix, Nathália Abi-Ackel ou Gabriella Constantino pelo Instagram para adquirir as peças da marca.
Betina de Luca apresentou a nova coleção da Betina de Luca + WaiWai Rio, batizada de Lótus e inspirada em uma viagem à Índia. As roupas trazem seda, linho e detalhes como estampas, aviamentos, bordados de miçanga e espelhos. As peças estão disponíveis na loja on-line.
Colaborou Hebert Madeira