Sujo e manchado, casaco de Kurt Cobain é leiloado por uma fortuna
Ícone da cena grunge, o vocalista do Nirvana marcou o mundo da moda com um estilo despreocupado e um toque andrógino
atualizado
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O legado deixado por Kurt Cobain (1967–1994) nos anos 1990 vai muito além da música. Considerado o principal representante da cena grunge, o cantor é lembrado pelos looks despreocupados, com direito a peças desgastadas e desapegadas de tendências. É o caso do cardigã verde-oliva usado na gravação do MTV Unplugged do Nirvana, em 1993. A peça foi leiloada por US$ 334 mil no último sábado (26/10/2019), em Nova York. Curiosamente, ela mantém algumas marcas de cigarro.
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O casaco usado pelo vocalista e guitarrista é da extinta marca Manhattan. Antes de bater o martelo, a casa de leilões Julien’s Auctions havia estimado o valor da peça entre US$ 200 mil e US$ 300 mil. Desde 2015, ela estava nas mãos do empresário Garrett Kletijan, que a adquiriu pelo preço consideravelmente menor de US$ 137,5 mil.
O valor arrematado no último sábado, em reais, ultrapassa R$ 1,3 milhão. No mesmo dia, uma guitarra Fender Mustang foi leiloada por US$ 340 mil. Kurt usou o instrumento durante a turnê do disco In Utero, realizada entre 1993 e 1994.
No dia 5 de abril de 1994, o músico tirou a própria vida, cinco meses depois da famosa gravação do MTV Unplugged, ocasião na qual ele usou o cardigã lendário. Muitos fãs consideram aquela como uma das melhores apresentações da banda. Por isso, não surpreende que o casaco tenha um valor sentimental.
Desde o show em questão, gravado em Nova York, ele nunca foi lavado e ainda preserva as manchas e queimaduras de cigarro. Trabalhado em acrílico e mohair, a casa de leilões o considera “um dos mais famosos suéteres da indústria musical”.
Com um botão a menos e dois buracos de queimadura de cigarro, outro detalhe chama atenção no casaco. Para o antigo dono, a mancha marrom em um dos bolsos seria de vômito ou chocolate, como afirmou à Rolling Stone americana. Antes do primeiro leilão, há quatro anos, a peça pertencia à babá da família Cobain, Jackie Farry. Foi um presente da própria Courtney Love após a morte de Kurt.
“Ela estava dando coisas que ele possuía a muitas pessoas que o conheciam, coisas valiosas, como blusas. Lembro que ela continuava entrando no armário do quarto e saindo com mais. Foi nessa época que ela me deu esse casaco”, relembrou Farry.
Contudo, 20 anos depois, autorizada por Courtney e pela filha, Frances Bean Cobain, Jackie levou o item à casa de leilões quando precisou de dinheiro.
Segundo a historiadora de moda Kimberly Chrisman-Campbell, o cardigã foi produzido entre 1960 e 1965, antes de o artista ter nascido. Na época, de acordo com as pesquisas da especialista, um casaco semelhante custava US$ 16. Kurt, por sua vez, teria comprado a peça em uma loja de segunda mão.
Kurt X a moda
O visual desapegado e indiferente de Kurt foi o retrato do cenário grunge no início dos anos 1990. Dono de uma abordagem anti-fashion, ele rejeitou convenções sociais e abraçou a androginia como expressão política.
Certa vez, declarou que “preferiria estar morto do que ser legal”. Mesmo assim, seu estilo se tornou um verdadeiro uniforme para os jovens daquele período.
Assim como a música, as roupas transmitiam a mensagem do artista. Já naquela época, ele chamou atenção pelo discurso contra a homofobia, o racismo e o machismo, e chegou a usar um vestido floral em apresentação ao vivo. A feminilidade, para Kurt, não era um problema.
Além dos “cardigãs de avô”, Chuck Taylors, camisas de flanela e calças jeans desgastadas são algumas das assinaturas de estilo deixadas pelo cantor. Nas camisetas, ele homenageava artistas e bandas que o inspiravam, como Daniel Johnston, Grateful Dead, Pixies e Mudhoney.
Kurt adorava o toque despojado das silhuetas oversized. A irreverência o acompanhou até na hora de trocar alianças com Courtney Love, em 1992. No casamento, o astro vestiu pijamas com estampa xadrez e também segurou um buquê.
Não há como falar do estilo do vocalista sem mencionar os icônicos óculos da marca Christian Roths no estilo Jackie Kennedy. Kurt foi fotografado várias vezes com o acessório, de lentes ovaladas e armação branca. Às vezes, ele variava a cor do mesmo modelo.
Grunge
Conhecido como o som de Seattle, o grunge foi um dos subgêneros do rock mais marcantes da década de 1990. De maneira geral, o conteúdo musical estava ligado ao desprezo dos jovens suburbanos pelo estilo de vida comercial. Nesse período, Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e Alice in Chains foram algumas das bandas mais influentes.
Marc Jacobs sintetizou bem esse espírito, na coleção grunge primavera/verão 1993 para a marca Perry Ellis, em 1992. “Na época, nós pegamos camisas de flanela que eram vendidas a US$ 2 e as fizemos em seda, transformando algo banal em fashion, mas as pessoas se ofenderam com isso”, declarou, em 2018, ao lançar uma readaptação do compilado de peças.
O alvoroço foi tanto que o estilista foi demitido do cargo de diretor criativo. Kurt Cobain e Courtney Love foram presenteados pelo próprio designer com peças da coleção. O que fizeram? Queimaram as roupas, segundo a própria Courtney. “Marc enviou a mim e a Kurt sua coleção grunge Perry Ellis. Você sabe o que fizemos com isso? Nós a queimamos. Nós éramos punks, não gostávamos desse tipo de coisa”, contou ao WWD.
Leilão
Assim como o cardigã, mais de 700 itens de lendas da música foram vendidos no leilão do último fim de semana. A guitarra turquesa de Kurt, inclusive, acompanhou uma carta assinada pela esposa, Courtney Love. No manuscrito, a roqueira diz que aquele era um dos instrumentos favoritos do cantor. Durante muitos anos, o item foi exposto no Hall da Fama do Rock and Roll.
Realizado no Hard Rock Café New York, o evento Icons & Idols: Rock ‘N’ Roll ocorreu nos dias 25 e 26 deste mês e vendeu peças de celebridades como Michael Jackson, Madonna, Jimi Hendrix, Elton John e Bob Dylan. A lista de itens do Rei do Pop arrematados inclui sapatos e artigos de figurino.
Colaborou Hebert Madeira