Tecidos artesanais surgem como antídoto para a difusão do sportwear
Com a sustentabilidade e o slow fashion ganhando força, jacquards, brocados e tapeçarias devem se tornar protagonistas no próximo inverno
atualizado
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Como relatado na coluna em junho, a série Game Of Thrones teve relação direta com a volta das mangas bufantes, golas altas, capas e cotas de malha à moda. Devido ao final polêmico, muitos fãs do show já nem comentam mais sobre a jornada de Bran rumo ao Trono de Ferro, mas, entre as fashionistas, o mood medieval difundido pela atração ainda é um hit, pelo menos até o fim deste ano. Com o verão no Hemisfério Norte chegando ao fim, as apostas para as estações mais frias já começam a surgir, e entre elas estão tecidos artesanais, como tapeçarias, jacquards e brocados.
Vem conferir comigo essa tendência que deve bombar na próxima temporada!
Enquanto muitas marcas recorrem aos anos 1990 e 2000 para conquistar os consumidores, outras voltam um pouco mais longe para ressignificar o luxo. No último desfile masculino da Givenchy, os modelos cruzaram a passarela com casacos em jacquard de veludo inspirados no poeta Charles Baudelaire. Mais tarde, na semana de alta-costura, a grife voltou a usar o tecido em suas criações.
Enquanto isso, no show da Lanvin, técnicas de tecelagem, como a intarsia, apareceram ao lado de tricôs e estampas vitorianas, ao passo que a Comme des Garçons também acrescentou elementos de tapeçaria às roupas.
No início do ano, Oscar de la Renta, Dolce & Gabbana, Etro e Prabal Gurung já haviam apostado nos brocados e jacquards para os mais diversos estilos. Vimos as matérias-primas sendo amplamente usadas na alfaiataria, mas houve quem arriscou em croppeds e até lenços. “Desenhos e técnicas de tapeçaria, definitivamente, estão nas passarelas”, disse Elisabeth Murray, curadora de moda do museu V & A ao The Guardian.
De acordo com Murray, a tapeçaria é uma técnica que tem sido usada no vestuário há centenas de anos, desde o Egito antigo, quando foram desenvolvidos os primeiros teares. Na Europa, esse tipo de artesanato alcançou seu apogeu na Idade Média, por volta do século 14, quando a oferta de lã passou a ser abundante.
Nessa época, a maioria das obras eram produzidas em conventos e tinham temáticas religiosas, mas existem registros de tapetes que retratavam lendas e fábulas pagãs. A partir de 1725, com o uso de cartões perfurados nos teares, os jacquards passaram a ganhar vida. A técnica, aprimorada no início do século 19, permitiu a criação de padrões extremamente complicados, assim como os usados pelas grifes de luxo atualmente.
O historiador de moda Tony Glenville acredita que a tendência está ligada ao ressurgimento do artesanato na moda. Em um momento em que a sustentabilidade e o slow fashion tomam o centro das atenções, as tapeçarias e brocados chegam como um resgate das habilidades que nossas mães e avós executavam com maestria.
“O artesanato é um antídoto para a velocidade das mídias digitais”, classificou o estilista Jonathan Anderson, atual diretor de criação da Loewe.
Colaborou Danillo Costa