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Trabalho artesanal da marca Nannacay é sucesso internacional

Artesãs do Peru, Equador e de regiões do Brasil transformam palha e materiais simples em artigos de luxo

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Brasília(DF), 13/08/2018   Perfil Márcia Kemp criadora da marca de acessórios Nannacay Local: Hotel Royal Tulip Foto: Hugo Barreto/Metrópoles
1 de 1 Brasília(DF), 13/08/2018 Perfil Márcia Kemp criadora da marca de acessórios Nannacay Local: Hotel Royal Tulip Foto: Hugo Barreto/Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A Nannacay surgiu da paixão de Marcia Kemp por peças artesanais. Viajar era parte do ofício da carioca, que aproveitou a oportunidade para observar o trabalho regional dos lugares que visitava. Quando foi ao Peru em 2014, se encantou com a matéria-prima local. Foi então que decidiu lançar a marca, bolsas e acessórios trabalhados com capricho em materiais muito simples, como a palha. Sucesso na Europa, os itens são coloridos e valorizam a produção manual tanto do Brasil quanto do Peru.

São usadas por celebridades como Gisele Bündchen, Alessandra Ambrósio, Isis Valverde, Juliana Paes e Poppy Delevingne, sem falar que estão à venda em grandes multimarcas internacionais, como Bon Marche, Net-a-Porter e Harvey Nichols. Os acessórios de palha já chegaram até a cantora Beyoncé, que optou por um modelo da label no início de setembro.

Os produtos são únicos, cheios de história, sentimento e referências culturais. O objetivo principal é elevar as peças em palha ao nível de luxo e garantir alimento a mais de 200 famílias. Em entrevista à coluna, Marcia contou mais detalhes sobre o contato com as artesãs, o projeto e os valores que ele carrega.

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Divulgação/Nannacay

 

Além de ensinar e oferecer oportunidade de trabalho para artesãos, Marcia faz questão de conhecer a casa deles. É daí que vem a inspiração: do toque pessoal de cada um. “Sempre peço para entrar. Ali, descubro uma toalha de mesa, uma bandejinha que vi e transformo numa bolsa. No Equador, tinha uma bomboniere pequena com uns peixinhos em cima, e achei maravilhoso”, comenta.

Mesmo com todo o impacto da marca entre as celebs, a CEO diz que não recorre aos famosos “publiposts”. “Não pago, a pessoa usa porque quer”, garante. Para Marcia, não faz sentido capacitar pessoas ao redor do mundo e pagar para outras usarem.

“Ao final de todas as coleções, pergunto o diferencial que a Nannacay fez em suas vidas e dizem: ‘É porque a senhora me dá trabalho’. É sobre trabalho, não fazemos caridade”, completa.

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Marcia Kemp, criadora da Nannacay

 

Desde 2014, Marcia capacita mulheres que vendem arte nas ruas, ensinado-as a usar tinta na palha e dar um acabamento refinado ao trabalho manual. A motivação social a acompanha há anos: atuou como voluntária no Instituto da Criança por mais de uma década.

“Consegui o posicionamento de colocar os artesãos da Nannacay em lojas e multimarcas de luxo. Por que eu queria de luxo? Para mim, o luxo é uma peça que vem com sentimento. Quando o artesão tece, ele está colocando um sentimento dele, vontade de melhorar na vida”, conta a CEO.

Confira a entrevista:

Quando e como surgiu a Nannacay?
No primeiro semestre de 2014. Nessa época, eu trabalhava numa multinacional de tecnologia e serviços e também fazia trabalho voluntário. Muito inspirada nesse trabalho, eu tinha vontade de deixar o meu legado para o mundo, uma marca. Sempre gostei muito de artesanato, da simplicidade que eu via pelo mundo, porque sempre adorei viajar para lugares exóticos. Nepal, Tibet, Camboja… Foi durante uma visita à tribo de Massai, na Tanzânia, que tive esse insight.

Questionei por que tanta gente morria de fome num lugar lindo como aquele, com pessoas elegantes vivendo na extrema pobreza. Percebi que poderia transformar aquele artesanato em um objeto de luxo. Foi daí que tirei a inspiração para a Nannacay. Na sequência, fui ao Peru, conheci essa cestaria peruana, que não era um objeto valorizado à época. Comecei a trabalhar com 13 artesãs, fui mais de 10 vezes ao país e comecei a ensiná-las a dar cor, textura, modelagem.

Desde então, se expandiu para outros países, certo?
De 2014 até hoje, a Nannacay tem 200 famílias, atua em quatro áreas do Peru, três do Equador e três no Brasil. São pessoas que não tiveram vantagem na vida, que nasceram sem cultura, sem condições de se alimentarem, de criarem os filhos. Desde as que trabalham a 4 mil metros de altitude nos Andes, a 20 presidiários que trabalham no deserto peruano, a um grupo que trabalha no Sul do Brasil e dois grupos que trabalham no Nordeste… A Nannacay é muito orgânica e atrai artesãos para dentro dela. Começou com um grupo que enviou e-mail pedindo uma chance de trabalhar conosco. Perguntei: “Como vocês chegaram [a nós] se eu nunca estive no Equador?” Eles estavam na rua, vendendo os produtos, e alguém passou e falou: “Seu produto é muito bonito, procure a Nannacay para trabalhá-lo”.

No início, buscávamos. Hoje, elas vem naturalmente para a gente, temos três grupos. Elas vão se tornando empreendedoras. Tenho uma artesã que já tem um carro. Antes, tinham de percorrer quatro ou cinco quilômetros para trazer [os produtos] ao nosso ponto focal. Agora, há um carro que compraram com o dinheiro delas e recolhem na casa das artesãs. Vão aprendendo a trabalhar com tecnologia, com bancos, que cobram taxas na transferência bancária, e elas aprendem a negociar. Por serem pessoas muito humildes, muitas vezes os bancos não querem conversar com elas.

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Marcia Kemp com criações de palha da marca

 

Como funciona a parceria com as artesãs e a logística?
A logística é sempre muito complexa, porque elas vivem em regiões remotas. Tenho artesãs que vivem a 4 mil metros, no deserto, em regiões secas e muito áridas, que não têm água em casa. Temos de atuar e ajudar a trazer o produto para um ponto focal, importar para o Brasil e trazer os itens para o Rio de Janeiro. Fazemos a customização e exportamos, colocando nos mercados nacional e internacional.

Esses países também colaboram para que você consiga importar. O Equador facilita bastante o trabalho. Lá, sou levada até as artesãs quando preciso conversar sobre técnicas e harmonização de produtos. O Pro Equador mobilizou a equipe deles e me levou aos lugares onde elas estavam.

A marca trabalha com coleções? Como acontecem os lançamentos?
Temos três coleções por ano, falo que vamos seguindo o sol. Hoje, temos um showroom em Nova York e outro em Londres. Temos um ponto de venda físico, que é uma coisa recente no Leblon, e é a loja da Nannacay que representa tudo. Tem de ter a experiência. Estou lá, sempre trabalhando. Tem mais uma parte no Rio de Janeiro que recebe a customização e estamos começando também com linhas de macramé.

Quais são os materiais para confecção dos artigos?
São vários tipos de palha: junco, do Peru. Toquilha, do Equador. No Sul, palha de milho. No Piauí, carnaúba e sisal. Trabalhamos com bolsas, pompons e macramé (linha), e todos são fundidos no Rio de Janeiro. Podemos ter um produto do Peru que recebe customização carioca, um do Nordeste que recebe um pompom ou um penacho do Peru. Ficam sempre muito exclusivos. A gente troca e funde as culturas. Mostramos muito, às irmãs do Nordeste, quem são as irmãs do Peru. Hoje, os pompons, fazemos a 4 mil metros [de altitude]. Essas senhoras nem falam espanhol, falam ketchua, nem eu entendo. Tenho um ponto focal que traduz para mim o que elas estão falando comigo. Nannacay significa “irmandade de mulheres”, numa linguagem dos incas.

 

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Abrasileirado, o nome da marca vem de “nannakay”, que significa “irmandade de mulheres”, na língua ketchua

 

Como foi a escolha do nome Nannacay?
Eu queria que o nome da marca expressasse esse valor que vi no mundo. Procurei vários nomes em africano, tibetano e nepalês, até a hora que vi “nannakay”, achei um nome muito sonoro e significa “irmandade de mulheres”. Abrasileirei e coloquei com “c” (risos). Se você vai fazer um legado, tem de deixar a expressão do que você quer denominar para o mundo. Queríamos realmente expressar esse desejo de deixar alguma coisa para a humanidade. A Nannacay não é minha, é de todos que tenham vontade de retornar para a sociedade o que ela deu.

Você participa do processo criativo?
Eu desenho e aceito as ideias delas também. Lembro que, uma vez, uma artesã me mandou fitinhas de cabelo que elas amarram com as trancinhas. Hoje, as bolsas, se você olhar no Net-a-porter, são feitas de palha de milho e têm essas cintas peruanas com uns pompons caindo, que elas colocam nos cabelos. O processo criativo é feito sempre a quatro mãos. Serei sempre uma aprendiz, e nós aprendemos juntas. Não vou lá para ensinar, aprendo em conjunto, temos uma sintonia muito grande.

A bolsa de palha está em alta no exterior, não é?
Demais, lidamos com uma série de cópias. É muito engraçado, porque quando clientes percebem as cópias, acabam marcando o Diet Prada, que é um perfil de cópias. É um amor tão grande que as próprias pessoas ficam revoltadas se alguém imita a gente. Hoje, temos todo um conjunto de advogados conosco, no Brasil, Peru, Londres, Equador e Nova York para evitar que caia no banalismo. Quando você toca um artesão, ele tem a esperança de que vai ter sempre um trabalho com você, então a Nannacay não pode cair no banalismo, tem de ter uma marca forte.

 

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Marcia Kemp

 

Pode nos contar alguma novidade a caminho?
Vamos lançar uma coleção de primavera que se chama Ohana, no dialeto havaiano. Somos uma grande família. Acabamos de abrir na Splash, em Paris, atuamos na Coreia, Japão, Austrália. Aqui, temos as principais multimarcas. Em Brasília, temos a Magrella. A Juana e a Cleuza Ferreira têm Nannacay desde o início, elas foram muito receptivas à missão da marca. Sou muito grata a Joana, Cleuza e ao próprio Fabrício, eles foram muito bacanas mesmo.

Qual é o público da Nannacay?
Pessoas que admiram a simplicidade da vida e querem retribuir algo a alguém. Toda bolsa chega no final com o nome da artesã e quantas horas demora para fazer. Em média, levam 10 horas.

Por fim, qual é a resposta para uma moda mais consciente?
Acho que cada um que teve condição de ter uma educação, família e se alimentar devia ajudar alguém que não teve a mesma condição. Esse é o propósito da Nannacay: levar o trabalho para as pessoas de um jeito formal. Ela tem uma carga tributária imensa, toda uma estrutura de custos grande, que é difícil competir com alguém que vende pelo sofá de casa, com o Instagram, uma cópia. As pessoas reclamam muito de guerra, violência, mas o que cada um faz para ser mais consciente nesse planeta?

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Em agosto, Marcia Kemp esteve em Brasília para representar a Nannacay num evento da Embaixada do Equador. Na ocasião, a marca fez desfile com produtos exclusivos.

Veja fotos de alguns itens na galeria:

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Vinícius Santa Rosa/Metrópoles

Onde encontrar Nannacay em Brasília:

Magrella
SHIS QI 3 Loja 7
(61) 3248-9215
(61) 99157-3021
Site oficial: nannacay.com

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Colaborou Hebert Madeira

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