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Sustentabilidade: “Esse incômodo não era só meu”, diz André Carvalhal

O diretor criativo da marca Ahlma esteve em Brasília para um bate-papo sobre consumo consciente no Vogue Fashion’s Night Out 2019

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Sustentabilidade: “Esse incômodo não era só meu”, diz André Carvalhal
1 de 1 Sustentabilidade: “Esse incômodo não era só meu”, diz André Carvalhal - Foto: Reprodução/Instagram/@carvalhando

O carioca André Carvalhal acumula experiências no ramo de marketing de moda, mas sua paixão atual é a sustentabilidade. Nessa quinta-feira (26/09/2019), ele abordou o consumo consciente em um talk com Cris Guerra para o Vogue Fashion’s Night Out 2019. Durante a terceira edição do evento em Brasília, a coluna conversou com o empresário a respeito da marca Ahlma, parceria de André com o grupo Reserva, lançada em 2017. Autor de três livros, o diretor criativo explicou ainda porque reescreveu o primeiro, que deve ser relançado no ano que vem.

Vem comigo conferir o bate-papo!

Com passagens por marcas como Farm e Foxton no currículo, como gerente de marketing e conteúdo, André acredita que a moda deve ser sustentável em toda a cadeia da indústria. Para o carioca, melhor do que “remediar” é evitar os danos ambientais desde a produção da matéria-prima.

“As novas gerações, que já nascem em meio a todo esse caos climático, aprenderam isso no colégio, então elas têm um comportamento muito mais questionador. Já têm mais consciência sobre tudo. A transformação no mercado também está vindo para atendê-las”, destaca.

O diretor criativo também é professor de marketing de moda, colunista do programa Sem Censura (TV Brasil) e da revista Carta Capital, além de ter um quadro no programa Se Essa Roupa Fosse Minha, do GNT. Com a Ahlma, teve a oportunidade de aplicar diversos valores em que ele acredita sobre moda consciente.

Telmo Ximenes/Divulgação
André Carvalhal, diretor criativo da marca carioca Ahlma

 

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Ao lado da escritora Cris Guerra, ele participou de um bate-papo sobre consumo e consciência

 

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Com carreira consolidada no marketing de moda, sua paixão atual é a sustentabilidade

 

Depois de passar pela Farm e já ter uma carreira consolidada no marketing, como surgiu a ideia de criar a Ahlma?
Saí da Farm em um momento em que eu estava bastante desacreditado do funcionamento da moda como um todo: varejo tradicional, calendário, a necessidade de vendas altas. Tudo isso não estava mais fazendo muito sentido para mim. Daí, tive uma experiência empreendendo em um espaço de moda colaborativo (Malha). Depois, entendi que não era a minha onda e tive oportunidade de participar da criação da Ahlma, quando o grupo Reserva me procurou. Assim que isso aconteceu, coloquei como uma das minhas principais condições para estar lá, pensar em coisas que estivessem conectadas com o momento em que estamos vivendo no mundo. Também, que fosse diferente de todas as etiquetas que conhecia e havia trabalhado. Eles toparam e isso me motivou. Criamos a marca em 2017, no meio de um mercado saturado, com tanta crise e várias dúvida.

Quando você acha que as marcas começaram a olhar para a sustentabilidade?
Nessa fase final em que eu estava na Farm, mais ou menos há cinco anos, comecei a identificar que todo esse incômodo não era só meu. Ele existia em alguns pontos do mercado também. A moda, que era uma coisa muito valorizada, glamourizada, inspiração para um monte de coisas, começou a ser questionada. Seis anos atrás, teve a queda do Rana Plaza, um edifício em Bangladesh onde funcionavam várias oficinas em condições precárias de trabalho. Produziam para lojas de departamento e marcas muito famosas. Mais de mil pessoas morreram nesse acidente e ele deu origem ao Fashion Revolution, movimento que provoca as pessoas a questionarem quem faz as roupas.

Acho que ali, principalmente com esse acidente, o mercado começou a olhar para o que estava por trás da moda e muita gente não via. Na sequência, surgiu o documentário The True Cost (2015), que fala sobre todos os impactos sociais e ambientais da moda, poluição de rios, emissão de CO2. Acho que nunca falamos tanto dessas questões como agora, com o que aconteceu recentemente com a Amazônia, todo mundo olhando para isso, protestando. Talvez essas coisas tenham ajudado muito, mas é resultado de um movimento de expansão de consciência coletivo, em que cada vez mais pessoas estão sabendo o que está acontecendo com o meio ambiente. Tudo isso está convergindo para essa mudança no mercado.

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“Eu estava bastante desacreditado no funcionamento da moda como um todo”, contou o diretor criativo

 

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A Ahlma foi lançada em 2017, em parceria com o grupo Reserva

 

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A label tem um trabalho diferenciado, pautado no upcycling: em vez de comprar novos tecidos, utiliza as sobras das temporadas

 

Como funciona a produção da Ahlma, com relação ao upcycling?
Desde o início, pensamos em como a marca seria diferente. Tínhamos intenção de não gerar nenhum impacto ambiental, ou o menor possível, com as nossas matérias-primas. Hoje tentamos recuperar tecidos. Em vez de desenharmos as coleções e produzirmos matérias-primas, ou comprarmos novos insumos produzidos para aquela estação, fazemos o modelo inverso.

Vamos às fábricas, aos fornecedores e parceiros, olhamos o que eles têm de sobra de matéria-prima, que sobrou de coleções passadas ou por algum erro de compra. Elas foram produzidas, já geraram impacto ambiental, mas não foram utilizadas. Criamos as coleções para reinserir essa matéria-prima no mercado. Por isso, chamados de tecido recuperado. Isso é o upcycling. Você pega uma coisa que tem um valor baixo, que provavelmente seria descartada com o passar do tempo, e damos um “up”. Criamos um produto, aumentamos o valor daquilo e reinserimos no sistema de produção.

Recentemente, algumas marcas estão investindo no carbono neutro. Alguns críticos dizem que é como se você “pagasse para poluir”. Qual a sua opinião sobre o assunto?
Também não sou muito a favor. Obviamente, todas as iniciativas são válidas, mas quando as pessoas criticam isso, é porque, em vez de resolver o problema, é como se estivesse apenas remediando. No nosso caso, com as escolhas de produção que fazemos, já temos um impacto de carbono muito baixo. Primeiro, porque não estamos produzindo os tecidos. Somos uma marca vegana, não usamos nada de origem animal, como couro, lã e seda.

O couro é a indústria que mais emite CO2, que mais impacta o meio ambiente com gás carbônico. Quando você olha para a cadeia produtiva como um todo, a maior parte desse impacto de carbono está no início do processo: na plantação, colheita, produção do fio. Estamos olhando para isso, não para o final, para compensar algo que ainda está errado.

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Para André, o olhar da sustentabilidade no mercado vem também de uma consciência coletiva em torno do assunto

 

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Look de coleção recente da Ahlma, inspirada na campanha Setembro Amarelo

 

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A label carioca é vegana e focada na moda consciente, com uma pegada contemporânea e estilosa

 

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Viva o Fim e Moda com Propósito, os dois últimos livros de André Carvalhal

 

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André reescreveu seu primeiro livro, A Moda Imita a Vida, publicado em 2014, para incluir novas questões, como a sustentabilidade

 

No Brasil, quais etiquetas você acha que estão se destacando nesse sentido?
Ainda não temos um exemplo de uma grande marca que realmente tenha muitos impactos. Temos vários projetos pequenos que fazem coisas legais. Desde sapatos, com Vert, a Insecta Shoes… Uma etiqueta gringa referência para mim é a Patagonia, de roupas esportivas e acessórios. Ela quer regenerar o planeta por meio das roupas que produz. É uma marca que conseguiu fazer a sustentabilidade virar um negócio. Esse é um dos objetivos que tenho com a Ahlma.

Qual a sua dica para que o consumidor possa adotar uma moda consciente?
Acho que é muito importante buscar a informação. Procurar saber, estudar sobre. Tudo que consumimos gera algum impacto. Nós que fazemos essa escolha, então temos o papel de eleger qual impacto queremos gerar mais. Se você compra uma coisa que é de couro, plástico, material orgânico, cada uma delas tem prós e contras. Entender o que está por trás disso tudo, procurar as marcas, saber onde essas coisas são produzidas. Esse é o primeiro passo para que, depois da informação, as pessoas possam fazer escolhas melhores.

Além da Ahlma, você está tocando algum projeto novo?
Terminei de reescrever meu primeiro livro, A Moda Imita a Vida (2014). Em 2020, vai fazer 10 anos que comecei a escrevê-lo. Inclusive, uma das primeiras cidades onde lancei foi Brasília. É muito interessante ver como ele está totalmente defasado diante de tudo isso que estamos falando. Dez anos atrás, ainda não se falava sobre sustentabilidade, não tinha redes sociais como vemos hoje. A moda estava começando a experimentar o e-commerce, a produção de conteúdo. Senti que precisava reinventá-lo também e atualizá-lo. Vou relançá-lo no ano que vem.

Colaborou Hebert Madeira

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